Capítulo 6 - QUEM DISSE NAMORADA?

Estou no táxi chegando na faculdade com um mau-humor do caralho. Minha mãe tirou a manhã para me dar lição de moral dizendo que esqueci dela e sei lá mais o quê. Só porque não trocamos mensagens há alguns dias. A faculdade aqui nos EUA é das 8:00 às 15:30, ou seja, metade do dia. Ela não para de me mandar mensagens, eu abro para responder, mas ao ver o Ben peço para que o taxista pare.

Benjamin está conversando com uma menina. Os dois estão rindo horrores, como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada. Eu não deixo de sentir uma pontada de ciúmes, é inevitável depois do que rolou ontem entre a gente.

Desço do carro e ando em direção aos dois, porém Benjamin me vê e despede rapidamente da garota. Ele vem sorridente ao meu encontro. Não deixo de notar que ele fica lindo de moletom. O sorriso que ele tem nos lábios me tira de todo estresse que tive agora devido à minha mãe e suas cobranças.

— Minha gata! — Ele diz me dando um abraço caloroso.

— Bom dia! — Falo.

Ele joga um braço por cima do meu pescoço e andamos para a faculdade.

— Posso te contar uma coisa? — Ele sussurra no meu ouvido.

Pela voz, eu já sei o que ele quer dizer.

— La vem! — Eu falo sorrindo.

— Eu fiquei a noite toda olhando aquela foto que você enviou.

— Só olhando? — Provoco.

Ele coloca as mãos no bolso do seu moletom e para na minha frente.

— Você é diferente das garotas daqui, sabia?

— Isso é bom ou ruim? — Encaro Ben.

Ele aproxima e me beija.

— Você é corajosa, linda, segura de si. — Ele sussurra.

— E você viu isso tudo em apenas 1 semana? — Zombo.

— Imagina daqui a 1 mês. — Ele fala e me beija de novo.

— Meu Deus! Vão para um motel. — Mia aproxima falando alto.

— E aí, Mia. — Benjamin e Mia apertam as mãos.

Os dois não são amigos, se conhecem através de mim, apesar de fazermos o mesmo curso, arquitetura. Entramos para sala, Ben senta ao lado do amigo, eu e Mia sentamos mais ao fundo para conversamos.

*Celular vibra — Nova mensagem do Joseph*

📱-Oi! Meu amor. Não esqueça que vamos jantar fora. Fique linda. Esteja pronta às 19:00.

Até parece que eu vou esquecer, e pode deixar que eu vou ficar deslumbrante com o vestido que eu comprei com o seu cartão, "papai".

📱 — Eu vou estar. ❤️ — Envio logo em seguida.

— Com quem está escrevendo? — Mia me cutuca.

— Meu pai, ele está só me lembrando que vamos jantar fora.

— Você está com um sorriso de orelha a orelha. — Ela brinca.

— É que depois de tantos anos longe dele. Sinto que nossa relação de pai e filha está finalmente acontecendo.

— Fico feliz por você, Amber.

— Quando eu decidi vir para os EUA eu deixei no Brasil 9 anos para trás. Lá eu tenho minha mãe, o marido dela que era bem legal. Um ex-namorado que eu não gostava muito. Eu deixei tudo para morar com um homem que eu nem sei se me considerava como filha. — Desabafo.

Mia me olha com atenção e escuta cada palavra sair da minha boca.

— Você foi corajosa, eu no seu lugar não sei se teria coragem. — Ela diz.

— Eu nasci aqui, porém a minha vida ficou no Brasil. Eu tô feliz porque, apesar de ser ausente, ele está tentando ser pai.

— Percebe que agora você tem só ele como família perto? — Mia pergunta.

Eu ainda não parei para perceber. Eu só tenho Joseph por perto, eu só tenho ele como família para poder contar. Um homem que eu conheço só alguns dias, agora é a pessoa mais importante que eu tenho perto de mim.

MAIS TARDE, 19:10 DA NOITE…

Olho no espelho a última vez e confiro meu batom. Cabelo pranchado e um vestido rosa soltinho. Eu não posso perder esse momento.

Tiro uma selfie e coloco o celular na bolsa. Pelo reflexo do espelho, vejo Joseph aparecer na porta do meu quarto. Ele me olha dos pés a cabeça antes de falar:

— Nossa!… Você está linda.

— Obrigada! Só preciso colocar o salto.

— Te espero no carro. — Ele diz e sai.

