Esclarecedor

Caille

Chego na casa de Tyler e Lucy e sou muito bem recebido, como sempre. Brinco com as crianças por um tempo e elas sugam até a minha alma com toda a energia que possuem. Grace é uma menina doce e gentil, Hope já é mais obstinada e mandona, Elliot apesar de ser quatro anos mais novo do que as irmãs, é um garoto firme e faz de tudo para protegê-las.

–Lucy vai fazer chocolate quente, você aceita? –Tyler entra no quarto assim que consigo finalmente fazer Elliot dormir.

–Sim, por favor. –Beijo a testa do garoto e saio do quarto.

–Ele gosta muito de você. –Tyler diz.

–Ele gosta de todo mundo, não é nada como você. –Provoco.

–Eu nem tenho argumentos contra isso. –Ele ri.

Caminhamos até a cozinha e nos sentamos nas cadeiras em frente a ilha, Lucy nos aguarda com canecas de chocolate quente.

–Você ainda usa essa xícara rosa? –Olho para as mãos enormes de Tyler segurando a xícara delicada em formato de coração.

–Ei! Ele ama essa xícara. –Lucy defende. –Fui eu quem dei pra ele, ela marca...

–O começo da história de vocês. –Interrompo concluindo a frase dela. –Eu já ouvi essa história vezes demais. –Resmungo.

–Você resmunga igualzinho ao Ty, ninguém seria capaz de dizer que não são da mesma família. –Lucy ri.

–E então? Sobre a garota que me falava mais cedo... Está pensando em insistir? –Tyler pergunta.

–Eu ainda não sei. Quero dizer, você me conhece... –Olho para Lucy, incerto sobre terminar a frase.

–Ah, claro... Papo de homens. Já estou saindo. –Ela beija meu rosto e os lábios do marido e sai. –Boa noite, amo vocês. –Diz ao caminho.

–Você dizia? –Tyler me encoraja a continuar.

–Sabe que eu mal consigo ficar com a mesma mulher por mais de três noites, parece que tudo fica ... Desinteressante. O beijo perde a graça, o sexo perde a graça e de repente a companhia começa a me irritar.

–Eu era exatamente assim, até conhecer Lucy. Com ela nada nunca perdeu a graça e eu sei que isto está soando "piegas", mas é a verdade.

–Só você no mundo inteiro ainda usa essa palavra. –Brinco. –Enfim, pra mim não faz sentindo insistir se já sei o que vai acontecer. –Dou de ombros.

–Bem, eu sinceramente acho que você deveria pensar em como vai ser a sua vida daqui por diante, já é um homem de quase trinta anos, com uma empresa gigantesca e ainda em fase de crescimento e uma herança bem gorda que não tem para quem deixar.

–Porrä, Morgan. Está falando sério? –Deixo escapar um riso. –Você se casou aos trinta e quatro anos e nem foi por amor, agora está me aconselhando a ter filhos?

–A minha vida era diferente, Cai. Eu matava pessoas profissionalmente, como eu poderia pensar em amor? Tudo o que aconteceu depois de Lucy foi... –Ele procura a expressão certa. –Presente do destino. Resumindo, talvez você não precise estar loucamente apaixonado por alguém, só disposto a fazer dar certo.

–Você pode ter razão... Mas pensar em ter uma família me assusta. Você sabe que eu não tive uma, não uma de sangue, pelo menos. Éramos só Richard e eu e até ele me deixou. E se eu não for bom nisso?

–Você é bom em tudo, garoto! –Ele me dá um soco leve no ombro. –Pare de pensar muito nisso, okay? Você só viu a garota cantar uma vez e já está pensando em criar uma família com ela?!

–Não, não com ela. Com qualquer uma... Ela só mexeu com minha cabeça, mas estou realmente pensativo quanto à constituir família. Josh também me cobra isso e sinceramente é muito melhor para os negócios. CEOs solteiros depois dos trinta não passam uma imagem de seriedade e formalidade.

–Você só pensa em trabalho, garoto. A culpa é minha... Exigi demais de você. –Tyler revira os olhos.

–É o que me faz feliz. –Dou de ombros. –Eu não sou da máfia, mas se fosse, acho que consideraria comprar uma esposa.

–Quem sou eu pra falar contra? –Ty responde.

–Acha que seria uma boa ideia? –Pergunto realmente considerando.

–Eu comprei a minha esposa e hoje sou muito feliz com ela, a mesma coisa foi com Charles e Judith, só que nem todo mundo tem a mesma sorte. E é impossível pra você considerar essa ideia, jamais permitiriam alguém de fora participar de um leilão.

–Eu sou um CEO, senhor Morgan. Não faço parte de leilões, eu redijo contratos. –Pisco para ele, brincando.

–Veja bem o que você vai fazer, moleque. Quem brinca com fogo, acaba se queimando. –Alerta.

Josh estava certo, conversar com Tyler é sempre esclarecedor, eu nunca tinha pensado nessa ideia de contrato de casamento, pra mim isso era coisa de livros e filmes e não da vida real... Mas parece bem real pra mim agora, na verdade parece a ideia perfeita pra alguém como eu. Eu não sou o tipo de homem que se apega, pelo menos não até hoje... Talvez eu tenha traumas por ver a forma como minha mãe abandonou meu pai e o tanto que ele sofreu, o que o fez nos abandonar logo em seguida. Amor é uma das coisas mais arriscadas das quais já ouvi falar, você se doa, se entrega e a qualquer momento pode ser descartado junto com todas as coisas belas que separou para quem não pôde te retribuir.

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