Ciúme

Lolla

–Então você está me dizendo que um cara rico vai te levar para jantar na quinta feira? –Debby me olha incrédula.

–Toda vez que você fala "cara rico" me sinto uma interesseira. –Murmuro.

–Amiga, desculpa. Mas isso é perfeito. –Sorri empolgada. –Ele é bonito?

–Bonito é um adjetivo muito fraco...

–Uau! Eloísa, eu estou mais entusiasmada que você.

–É porque a forma como a gente se conheceu não foi muito convencional.

–E daí, amiga? Todo mundo toma um porre de vez em quando.

Contei para Debby que conheci Caille num barzinho, que estava bêbada e que ele me ajudou, ninguém sabe sobre eu cantar na boate além de meu irmão e claro, Caille.

Hoje o movimento na Food Happy está bem agitado por se tratar de uma terça feira, muitos trabalhadores da região vem almoçar aqui, embora em sua maioria tenham dinheiro para comer num lugar mais refinado. Por volta das duas horas da tarde, dois clientes altos e em ternos de grife se aproximam, por causa do toldo na entrada, não posso ver seus rostos. Debby me deixa atendê-los, já que geralmente clientes ricos deixam gorjetas generosas. Quando os rapazes entram, reconheço de cara o moreno bonito e alto em um terno azul marinho finíssimo. "Madre de Dios".

–Boa tarde, posso ajudá-los? –Pergunto, corando.

–Ora, ora... Se não é a senhorita Moe. –Caille sorri para mim. –Este é o meu amigo Josh. –Ele nos apresenta e eu aceno levemente com a cabeça.

–Já sabem o que vão pedir? –Pergunto de forma profissional.

–Eu quero um lanche vegano, por gentileza. Para meu amigo Caille, alguma coisa com muito bacon. –Josh sorri.

–E para beber?

–Dois sucos de abacaxi. –Josh acrescenta enquanto Caille me devora com os olhos.

Volto com os pedidos para a cozinha e Debby cola em mim na mesma hora, ávida por informações.

–Notei que o gostoso não tira os olhos de você. –Ela sussurra. –Era desse cara que eu estava falando aquele dia.

–Que dia?

–O dia que falei sobre um homem lindo chegar logo depois que você saiu, lembra?

–Lembro. –Murmuro. –Esse é o cara Debby.

–Espera, o cara? O rico que vai te levar pra jantar? –Debby se empolga.

–Shhh, fale baixo. Sim, é ele.

–Puta merda, Eloísa! Você tem muita sorte.

Os pedidos ficam prontos e eu sirvo a mesa dos dois cavalheiros. Mal consigo olha-los nos olhos, especialmente Caille. Olhar para ele me faz lembrar de todos os pensamentos pecaminosos que tive durante a noite por causa daquele beijo, aquelas mãos e aqueles músculos... "Mierda"! Acorde, Eloísa!

–Tudo certo para esta noite, senhorita? –Caille me pergunta enquanto sirvo a bebida.

–Sim. –Evito uma conversa.

–Preciso do endereço da sua faculdade. Te buscarei lá.

–O quê? –Arregalo os olhos, ele não pode me buscar lá, não na frente de todos. –Podemos marcar um ponto de encontro. –Sugiro.

–Não vou deixá-la andar sozinha tarde da noite, se não quer me dar o endereço eu posso descobrir.

–Me dê seu número que eu mando por mensagem. –Reviro os olhos, deixo meu celular com ele e saio para atender outra mesa.

Caille não pode ir me buscar na faculdade, todos os meus amigos verão e eu terei que ficar me explicando, odeio isso.

Respiro fundo e continuo meu trabalho, ao sair, os dois amigos deixam uma gorjeta extravagante e eu não me despeço.

Os minutos voam e logo as horas também passam, quando menos espero já estou na última aula da grade de hoje e em poucos minutos verei Caille outra vez. A verdade é que estou ansiosa para vê-lo e mesmo que eu não admita, estou torcendo para que me beije de novo... Por causa disso, me arrumei um pouco de mais antes de vir pra cá.

–Está bonita, miss México. Vai sair? –Brad me pergunta.

–Sim, vou sair com um amigo. –Era isso o que eu queria evitar, comentários.

–Numa terça-feira? Deve ser um amigo muito importante. –Nem disfarça o ciúme.

–Na verdade, não. É que estou em dívida com ele.

–Entendi. Divirta-se com seu amigo "não tão importante". –Resmunga.

A aula termina e antes de sair, corro até o banheiro para passar desodorante e perfume já que a expectativa de rever o senhor Morgan me fez suar. Olho no espelho e me dou por satisfeita, maquiagem leve, vestido preto justo e meias sete oitavos, coturnos e um sobretudo creme. Estou bonita, eu acho.

–Posso acompanhá-la até o carro? –Brad pergunta me estendendo o braço.

–É claro.

Aguardamos no estacionamento da faculdade e Brad me abraça por vezes demais, o que já está me deixando irritada. Logo um carro luxuoso estaciona bem na nossa frente e o vidro escuro desce devagar.

–Pronta para ir, senhorita? –Caille pergunta olhando de mim para a mão de Brad na minha cintura.

–Estou pronta. –Deixo um beijo na bochecha de Brad que encara toda a situação com uma expressão que desconheço.

Caille desce do carro e abre a porta do carona para mim, entro e coloco o cinto, vejo-o contornar o carro com graciosidade e tomar seu lugar ao volante. Nunca me imaginei andar num carro tão bonito.

–Está com fome, Lolla? –Se dirige a mim depois de dar a partida.

–Sinceramente, estou.

–Vou levá-la para jantar primeiro. O que gosta de comer?

–Não precisa se preocupar. –Não quero dar mais gastos do que já dei.

–Eu escolho, então. –Ele faz uma pausa e quando paramos no farol, me encara. –Aquele era o seu namorado?

–Brad? –Quase rio, por mais que ele queira, nunca vi nada em Brad além de amizade. –Não, é só um amigo. Um ótimo amigo.

–Não foi o que pareceu. Ele estava próximo de mais. –Ele murmura.

–O que foi, Caille? Por acaso está com ciúme? –Brinco.

–Estou. –Ele responde e não parece estar brincando. –Gosta de frutos do mar? –Me pergunta sorrindo e eu apenas confirmo com a cabeça.

Pelos céus, que humor mais instável. Como ele pode ter ciúme de alguém que mal conhece, ou ele só disse isso para me deixar pensando? Se essa foi a intenção, deu certo ...

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