Desabafar

Caille

–Ah, querido! É sempre um prazer tê-lo em casa. Esperamos que não demore tanto à voltar, como da última vez. –Lucy me abraça ao se despedir.

–Sabe que pode me ligar para qualquer coisa, não sabe garoto? –Tyler aperta minha mão e eu o puxo para um abraço. –E também sabe que eu odeio ser abraçado. –Ele resmunga, mas mesmo assim retribui.

–Obrigado, senhor e senhora Morgan. Com certeza eu voltarei em breve. –Sorrio para eles e saio.

Me despedir da minha família é sempre difícil, eu os amo mais que tudo nesse mundo e se não fosse por eles, só Deus sabe qual teria sido meu destino. Mas, viver no meu próprio mundo foi o melhor para eles e para mim, estava na hora de seguir com minha própria vida. Há quatro anos atrás quando decidi ir embora de Nova York, sabia que no momento em que eu precisasse voltar, seria bem vindo. Me sinto um homem extraordinário só pelo fato de Tyler ter orgulho de mim, esse era o maior objetivo. Seis línguas, quatro tipos de lutas diferentes, cursos de tiro e auto defesa, culinária, etiqueta, duas faculdades e agora estou cursando uma pós, ele definitivamente investiu muito em mim e tudo que fiz foi para retribuí-lo, embora eu tenha ganhado muito mais que ele. Foram dias bem cansativos, transitando de um curso para outro e conciliando com uma boa alimentação e academia, mas eu não reclamava, quantos jovens gostariam de poder apenas estudar e não podem...

******

Durante o vôo de volta, analiso alguns dados da empresa no meu notebook, respondo emails, confiro extratos e só então chego em Chicago.

De volta à minha cidade, pego meu carro no estacionamento do aeroporto e dirijo até meu apartamento na South Shore. Finalmente em casa! Por mais que eu ame visitar meu irmão, o sossego do meu lar é tudo o que preciso.

Coloco a mala num canto do quarto e admiro a vista pelos janelões da minha cobertura, enquanto meus olhos passeiam pela paisagem, minha mente divaga em devaneios..

***South Shore - Chicago, Illinois.***

Hoje é domingo e ainda são sete horas da noite, estou entediado e faminto, costumo comer de três em três horas, refeições saudáveis e em porções generosas, mas hoje eu adoraria comer uma boa e velha comida de bar. Buffalo Wings, Costelinha assada, Onion Rings e coisas do tipo, conheço um lugar que serve essas "iguarias" e posso matar dois coelhos com uma cajadada, já que se trata do mesmo lugar onde a cantora se apresenta e eu gostaria muito de vê-la.

Depois de um banho bem quente, já que os invernos em Chicago são bem rigorosos, me arrumo para ir à tão maravilhosa boate Rainbow, pego as chaves do carro, carteira e saio. No elevador, me pergunto se estou fazendo a coisa certa... A garota me deu um baita fora e mesmo assim estou indo lá para vê-la, claro que também tem a comida, mas eu poderia comer as mesmas coisas em qualquer outro bar de esquina. O fato é que ela me instigou de alguma maneira, me deixou curioso, perplexo e ávido por mais informações, quero saber quem ela é, quantos anos tem e porque decidiu trabalhar numa boate se obviamente não combina em nada com ela, é visível.

Chego na Rainbow e o manobrista leva meu carro para o estacionamento com certo entusiasmo, não é todo dia que se tem a oportunidade de dirigir uma Mercedes Maybach Exelero... É extravagante, eu sei. Mas de que serve o dinheiro se não podemos usufruir dele?

***Mercedes Maybach Exelero***

Entro e peço ao garçom todos os pratos de que estou com vontade, uma cerveja gelada e me sento em frente ao balcão, bem próximo ao palco.

–Voltou para ver a sereia? –O barman daquele mesmo dia questiona.

–Está tão na cara assim?

–Só porque o senhor sentou-se bem colado ao palco. –Ele sorri.

–Touché, colega. –Sorrio de volta.

Lolla já está no palco cantando, minha atenção se volta para ela, vestido azul escuro, colado ao corpo e longo no estilo sereia, cabelos longos e soltos cheios de ondas, olhos marcados de preto, como sempre, o que faz destacar a íris azul como o oceano, lábios vermelhos e bem delineados, voz tal qual um rouxinol... Porrä, todo o meu corpo reage à ela da forma mais luxuriosa possível.

Depois de assistir ao espetáculo, espero a garota aparecer no bar como fez da outra vez e para minha sorte, em poucos minutos ela se senta num dos bancos próximos a mim. O garçom lhe entrega uma Coca-Cola, mas ela recusa.

–Não, Eddie. Eu quero vodka. –Sua voz soa irritada.

O garçom serve o primeiro copo e ela vira de uma vez, observo tudo do meu lugar, dois copos, três copos... O que essa garota pretende? Ficar bêbada num lugar onde obviamente a maioria dos caras é louco para comê-la?

–Posso me sentar? –Pergunto indicando a cadeira ao lado dela.

–O local é público. –Ironiza.

–Sou Caille Morgan, prazer. –Me apresento de novo.

–Eu sei, me lembro. –Ela diz e vira o quinto copo de vodka.

–Você está bem, senhorita? Não deviria beber tanto assim...

–E você, quem é para controlar o quanto eu bebo? –Rebate.

–Você é sempre tão malcriada? –Começo a me irritar um pouco.

–Só porque já sei sua intenção. –Ela me olha de cima à baixo, julgando.

–Minha intenção? –Um riso escapa pelos meus lábios. –Acha que todos os homens da face da terra querem você? –Desdenho, mas sim, eu quero. –Está claro que é impossível uma conversa civilizada com a senhorita. Tenha uma boa noite. –Desisto.

–Espera, me desculpe. –Ela segura meu pulso quando me levanto. –É um péssimo dia.

–Quer falar sobre? –Pergunto. –Sou um bom ouvinte.

–Dizem que é bom desabafar com estranhos. –A loira sorri. –Eu só preciso ir ao banheiro primeiro.

Droga, depois de tantos copos de vodka, levantar não vai ser uma boa ideia... Dito e feito! Assim que se levanta a garota sente a tontura do álcool atingi-la e eu preciso segurar seus ombros para que não caia.

–Quer que eu te acompanhe? –Ofereço.

–Não, tudo bem. Consigo ir sozinha.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***