Capítulo 9 - OBRIGADO POR VOLTAR

— Suas desculpas podem enganar Joseph, mas não me enganam, o seu jogo de garota arrependida é patético. — Ela fala tirando meu braço do seu pescoço.

— O que você quer? Me diz? É o dinheiro dele? — Acabo com os jogos já que ela tirou sua máscara primeiro.

— Dinheiro? Eu amo, Joseph! — Ela afirma batendo no peito.

— O jeito como você fala com ele, tentando agradá-lo a todo custo, colocando apelidos carinhosos nele, isso é típico de mulher desesperada. — Disparo.

Ela começa a gargalhar e fala:

— Estamos ficando há muito tempo e agora que ele resolveu nos dar uma oportunidade, eu não quero ninguém no meu caminho.

— Ele deu uma oportunidade para você? Ele por acaso te pediu em namoro? — Coloco as minhas mãos na cintura.

— Não precisa, estou na casa dele cuidando da filha machucada, isso significa algo. — Ela debocha e continua: — Olha, eu queria ter uma relação legal com você, mas foi você quem começou. Eu tenho idade o suficiente para saber quando uma garotinha quer atrapalhar o meu relacionamento ou não.

Ok, essa puta me deixou sem palavras. Dessa vez ela ganhou, mas será a última. Eu sinto que ela não presta, tá escrito na cara dela “Mulher gananciosa”.

Entro pro meu quarto e bato a porta. Estou com muita raiva, não sei porque deixei ela ganhar no argumento. Eu não conheço essa mulher, portanto, não tenho nada para usar contra ela. Katarina está ao lado de fora me esperando para descer. Ela vai ficar um bom tempo lá, já que ela veio só para isso, ajudar a locomover-me. No bolso do short meu celular vibra. Mensagem do Joseph. 

📱— Desde quando você tem um namorado?

Isso faz o meu coração disparar, a raiva que eu estava sentido vai embora como um sopro.

📱— Ciúmes?  — Pergunto.

Em menos de 5 segundos ele responde com um emoji de gargalhada. Eu começo a rir daquilo e mando outra mensagem.

📱— Isso é um sim?

📱— Isso é um, por que ainda não fomos apresentados?

📱— Falta de tempo.

Ele está com ciúmes, só não quer admitir para mim, talvez não admita nem mesmo para ele. E depois de tudo que ouvi, agora tenho a certeza que ele sabe o que eu quero, e eu quero ele.

O meu pai não responde e eu começo a navegar nas redes sociais dos meus amigos que ficaram no Brasil, quando chega uma mensagem do Benjamin, desesperadora.

📱— SOCORRO!

📱— O QUE FOI? — Envio imediatamente.

📱— Estou morrendo de saudades. 😓

Começo a rir, mesmo após ter tomado um tremendo susto.

📱— Você é um idiota, sabia?

📱— Idiota com saudades de você! Eu preciso te ver, gata. 💔

📱— Confesso que te ver também me faria muito bem. ❤️

Trocamos altas mensagens, contei para ele do meu tornozelo e que a “namorada” do meu pai está de babá. Ele zombou e disse que poderia ter chamado ele para ser meu “babá” também. Ben vem aqui mais tarde me ver, eu já estou ansiosa por isso. Talvez eu coloque Ben e Joseph cara a cara. Isso seria engraçado de se ver. Por outro lado, penso que estou brincando com os sentimentos do Benjamin, e eu gosto dele, gosto muito. Contudo, não sei as intenções dele comigo. E como Joseph me disse, os homens aproveitam das mulheres, eu preciso ter cuidado. Não acredito que seja o caso do Ben, porém eu preciso analisar a situação melhor para tirar alguma conclusão.

*Batida na porta

— Vai descer ou não? — Katarina grita.

Grito de volta e digo que sim. Eu não vou ficar no quarto o tempo todo.

Estamos na sala, ela está focada em algo no telefone e eu também.

— Vou ligar e pedir o almoço, o que vocês querem comer?

Pulo ao ouvir a voz do meu pai. Eu não percebi ele aproximar de nós. Os meus neurônios pensam rápido e eu logo falo:

— A Katarina disse que vai fazer o almoço. — Sorrio para ela.

Katarina não tem reação no primeiro momento, depois ela tenta disfarçar com um sorriso forçado.

— É claro, meu bem. Eu faço o almoço. — Ela lança-me um olhar penetrante.

— Eu não sabia que você cozinhava, Katarina.

— Ela disse que adora cozinhar. — Exagero sorrindo.

O celular na mão do Joseph toca e ele sai com pressa para atender, deixando para trás o seu perfume matador. Katarina me olha e falo:

— Que foi? Eu ainda te ajudei. — Caçoo dela.

Ela não diz uma palavra e vai para cozinha.

