Feito Cão e Gato.

Maria estava se adaptando rapidamente à vida na fazenda São Francisco.

De início imaginou que fosse ter problemas com os outros trabalhadores, mas com o tempo percebeu que eram respeitosos e gentis até demais.

Algo que tratou logo de desmistificar.

Estava ali para trabalhar e não ser tratada como uma princesa, por isso fazia questão de ser o mais independente possível.

Era comum, portanto, que pessoalmente cuidasse em cumprir o seu papel como veterinária, buscando com o administrador Luizão meios para que os búfalos da fazenda estivessem em plena condição de ser um dos melhores do país.

Ajustou a alimentação dos bichos e sempre estava atenta a qualquer alteração. O que não sabia na prática, aprendia com os próprios trabalhadores que aos poucos se rendiam ao seu protocolo de trabalho.

Assim, os dias iam passando, mas Maria percebia que cada vez menos, via o patrão.

Com uma dorzinha chata no peito, lembrou-se da última vez que se viram face a face. Foi um dia após o episódio da piscina.

Os dois se desentenderam feito cão e gato .

A recordação da conversa particular em seu escritório à meia luz, à noite, ia e vinha em sua mente, enquanto trabalhava desde então.

Ao entrar no recinto, percebeu que ele estava distante e a fala dele veio tão fria como noites de chuvas intensas.

— Pronto, patrão, pode falar!

Ele fez um gesto para que sentasse. Meio desconfiada, obedeceu.

— Senhora Maria, estou vendo pelos seus relatórios que você tem feito um bom trabalho...

Estranhou o comentário que nem parecia um elogio. Ele parecia tenso como se travasse uma luta entre a emoção e a razão.

— Obrigada pelo reconhecimento. É o meu dever.

Mesmo sendo perigoso, estava cada vez mais atraída pelo chefe arisco.

"O que poderia fazer para que ele se rendesse ao seu poder de sedução?"

Cruzou as pernas. Era infalível!

Ele instantaneamente deixou-se atrair pelas pernas grossas e bem lisinhas.

Aquilo o desestabilizou por uns segundos.

Porém, desviando os olhos, Francisco forçou-se a manter-se no controle.

Depois, suspirando forte, voltou a atenção para ela:

— Entretanto, Maria devo pedir a sua colaboração em algumas questões em nome da boa conduta na fazenda

Maria repentinamente ficou em alerta.

— Onde você quer chegar?

— É que fiiquei preocupado com o episódio da piscina... Sei que era seu horário de folga e você pode fazer o que quiser...Entretanto, peço que use peças mais... Como posso dizer, mais conservadoras!

Ela não resistiu a um tom irônico.

— Você nunca viu mulher de biquíni? É comum esses trajes na praia, na piscina, no rio... E tenho orgulho do meu corpo sarado!

O homem pareceu sem jeito, com a sua defensiva tão acentuada. Ele passou a mão pelo cabelo.

— É, mundo moderno, mas não quero que as pessoas comentem...Afinal você estava na verdade, praticamente nua.

Maria perdeu a paciência e resolveu pôr as unhas de fora.

— Você não está sendo muito severo, patrão? Não imaginei que estaria me espionando!

Agora ela desviava o olhar, pois sabia que ele olhava nas câmeras.

Como ele ficou em silêncio, ela procurou de novo o olhar dele. Notou que Francisco também estava perdendo a paciência, enquanto apertava os maxilares com raiva. Afinal, ela o acusou de estar espionando.

Mesmo sendo verdade, Francisco não deixou barato. Levantou-se da cadeira e apoiando os braços sobre a mesa, questionou rispidamente:

— Espiando você?! Agora devo desligar as câmeras para agradá-la? Só me faltava essa!

Maria resolveu levantar-se também e com raiva, continuou:

— Você é muito complicado, SENHOR! Cheio de regras ridículas! Não posso usar um simples biquíni, o que mais eu não posso?

Os dois ficaram se duelando. Respirações ofegantes.

( Cuidado! Estão muito próximos e podem se queimar...De paixão.)

Ele continuou, zangado:

— O que mais você não pode? Atender chamada de namorado no horário de trabalho!

Maria nem podia acreditar no que estava ouvindo.

— O quê? Quer dizer que você anda me espiando o tempo todo? Será que tem câmera até no meu banheiro?

Maria percebeu que estava ficando descontrolada e não se importava se estava gritando.

—Alto lá, Maria! Está passando do limite!

Eles estavam perto demais, um sentindo o perfume do outro, hálitos se misturando... Entretanto Maria sentiu-se muito mal com aquela conversa e num tom magoado, desabafou:

— Estou me sentindo agora num reality show! Se você anda me vigiando, devia entender que não costumo usar celular, a menos que seja algo necessário. —Olhou-o detidamente. —Agora sobre o meu horário livre ajo do jeito que me sentir melhor!

Os dois se fitaram, tensos. Francisco amenizou mais o tom:

— Não precisa ficar assim, Maria... Só não quero que os outros empregados achem que podem agir de forma igual... Pelo menos me avise antes para eu não incomodá-la na sua privacidade.

Só para se vingar, ela disse:

— Eu não me importo se olha ou não, Francisco. O que é bonito é pra se mostrar! Só acho desnecessário que tenha que me chamar por algo tão idiota!

— Você pode achar idiota, mas eu não penso do mesmo jeito. — E sem querer, soltou o verdadeiro sentido de estar tão zangado: — Não percebe que está me enlouquecendo?

A voz dele saiu rouca, como se não soubesse mais como esconder o desejo.

Maria ficou impactada com a revelação e a forma que foi dita. Teve vontade de beijá-lo naquele exato momento.

— Francisco...

— Maria...

E como se fossem dois imãs, não controlaram-se mais.

Os lábios finalmente se tocaram. Um gesto irrestivel, que Francisco estava interessado em aprofundar, mas Maria tomada de uma força fora do seu instinto fogoso, recuou.

Ele ficou sem ação e ela com dois dedos nos lábios, virou sobre os calcanhares e saiu, trêmula.

Decidiu que só para se vingar seria ela a ficar bem distante.

Voltando à realidade, suspirou.

Perguntou ao bezerro, enquanto o alimentava:

— Você acha que estou apaixonada, bebê?

O bichinho, dócil, movimentou a cabeça, apreciando a voz dela.

Não queria saber de nada. Estava amando ser acariciado por aquela mulher bonita.

"Até quando ia resistir ao misterioso fazendeiro?"

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