capítulo 11

Depois do meu trágico diálogo com a minha maldita sogra, eu perdi até a animação em jantar ou comer frutas enquanto troco umas ideias com a Maise.

Desa vez, eu não fiquei triste. Só fiquei muitíssimo revoltada, porque essa família do Chad (e até ele mesmo) se acham muito melhores que os outros. Fico me perguntando o que eles pensam dos funcionários dessa casa. Não vou mentir e negar, porque eu já vi o olhar que o pai de Chad lançou a Maise, mas ela finge não ver, mesmo percebendo.

Eles discriminam os que não estão na mesma classe social que eles. Jana, por exemplo, me tratou como se eu não fosse nada e nem ninguém. Que mulher mais sem sentimentos! Mas isso não é nenhuma novidade, olha só como ela trata o filho... Ela o desconsidera por causa de sua cegueira e por isso o mantém aqui dentro dessa casa, como se ele não merecesse sair e sentir o ar puro nas ruas.

Subi as escadas para o segundo andar de maneira apressada, e passei por um espelho o corredor, antes mesmo de chegar ao quarto de Chad. Olhei a minha imagem por um bom tempo, questionando a mim mesma, querendo saber o que há de errado comigo. Porque mesmo que eu seja "pobre" não sou feia. Me acho até bonita.

Meus cabelos são curtos e castanhos escuros, meus traços faciais são consideravelmente normais e meus olhos são esverdeados. O que faz Jana pensar que eu estou abaixo do filho dela? Não sou esse monstro.

Talvez porque esteja acostumada com os antigos relacionamentos de Chad, onde ele só vivia ao lado de supermodelos, corpos maravilhosos e torneados, perfeitos; cabelos loiros, geralmente enormes e bem-cuidados. Se para Jana a mulher perfeita para o filho dela é essa, consigo entender o porquê de eles terem sido chamados de família mais superficial da década num site claramente hater dessa família.

A influência dos Ancelotti é palpável. Eles são bem vistos na sociedade, e muito requisitados em festas chiques. Eles já eram bem famosos por causa dos campeonatos pelos quais Albert já participou, e ganharam ainda mais reconhecimento depois da abertura da editora de Chad e o relacionamento da irmã dele com um famoso piloto de fórmula um.

Eles vivem de aparências. Mesmo que Chad seja um grande babaca egocêntrico, cretino e estúpido, ele não merece viver assim. É óbvio que ele é mal visto pela sua família, e a suposta preocupação da sua mãe é só para não o largar de mão definitivamente. Eu fico me sentindo mal por isso, mas não é como se eu pudesse fazer alguma coisa.

Além do mais, Chad sabe que a família dele é assim, o que é bom. Ele está sim sendo injustiçado, mas não é inocente a respeito disso.

Passei pelo quarto dele rapidamente e notei alguns sons de conversas vindos de lá de dentro. Estão meio abafados pelo fato de a porta ser grossa, mas eu me aproximei sorrateiramente e encostei a lateral da minha cabeça na madeira, tentando entender o que está se passando lá dentro. Ou melhor... Com quem ele está conversando.

── Charlotte, eu não aguento mais. Acho melhor você voltar logo, só assim vamos conseguir dar continuidade ao nosso plano. ── ele disse num tom de voz bem sério e rude, como se estivesse bem impaciente e eu enruguei as sobrancelhas, a curiosidade foi preenchendo meu corpo.

Plano? Mas que plano?

Ele deu uma breve pausa, como se estivesse ouvindo o que a sua irmã está falando. Me afastei um pouco da porta para checar se alguém estava vindo ou estava sendo observada, e depois de comprovar que estou sozinha no corredor, me atrevi a continuar ouvindo a conversa dele. ── Eu sei que preciso ter paciência, mas você sabe que não é fácil. Está sendo difícil me manter quieto, já são dois anos, Charlotte! Dois malditos anos. Como você acha que eu estou me sentindo?

Ouvi alguns passos pesados vindo em direção à porta, e pelo susto, eu caminhei rapidamente até o meu quarto e tranquei-me lá dentro. Fiquei parada tentando regular a minha respiração, porque, de repente, senti medo de Chad me flagrar ali.

Mesmo que ele não enxergue, tem a audição bem aguçada e poderia ter me descoberto. Nesse caso, eu precisaria ouvir mais uma sequência de humilhações descontroladas direcionadas à minha pessoa e, novamente, ficar calada.

Fiquei confusa agora... Não entendi o que Chad quis dizer. Como assim ele planeja algo com a irmã dele? E o pior, há mais de dois anos? O que poderia ser isso?

