Capítulo 9. Funeral

O clima estava um frio suportável, era mês de novembro, as árvores estavam secas e sem folhagens, somado a falta de movimento nas ruas, parecia uma cidade deserta. Gina vestia um casaco preto, todo fechado na frente, justo até a cintura e com um gôde leve, que ia até os joelhos, com pele de arminho na gola e na barra. A bota longa, preta, não deixava ver o que tinha por baixo.

Ela ficou junto com Jordan ao lado do caixão e só dois primos do falecido compareceram, representando a família e sentaram-se ao lado de Gina e Jordan. Conforme as pessoas chegavam, cumprimentavam-na com apenas um aceno de cabeça e passavam pelo caixão para ver o corpo. A maioria, para se certificar de que realmente estava livre daquele monstro.

Foi uma longa noite, os primos foram embora assim que a romaria para observar o corpo, acabou. Entregaram-lhe um convite da família para compartilharem o luto, um costume inteiramente deles e saíram.

O enterro ocorreu pela manhã, após a visita dos mais ilustres políticos, mafiosos e empresários, associados ao finado e que fizeram questão de falar com Gina.

Ela agiu como a perfeita filha de mafioso que era, mantendo a cabeça baixa e olhando para o chão. Jordan se aproveitou disso para assumir o controle e fazer seu trabalho, entrando em contato com todos aqueles homens importantes, que agora estavam doidos para abocanhar as finanças do Don e ocupar seu lugar na cadeia de comando.

Apenas uma vez, percebeu a postura dela ficar mais rígida e o homem que veio dar-lhe os pêsames, olhou para ela com desprezo e desdenhou dele. Era o assessor direto do mafioso e todos contavam que seria ele a assumir todos os negócios. Tudo havia parado com a morte do Don, mas assim que ele descesse ao túmulo, correriam para pegar seu quinhão.

Assim que tudo terminou e foram embora, Charlie se aproximou e informou:

— Ele está lhe esperando, senhora.

— Então vamos, rápido. Contactou elas e fez as malas?

— Sim. — respondeu Charlie.

— Ótimo. Você vai ou fica, Jordan?

— Onde você for, eu vou.

Entraram no carro diplomata, todo preto e ele aproveitou para perguntar:

— O que você planejou que não me falou?

— Vamos ao escritório do advogado e depois iremos para nossa casa de campo, mais afastada de Moscou. Fica próxima a mansão da Família e recebemos um convite para a festa de luto. É uma tradição deles.

— Entendi. Terei que providenciar roupas.

— Se quiser, posso fazer isso, senhor.

— Se não for dar muito trabalho para você, não estou acostumado com as festas da Família.

— Sem problemas, senhor. Chegamos.

O escritório era no mesmo bairro do apartamento de Gina e enquanto ela falava com o advogado, Charlie pegaria outro carro e a bagagem deles. O advogado a recebeu com educação, mas sem muita deferência, mostrando o pouco caso que faziam das mulheres.

— Sentem-se por favor.

— Obrigada. Podemos resolver tudo hoje? Preciso ir embora logo.

— Sim. Aqui estão os documentos com os negócios do seu pai e os documentos que precisa assinar. Não há necessidade de inventário, porque ele deixou um testamento e a não ser alguns negócios da empresa de entretenimentos, tudo ficou para a senhora.

— Só me interessa mesmo, os negócios da minha mãe, que eram administrados por ele até que morresse.

— Bem, esses negócios lhe darão muito trabalho e tivemos uma oferta muito boa para eles.

Gina só não sorriu, porque estava interpretando um papel e precisava manter a postura séria. Mas o homem era muito ridículo se imaginava que ela não percebeu que ele falou recebemos, quando tudo que era da sua mãe, agora era dela e de mais ninguém.

A mãe de Gina recebeu uma herança de família, terras antigas, que o pai dela dividiu entre os filhos e no caso da mãe de Gina, o marido ficou administrando, pois as mulheres não trabalhavam e nem cuidavam dos negócios. A condição de Gina para aceitar se casar com quem seu pai escolhesse, foi que ele deixasse tudo aos cuidados dela e não de seu marido.

O fato do advogado ter um comprador, significava que o negócio era importante para mais alguém, mas ela não aceitaria. Não teve tempo de falar nada, pois Jordan falou primeiro:

— Onde são e do que se trata?

— Bem, senhor, é uma região bem remota e distante, na Sibéria, realmente não vale a pena.

— Nada disso interessa, é meu e não está à venda, me dê os documentos e não se esqueça de nada, por favor.

— A senhora não quer nem ouvir a oferta?

— Não, estou com pressa.

Jordan se aproximou e falou próximo ao seu ouvido:

— Tem certeza que quer ficar com um negócio na Sibéria?

Ela fingiu que não escutou, passou para ele as pastas dos imóveis e firmas de seu pai e examinou as escrituras e registros da herança de sua mãe.

— Obrigada, passar bem, doutor.

Ela assinou o recebimento e foi embora, sabia tudo o que estava ali de cor e salteado, pois era o que queria desde a primeira vez que visitou o lugar.

Sibéria! Ninguém a impediria de fazer o que queria fazer.

Ao saírem do escritório, Jordan a interpelou:

— O que pretende fazer com tudo isso? Você não trabalha, não entende de negócios, não seria melhor desfazer de tudo?

— Por enquanto, tudo o que eu quero é sair daqui, vamos embora?

— Sim, vamos. Você deve estar exausta.

— Sim, estou, vamos pegar um helicóptero até a casa. Lá poderei descansar sossegada.

— Não vi ninguém lhe perturbando aqui, do que está com medo? Parece que está fugindo.

— E estou. Eles vão vir atrás de mim igual abelha no mel. Não quero que me achem.

— Mas este imóvel para onde você vai não é conhecido?

— Não, era da minha mãe. Meu pai deu a ela quando lhe deu o primeiro filho.

— Não sabia que você tinha um irmão, onde ele está?

— Tive dois, mas não suportaram o sadismo e a luxúria de meu pai. Só sobrou eu.

— Se ele era assim, como sobreviveu?

— Sou mulher.

Isso sim, era novidade para ele. Nem seu pessoal sabia dessa história.

Chegaram no heliporto e logo estavam chegando a casa de campo, que não era uma casinha, mas uma mansão estilo colonial, cercada de jardins gramados e muito bem tratados.

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