Estágio Dois: O Ataque

Após a ronda matinal, Maria aproveitou a sua folga para conhecer o Centro de Soure e comprar algumas coisas que estava precisando.

Já estava de saída quando deu de cara com Ricardo, que fez barreira com o corpo e a olhava com desejo.

Fazia dias que Maria o evitava, pois não queria confusão com o patrão, mas como naquele momento Ricardo já estava atrapalhando o seu direito constitucional de ir e vir, fitou-o desafiante.

— Com licença, quero passar!

O rapaz não moveu um centímetro. Com a mente ainda sonhadora em relação às palavras do padre horas atrás, esboçou um sorriso e galanteador questionou:

— Bom dia, minha flor do campo! É impressão minha, ou tá me evitando?

Maria se impressionou com a ousadia do "recém saído das fraldas."

— Não é impressão sua. É isso mesmo...

— Ah, adoro mulheres bravas! Sem dúvidas, as melhores!

Pondo as mãos na cintura, Maria mirou-o de cima a baixo.

— Escuta aqui, pequeno, quantos anos tem?

O rapaz franziu o cenho sem entender o porquê da pergunta.

— Vinte e três. E daí?

— Bom, pelos meus cálculos eu poderia ser sua mãe! ( Que exagero!)

Ele abriu um sorriso cínico.

— Não tenho preconceito, gracinha! Na verdade tenho fetiche por mulheres mais velhas.

Maria imaginou que possivelmente Francisco já pudesse estar de olho nas câmeras.

— Você não deveria estar com o patrão trabalhando? Ou melhor, não se importa se ele nos ver juntos?

— Ele não está aqui! Saiu cedo no helicóptero! Então não tem ninguém olhando a gente...

Maria ficou pensativa. "Onde Francisco estava?" Enfezando mais a cara, disse entre dentes:

— Então mais um motivo para sair da minha frente!

— Por que? Somos solteiros e bem... Você me interessa bastante.

— Não estou na promoção, garoto! Ponha-se no seu lugar! Se continuar me assediando, comunico ao chefe.

Ele disfarçou a surpresa e sorriu sem graça. Maria não era fácil como pensava.

— Bem, se mudar de ideia, estou à disposição.

Maria aproveitou a distração dele e desvencilhou-se com rapidez. E antes de sair ao fechar a porta, disse bem alto.

— Nem com reza "braba"! Tchauzinho.

Maria jogou o cabelo para trás e saiu.

Ela pegou um táxi e dirigiu -se para o Centro. No caminho observava os búfalos que andavam normalmente por todos os lados.

Ali havia uma conexão muito forte entre animal e homem que ficou até emocionada.

Depois, ao chegar ao destino, pôs-se a caminhar pelo centro comercial.

Assim que passava, cumprimentava as pessoas e admirou-se que muitas delas já sabiam quem ela era.

Percebia cochichos, risadinhas e olhares maliciosos. Pelo visto, virou a nova atração da ilha.

Após comprar roupas, sapatos e acessórios, foi para a fazenda de Jane, já que a amiga a convidou para almoçar e colocar os papos em dia.

Ao chegar na fazenda, Maria brincou um pouco com os filhos mais velhos de Jane e depois pegou uma das bebês no braço e passou a fazer graça. Logo em seguida, foi a vez da outra.

Jane admirava a cena, já pensando no futuro da amiga.

Após o almoço, Maria e Jane se sentaram na varanda e a conversa mais íntima começou.

— Maria, você nem sabe....Tenho uma história muito louca que você nem vai acreditar!

— Mesmo? Conte, vai!

Jane relatou sobre a visita do padre mais cedo. Após ouvir o relato, Maria comentou, triste:

— Obrigada pela tentativa, amiga, mas creio que as orações a nosso favor estão subindo de gota em gota!

— Que é isso, Maria? Cadê seu otimismo? Não estou te reconhecendo!

— Ah, Jane, falei pra você que estou perdendo o jeito! Cada dia estou mais desanimada! O homem tem coração de pedra!

— Meu Deus! E a estratégia de sedução?

— Deu em nada!

Maria explicou o que aconteceu sobre o dia da piscina e a briga que tiveram, alémdo selinho inusitado entre os dois que considerou apenas como um " descuido" do patrão.

— Jane, você sabe que já tive todo tipo de homem em minha vida, mas nunca havia conhecido um tão difícil como Francisco. Ele deve me odiar, pois me evita o tempo todo. Hoje por exemplo, até pegou o helicóptero para ficar bem longe de mim!

—Não foi por sua causa, amiga! O padre comentou que ele foi numa tribo fazer caridade.

Maria ficou mais aliviada.

— Minha cabeça está pra dar um nó de tão esquisito que Francisco é. Estou desistindo, amiga!

— Oras, Maria! Qual é o homem que não tem suas manias? Não é você que gosta de desvendar mistérios... Pois então? Esse faz o seu tipo!

E para aumentar o ânimo da amiga, Jane a relembrou de um detalhe.

— Lembra do tempo da escola que a gente competia pra ver quem tinha a lista maior de namorados?

Jane olhou para os lados antes de comentar o assunto do passado. O marido era super ciumento e jamais poderia sonhar que estava tendo aquela conversa.

Maria sorriu, enquanto se abanava com a mão.

— Nem me fale! Éramos loucas. Eu, você e... E a endiabrada da Vivian! Ainda bem que a antipática da sua prima está presa, porque essa só gosta de macho dos outros .... Não dei umas porradas nela em respeito a você, amiga! Lembra que adorava dar em cima de nossos namorados? Uma bandida desde sempre!

Jane mudou a fisionomia.

— Pois deveria ter dado umas surras nela! Pelo menos ela aprenderia ser gente! Por causa dessa maldita sofri o pão que o diabo amassou aqui na ilha!

— Lembro dessa história. O lado bom, foi que Miguel entendeu que você era inocente e vocês estão felizes, mas vamos mudar de assunto... Falar dessa aí dá até azar.

— Sim, amiga, vamos esquecer essa 'invocação do mal" e falar do que interessa....

Jane e Maria se olhavam, pensando numa alternativa.

— Sabe, se eu fosse você, não desistiria assim facilmente. Por que não começa o estágio dois da sedução?

— Estagio dois? Ah, amiga, vamos esquecer, tá?

Só que Jane era insistente e pegando nos seus ombros e encarando-a firme, falou:

— Aproveite, amiga!

Maria esboçou um sorriso. Já que a sedução à distância não deu certo, quem sabia o próximo estágio: O ataque?

— Vou apostar nesse, Jane!

— É assim que se fala, pequena!

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