Essas perguntas começaram a rondar a minha cabeça, me assustando. Mas também fiquei muito intrigada, e com uma extrema necessidade de saber o que está acontecendo, mesmo que isso não seja da minha conta.

•••

Saí do meu quarto algumas horas depois, após me certificar de que Jana já havia ido embora. Meu estômago estava se revirando na minha barriga há muitos minutos, mas eu não queria descer e dar de cara com a minha sogra e ter que ser humilhada de novo. Olhar no rosto dela depois da mesma ter se atrevido a levantar a mão para mim seria difícil e desconcertante.

Aliás, eu estou muito magoada com todos dessa família. Não estou aqui nem a um mês e já estou sendo humilhada de diversas maneiras diferentes. É uma tortura viver com os Ancelotti sendo uma simples pobretona, mas eu não vou baixar a cabeça. Isso não vai ficar assim, tenho certeza que um dia vou dar a volta por cima e eles vão pagar pelo que estão me fazendo.

── Oi, Esther. ── Maise me cumprimentou assim que me viu chegar na cozinha. A mesa já estava devidamente limpa, mas havia um prato com a comida que fora servida há alguns momentos atrás e eu estranhei. ── Creio que esteja com fome.

Ela foi extremamente gentil nessa frase e eu me assustei, pois Maise sempre demonstrou uma rigidez inacreditável ao meu respeito, então eu não estava esperando qualquer gentileza vinda dela também. Ainda é estranho.

── Eu estou sim, mas não entendi o porquê de você ter feito isso. ── ainda na defensiva eu comentei e ela me olhou de uma maneira compassiva. Notei bondade nos olhos dela, pela primeira vez em tantos (nem tantos assim) dias que estou aqui.

── Vi o que a Sra. Ancelotti fez com você. Não acho que você mereça ser tão destratada, então decidi fazer algo para te distrair. ── ela se explicou ── Sinto muito por não ter sido a melhor pessoa para você quando nos conhecemos, Esther. Mas Chad tinha me pedido para ficar de olho em você e pelo que ele me disse, eu achei que você fosse extremamente ruim, mas vejo que estava enganada.

Fiquei ainda mais surpresa (não pelo fato de Chad ter queimado meu filme para ela, porque isso ainda é pouco comparado ao que ele pode fazer. Esse homem é um saco) pela sua sinceridade, mas eu ainda estou desconfiada. Não posso confiar nela tão rápido assim.

Entretanto, mesmo estando com um pé atrás acerca do que ela me disse, eu ainda me sentei na mesa e comecei a comer, porque a minha fome com certeza é mais forte que o meu lado racional nesse momento.

── Obrigada, Maise. Pela sua gentileza e por deixar um pouco de comida para mim. ── Maise sorriu e deu de ombros, se sentando em minha frente.

── Veja, eu estou aqui há muito mais tempo que você e preciso te falar algumas coisas que talvez você ainda não saiba. ── começou falando baixo ── Sobre os pais de Chad.

── Ah, claro. Sim, pode falar.

── Eu deveria ter lhe falado sobre isso há alguns dias, mas não tive a oportunidade e talvez não tenha mais depois de hoje, por isso eu preciso te adiantar... Não tenha muitas conversas com os Ancelotti. Eles não são seus amigos, são chantagistas e extremamente tóxicos. Só pensam em dinheiro e status, mais nada. São instáveis, pessoas que você realmente não quer por perto.

Maise falou isso num tom de voz mais baixo, olhando diretamente nos meus olhos com uma expressão nervosa. Provavelmente, está com medo de perder o seu emprego, o que não é pra menos. ── Isso eu já sei, mas por que exatamente você está me dizendo isso?

── Apenas para te alertar. Vejo que sua convivência com a Sra. Ancelotti já se tornou mais difícil e você precisa entender que com essas pessoas não se fala muito. Quando eles estão brigando, gritando ou discutindo com você, só baixe a cabeça e não fale nada. Você não sabe do que eles são capazes, Esther. São uns monstros!

Eu compreendo isso e talvez ela tenha razão. Por isso mesmo, vejo que vou precisar seguir os conselhos dela, já que está aqui há muito mais tempo que eu e sabe do que está falando. Ao me ameaçar hoje, Jana não parecia estar blefando, por isso não vou brincar com as possibilidades.

Para mim, é muito difícil me manter em silêncio numa situação como essas, mas é necessário. Eu vou fazer um esforço para não acabar sofrendo as consequências pelo meu falatório exacerbado.

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