Barreira

Lolla

Essa semana passou voando, hoje já é sexta feira de novo e tudo o que fiz foi trabalhar, estudar e afastar da minha mente o rapaz que apareceu na boate há uma semana atrás. Alguma coisa no modo como ele me olhava cantar, prendeu meus olhos aos dele. Óbvio que ele se aproximaria, eu fiz parecer que estava dando mole... Mas, são águas passadas e eu espero de todo o meu coração que o tal rapaz não apareça na boate mais uma vez.

–Está distante... Está tudo bem? –Brad me pergunta.

–Sim, estou. Essa semana foi cansativa.

–E que tal sairmos pra relaxar, tomar uma cerveja... –Os olhos dele brilham.

–Adoraria, mas estou realmente cansada. –A verdade é que ainda vou trabalhar na boate, mas ninguém aqui sabe disso.

–Okay, me deixa pelo menos pagar o seu jantar. Não pode comer apenas uma barrinha de cereal.

*Brad Lancaster*

Brad se levanta, vai até a cantina da faculdade e pede alguma coisa, logo em seguida ele volta com uma bandeja com lanches de frango e suco que imagino ser de laranja.

–Sei que você ama suco de laranja. –Ele me entrega tudo e sorri.

–Sim, é o meu preferido, obrigada.

Todos os meus colegas de faculdade são legais e alguns deles já deram em cima de mim várias vezes, mas Brad é diferente, acho que ele realmente gosta de mim, isso me preocupa. Cindy também é uma excelente amiga e ao contrário de Debby não tenta me forçar a arrumar um namorado, sinto falta dela, está duas semanas afastada por causas médicas.

–Vou com você até seu carro, se é que podemos chamar aquilo de carro. –Brad ri e me acompanha até o estacionamento da faculdade.

–Nem todo mundo tem um papai rico pra bancar os luxos, não é? –Provoco.

–Você poderia ter um sogro rico se quisesse, mas não me dá nenhuma chance. –Ele faz beicinho.

–Você é impossível, Brad. –Entro no carro e fecho a porta, desço o vidro e sopro um beijo. –Se cuida e até segunda.

–Até segunda. -Ele acena e eu saio.

Eu não sei qual é o meu problema, Brad é um cara incrível, alto, olhos claros, fofo, mas mesmo que eu quisesse, nada nele me atrai e eu não consigo quebrar essa barreira.

Chego na Rainbow e entro pelos fundos, no camarim, capricho na maquiagem e escolho um vestido vermelho justo e longo, com decote profundo e costas nuas, deixo o cabelo semi preso com mechas soltas no rosto. Me olho no espelho e estou realmente mais arrumada que o normal e no fundo eu sei que é por causa do rapaz moreno e musculoso da semana passada, meu subconsciente me perturba com a ideia dele aparecer aqui esta noite e me cobra uma performance perfeita e uma aparência mais perfeita ainda.

–Você entra no palco em trinta segundos, Lolla. –O assistente me avisa.

Me dirijo às coxias e aguardo ser anunciada, respiro fundo e ouço "Lolla, a sereia da Rainbow" dito em alto, bom e empolgado tom. Me posiciono no palco e olho todo o salão, nenhum sinal do rapaz... Começo a cantar Earned It, todos os olhares se voltam para mim e com a melodia sexy as garotas de programa aproveitam para se insinuar para a clientela.

Eu realmente odeio trabalhar aqui, amo cantar, faz parte de mim, mas esse ambiente não é nem de longe o lugar onde eu gostaria de me apresentar se pudesse escolher.

A noite termina e nenhum sinal do rapaz bonito, melhor assim... Não sei porque fiquei tão ansiosa por vê-lo, eu nem sei quem ele é e fui absurdamente grossa com ele, já estou cansada de tantos homens me pararem para perguntar quanto eu cobro por uma noite. Hoje mesmo foram uns quatro e eu fui tão grossa com eles quanto com o charmoso rapaz. Droga, eu tinha esperança em vê-lo, tão ingênua...

Chego em casa e Hector está no sofá assistindo alguma coisa na tv, caminho até a cozinha e bebo um gole de suco.

–Toda vez que você vai pra essa boate uma parte de mim morre. –Hector diz alto da sala.

–Está para nascer alguém mais dramático que você. –Respondo voltando para a sala.

–Você não precisa disso, Eloísa. A gente dá um jeito de conciliar tudo.

–Hector, nós dois temos salários baixos, a faculdade é muito cara e eu não vou abrir mão dela, ainda temos o aluguel e as prestações do carro. Nós não conseguiríamos conciliar tudo.

–Eu sinto tanto em não poder cuidar de você "hermana". –Os olhos dele entristecem.

–Você cuida, "hermano". Gracias. –Beijo o rosto dele e fujo para o meu quarto.

Hector é um excelente irmão, ele faz de tudo por mim, cuidou de mim depois que nossos pais... Ele nunca me deixou faltar nada e por isso hoje trabalho tanto, ele também tem direito de ser livre para cuidar de si mesmo. Hector se culpa por não estar no dia em que tudo aconteceu, eu tinha seis anos e ele quinze. Neste dia meu irmão tinha ido dormir na casa de uns colegas da escola e eu fiquei sozinha com meus pais, ele não tinha como saber e se estivesse presente em casa, talvez eu estivesse sozinha no mundo agora...

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