Eu percebi Joseph apreensivo com algo. Quando estava aqui na sala, olhava toda hora para o celular. Então decido ir até o escritório dele e bato na porta, ele pede para entrar. Quando entro, ele está com o viva voz do telefone ativo, Joseph está com os dedos entrelaçados sobre a mesa, com uma cara muito preocupada ele escuta tudo que o homem na outra linha fala. Eu aproximo, sento na cadeira que fica em frente a mesa e começo a escutar também:

— Ele está nos processando, os jornais vão publicar a matéria nos sites amanhã e isso pode manchar a Vigory Cars. Isso é desfavorável para nós, o que ele diz é degradante.

Olho para o meu pai, ele está com os olhos fixos no aparelho telefônico. O homem da outra linha parece desesperado, já Joseph, parece calmo, mas preocupado ao mesmo tempo. Enquanto o rapaz fala sem parar, Joseph aperta uma tecla do telefone para deixar no mudo:

— Estou ocupado, Amber. Pode voltar outra hora?

Eu ignoro e não respondo, em vez de ir embora, levanto e dou a volta na mesa, parando logo atrás da cadeira onde ele está sentado e começo a massagear os seus ombros. Ele imediatamente relaxa.

— Joseph Brando, está me escutando?

Então ele aperta o botão novamente e diz:

— Eu vou dar um jeito nisso.

— Mas senhor, a situação é grave.

— Já disse que vou dar um jeito, Otto. — Ele desliga.

— O que aconteceu? — Pergunto ainda massageando os seus ombros e pescoço.

— Problemas, ultimamente só tenho problemas para resolver.

Levei essa última frase como indireta, será que estou incluída nesses problemas? Ignoro o meu pensamento e pergunto novamente:

— Vocês estão sendo processados porquê?

Ele respira fundo aliviando a tensão e responde:

— Por algum motivo, o desembolso de um cliente não foi confirmado pelo nosso sistema, o carro que tinha data programada para chegar não veio, e agora ele está processando a Vigory.

Penso por alguns segundos enquanto ele aprecia as minhas mãos nos seus ombros e falo:

— Já conversaram com ele e explicaram que foi erro do sistema?

— O carro era para aniversário da esposa, agora vai atrasar meses para chegar. Por esse motivo ele não quis nos ouvir.

— Bem, já ofereceram dinheiro para que ele desista  do processo?

— Dinheiro não é o problema, acontece que, agora ele quer nos foder na justiça. O desgraçado é jornalista, famoso, e um escândalo de fraude e estelionato na maior  concessionária de carros importados do país vai levar a carreira dele para o auge. — Ele desabafa.

— Mas isso é mentira! A polícia vai constatar ao analisar e ver que foi erro no sistema.

— O real problema é a exposição negativa que vamos ter na mídia. As nossas vendas podem cair pela metade se sair no noticiário. — Ele soca a mesa, me fazendo assustar.

— Matérias assim não saem na mídia muito rapidamente, ela precisa ser editada e sendo falsa ou não, averiguada. — Falo e ando para frente dele, sento na beirada da mesa.

Ele olha nos meus olhos intensamente esperando que eu conclua o que estava a proferir.

— Por que vocês, em vez de esperar, não vão até à mídia e expõe os fatos? O ideal seria uma pessoa que eles conhecem, ou seja, você. O seu rosto já apareceu nos comerciais e isso é vantajoso. Além de ser o dono da coisa toda. E não apenas isso, faça algo que o povo goste. — Sorrio ao ver os seus olhos brilharem.

— Como assim fazer algo que o povo goste? — Ele inclina o corpo para frente, ficando assim, bem próximo das minhas pernas.

— Já que o carro não chegou a tempo, e ele não quer mais, porque vocês não doam o valor do veículo para uma instituição? No final diga que são honestos, e que todos esses anos foram transparente com o consumidor, sei lá. Diga algo assim, que afirmam a sua integridade. — Termino.

Ele abre os braços como se tivesse vendo Deus na frente dele e fala:

— Você é extremamente brilhante, Amber.

Ele me olha como se não acreditasse que essa ideia saiu de mim. Relaxa... ele está me conhecendo, eu ainda vou impressioná-lo muito.

— Você ainda não viu nada! — Falo e ando em direção a porta.

— Onde vai? — Ele levanta e caminha na minha direção.

— Eu só queria saber como estava, agora que ajudei posso ir. — Minha voz é doce.

Assim que termino de falar ele me segura pela cintura, deixando o seu corpo bem colado ao meu. Eu fico sem reação, nunca vi ele assim. Levanto o meu rosto e os nossos olhos se cruzam. O jeito como ele me segura faz o meu coração acelerar. Ele não diz uma palavra e com uma mão segura o meu rosto, acariciando os meus lábios com o polegar. Esse homem exala desejo, por um momento, vejo um lampejo de paixão no seu olhar.

Ele aproxima o seu rosto do meu, eu fecho os olhos. Esperei tanto por esse momento, mas para minha surpresa, ele deixa um beijo na minha testa. Fazendo assim eu abrir os olhos em decepção. Ele continua me olhando e diz, com a sua boca quase roçando a minha:

— Obrigado por voltar!

O que ele disse quebra o meu coração. Eu não esperava por isso.

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