O Gênio Dela

Maria resolveu ficar de "tocaia" até que pudesse conversar com Francisco.

Era uma tremenda falta de respeito que depois dos beijos que trocaram, simplesmente a evitava como se não houvesse acontecido nada.

Sabia que talvez ficou chateado com a mensagem equivocada que mandou para ele, mas ainda assim, não precisava ter sumido sem explicação.

Encostou-se numa árvore, abrigada do sol, até que ele apareceu de longe numa moto.

Para que não fugisse, Maria ficou no caminho e pôs as mãos na cintura, até que parasse.

Reteve o fôlego, ao vê-lo numa jaqueta jeans e óculos escuros. Lindo demais!

Ele parou a moto e estacionou.

Afastou os óculos e olhando-a friamente, com as mãos nos bolsos da calça jeans, perguntou:

—Algum problema com os animais, Maria?

Ela percebeu imediatamente que Francisco estava ressentido. Sem rodeios, perguntou:

— Por que está fugindo de mim?

O desvio do olhar dele confirmou suas suspeitas.

Ele fixou os olhos em algum ponto na paisagem verde e respondeu, após um longo suspiro:

— Maria, o que houve ontem não deve mais acontecer entre nós. Cometi um erro e não vai mais acontecer.

— Não entendo... Você não está percebendo o que está acontecendo? Estou me sentindo atraída por você e pensei que estava sendo correspondida.

Os olhos verdes se voltaram para ela, implacáveis.

— Atraída? Como posso ter certeza disso? Estou desconfiado que há alguma espécie de aposta, ou jogo para me colocar no fundo do poço e não desejo fazer parte disso.

Maria o tocou no braço, por impulso.

— Espere! Onde você tirou essa ideia idiota?

Ele se esquivou e olhou para os lados. Depois com olhar sombrio, continuou:

— O que na real você está tramando? aquela mensagem, que com certeza não era pra mim, mostrou que o estágio dois faz parte de um plano, né? Você por acaso é como uma viúva negra, que atraí, se aproveita e depois devora?

Maria arregalou os olhos, ofendida com a comparação, mas precisava se defender.

— Não é exatamente como você tá pensando! Não há jogo nenhum! Estou atraída sim e sei também que me quer!

Maria notou a fisionomia dele mudar. Um repentino desejo surgiu nos seus olhos, mas rapidamente foi dissipado.

— Não vou falar duas vezes. Se quiser conversar comigo, agende com Ricardo e espero que seja mais profissional!

A paciência esgotou. Aquelas palavras irritaram Maria.

Bem, mostraria a ele como era o seu gênio quando era tratada de forma injusta.

— Quer dizer que é assim? — A fala saiu estranhamente calma.

— Exatamente!

— Tudo bem. Talvez eu não queira ser como uma viúva negra, pois nesse momento eu me sinto mais como uma serpente.

Ele a olhou com atenção. Parecia até que está a hipnotizado pelos olhos bem pretinhos dela.

— O que você quer dizer?

Ela sorriu, malévola.

— Quero dizer que cada vez que se lembrar de mim... — Maria se aproximou — Lembre-se disso aqui também!

E com força total, deu um pisão no seu pé e ele gritou de dor, desequilibrando-se e caindo no chão.

— Ai! Sua... Sua...

Maria se afastou sem nenhum riso, mas sentindo-se vitoriosa, por dentro.

Caminhou em direção à moto dele e subindo nela, deu partida e deixou um rastro de poeira que o cobriu por inteiro.

Do retrovisor, pôde ver a agonia dele tossindo e tentando se levantar. Respirou fundo.

Agora sim, estava se sentindo bem melhor.

Minutos depois, Francisco chegou no escritório sujo e mancando, com o pé latejando de dor e um humor dos infernos.

Deparou -se com Ricardo que estava se engasgando de tanto gargalhar.

O patrão, ofegante, atravessou o recinto e sentou-se na poltrona, tirando a bota.

— Não sei qual é a graça, Ricardo...

O rapaz limpou os olhos que lacrimejavam de tanto rir e perguntou:

— Francisco, fazia tempo que eu não via algo tão divertido! Pareceu cena de comédia, mas o que será que está acontecendo com Maria? Ela está doidinha mesmo!

Francisco tirou a meia. Levou um susto com o inchaço do seu pé.

— Pelo amor de Deus, homem! Chama Alfredo pra trazer um compressa de gelo que o negócio aqui tá feio!

Ricardo olhou o pé de Francisco.

— Vixie ! Capaz de ficar aleijado!

E caiu na risada.

Francisco ficou enfurecido com o secretário.

— Ô imbecil, para de rir da desgraça dos outros! É pra hoje!

O rapaz entendendo que o patrão falava sério, num instante acionou Alfredo que veio imediatamente com a compressa de gelo.

Assim que chegou, pediu para o patrão esticar a perna e começou a passar a compressa no local machucado.

Francisco estava sentindo dor física, mas emocionalmente era pior, se sentia um "caco". Maria era mais perigosa do que pensava e dirigia uma moto muito bem.

Ricardo, confidenciou ao patrão:

— Olha, Francisco, tem alguma coisa errada com essa sua veterinária. Ela entrou aqui feito louca atrás de você e depois sabe o que aconteceu?

Francisco e Alfredo fixaram os olhos em Ricardo com curiosidade.

—Acredita que antes de agredir você, ela quase me bateu?

Os homens cruzaram os olhos, aterrorizados. O gênio dela era terrível! Dona Delegada esqueceu de acrescentar esse detalhe ou omitiu o fato em nome da sororidade feminina.

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