Meu pai está me esperando do lado de fora do carro e abre a porta do passageiro para que eu entre. Isso me impressiona, jamais alguém abriu a porta do carro para que eu entrasse. Ele é um perfeito cavalheiro. Joseph entra no carro e me dá uma breve olhada. Ele não diz nada, mas só os seus olhos já falam tudo.

— Qual restaurante estamos indo? Eu pergunto.

— Você vai ver, estamos quase lá.

Cruzo minhas pernas e pego sua mão, mas dessa vez, vou além, puxo para minhas pernas. Ele me olha e sorri. Seu polegar faz carinho na minha pele enquanto eu a seguro por cima. Sentir sua mão grande na minha pele faz com que meu corpo comece a queimar.

Chegamos no local, o restaurante é magnífico, as pessoas são lindas e muito bem vestidas. Ficamos com uma visão privilegiada da noite no andar de cima. Meu pai está lindo vestindo um terno preto. Ele pede para que eu sente e se senta logo a minha frente. Um garçom aproxima e ele pede um champanhe e 3 taças.

Que porra é essa de três taças se somos apenas eu e ele?! Terá uma terceira pessoa? Um amigo, não sei?

Mantenho a calma e pergunto:

— Você convidou outra pessoa?

Como uma maldição, uma mulher de vestido branco decotado aproxima da nossa mesa e beija a boca do Joseph. Meu sangue congela.

— Oi, querido. Demorei? — Ela sorri para Joseph me ignorando.

— Você chegou bem na hora. — Ele levanta de puxa a cadeira para ela sentar.

Viro os olhos em repulsa. Quem é essa puta?

— E essa menina linda, é sua filha adotiva? — Ela sorri para mim.

Eu dou um sorriso falso em retribuição.

— Essa é Amber, minha filha, eu disse para você hoje. — Ele fala enchendo a taça da moça de champanhe.

— Meu nome é Katarina. É um prazer conhecê-la, Amber. — Ela estica as mãos para segurar a minha.

— O prazer é todo meu, Katarina. — Seguro a mão da Katarina.

O garçom traz a comida que pedimos e os dois falam sobre trabalho. Eu estou calada tentando evitar chamar atenção. Claramente esse jantar foi para ela e não para nós dois. Meu pai me olha algumas vezes tentando entender o meu silêncio, já Katarina não para de sorrir para ele. Às vezes os dois trocam carinhos com as mãos sobre a mesa, e eu apenas observo.

— Está gostando da comida, Amber? — Meu pai pergunta.

—Sim. A comida está ótima! — Respondo e volto a comer.

— Ela é uma menina muito calada, Joseph. — Katarina fala.

— Eu NÃO sou uma menina! — Falo um pouco pretensiosa.

Ela tosse assustada com a minha resposta. Joseph me observa, eu não sei decifrar o seu olhar.

— De onde vocês se conhecem? — Pergunto tentando cortar o clima tenso que deixei.

— Eu trabalho na empresa do seu pai. — Ela sorri para ele.

Então ela é aquela típica mulher que dá em cima do CEO, seu chefe. Ela só não contava comigo no meio dessa linda história de amor.

— Entendo, e desde quando vocês estão saindo? Continuo com perguntas.

— É a primeira vez que convido Katarina para jantar. — Meu pai responde.

— Seu pai trabalha muito, mas por incrível que pareça, hoje ele arrumou algum tempo, né, querido? — Ela pisca para ele.

- Acho que devo te agradecer, Amber. — Katarina me olha.

— Por quê?

— Sua vinda fez com que ele tomasse coragem para esse momento. — Ela fala abrindo um grande sorriso.

— Coragem para o quê? — Pergunto assustada.

Joseph segura minha mão que está sobre a mesa e fala: — Eu prometi que pediria ela em namoro hoje.

Meu mundo parou! Puxo minha mão que ele segura bruscamente. Ele penetra seus olhos nos meus buscando alguma explicação para isso. Katarina fala algo, eu a ignoro e ele faz o mesmo, seus olhos continuam em mim. De repente não sinto mais fome, meu estômago embrulha, eu só quero sair daqui.

— Querido, o melhor momento seria agora, não acha? Ela coloca os braços no ombro dele.

— Você tá louca para namorar seu chefe gato e rico, né? — Vomito essas palavras.

O pessoal que está mais próximo da nossa mesa nos olham sutilmente.

— Desculpe, suponho que não tenha entendido. O que disse? — Ela pergunta assustada.

— Eu vou embora! — Falo e levanto da mesa.

— Espere, Amber!

Começo a andar e posso ouvir ele vir atrás de mim...

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