O Alerta

Duas semanas passaram tão rápidas como os relâmpagos que atravessavam ultimamente as nuvens de Soure, na ilha de Marajó.

Francisco estava diferente.

E não era porque a fazenda, de repente estava se rendendo para os toques femininos de uma tal veterinária que sabia lidar muito bem com búfalos e com seus trabalhadores, mas especialmente...

Algo muito difícil de compreender estava rondando o seu coração.

"Que diabo estava sentindo?"

Do seu escritório, analisava nas câmeras como os empregados estavam trabalhando conforme suas funções.

Até aí era normal. Rotina de todos os dias.

No entanto, algo mexia com as suas emoções. Cada vez mais, procurava com avidez por Maria nas câmeras. Quando os seus olhos a encontraram, suspirava, enquanto o coração pulava numa gangorra sem fim.

Ela estava concentrada, examinando os animais e instruindo os vaqueiros. Parecia bem à vontade ao administrar os serviços.

O jeito que alisava a cabeça dos búfalos, após a consulta e como distribuía carinhos para cada um, fascinava-o.

Até os búfalos estavam mais mansos. Certamente perceberam que não estavam mais diante do carrancudo veterinário que trabalhava antes na fazenda.

(Suspiros e mais suspiros. )

Estava tão distraído, que não havia percebido que já não estava mais sozinho no escritório.

Ricardo num tom de preocupação, perguntou:

— Você está se sentindo bem, Francisco?

Imediatamente, ele tirou a mão que apoiava o queixo e arrumou a postura na poltrona.

— Ahn...Sim... Por que a pergunta?

— Parece que está com dor de dente....Está com uma cara tão sofrida.

Disfarçando, Francisco, mudou o foco das imagens para outras partes da Fazenda. Limpou a garganta.

— Impressão sua!

O rapaz continuou imóvel. Olhava-o com certa desconfiança.

Francisco, incomodado com o olhar intrigado do funcionário, tratou de dar logo uma função para ele:

—Já que tá aí sem fazer nada, quero que agende uma reunião com Miguel. É urgente!

Ricardo achou a ordem do patrão meio sem sentido.

— Com seu vizinho? Não basta ir lá?

Francisco perdeu a paciência.

— Faz o que estou mandando!

O rapaz encolheu o ombro e com a rapidez de velocista, pegou o celular e ligou para Miguel, afastando-se.

Francisco, recompondo-se, olhou novamente para as câmeras. Tentou evitar olhar onde Maria estava, mas de repente algo chamou a sua atenção.

Maria, olhando de um lado para o outro foi para um lugar mais reservado.

Francisco percebeu que ela atendeu o celular.

" Não pode! É o horário de trabalho!"

Ficou atento. Algo lhe dizia que havia algo suspeito ali.

Tinha muitos defeitos.

O maior deles era sua obsessão por achar que alguém o perseguia.

A cabeça fervilhava.

"Será que Maria estava ali a mando de um antigo inimigo? Ela estava arquitetando algum plano para sequestrá-lo? Ou pior, estava conversando com algum amante do presídio?"

Uma sensação estranha tomou conta dele e sem querer derramou o cálice de seu licor verde nos papéis em cima da mesa.

— Droga de mulher! Por isso melhor distância delas!

Imaginar que Maria não era quem dizia ser o incomodava, porém pior que isso, era achar que pertencesse a outra pessoa.

Enquanto pensava, o telefone tocou. Levou um susto.

Ele atendeu de imediato.

—Alô, Francisco? — Reconheceu a voz do amigo.

— Oi, Miguel!

—Ricardo pediu para agendar um horário. Quero dizer que não precisa de tudo isso não! Pode falar...

Francisco coçou a cabeça, meio sem jeito.

— É que eu queria conversar com você de novo...Pessoalmente!

Miguel silenciou, como se estranhasse aquele fato.

— Ora, mano! Na hora que quiser!

— Tá bom, hoje à noite passo aí.

—Está com algum problema na fazenda?

Miguel tinha um tom preocupado.

Francisco confidenciou:

— Um dos grandes!

— Vixie, espero você.

— Sem falta. Até mais.

O rapaz cessou a chamada. Novamente pousou os olhos na câmera onde Maria aparecia.

A veterinária continuava no celular e aquilo não era bom. Se continuasse assim, seria obrigado a dar-lhe uma advertência.

Maria, na verdade, conversava com Jane que estava curiosa e queria saber sobre os rumos dos seus dias na fazenda, e claro, saber se ela e Francisco já estavam de " chamego".

— Que bom que você está gostando do seu trabalho, Maria, mas me conta, como vão as coisas entre você e o patrão ...

Ela suspirou frustrada ao lembrar das poucas vezes que o viu.

— Ah, Jane, estou meio desanimada, sabe?

Aquela fala de Maria, assustou a amiga.

— Você? Desanimada? Bateu a cabeça, foi?

— Amiga, acho que meus planos de enlaçar esse "touro lindo" não serão salvos com sucesso!

Jane ficou extremamente agitada.

— Maria, cadê a mulher mais "namoradeira" dos Lençóis Maranhenses ? Não conheço ninguém melhor que você para fisgar Francisco!

— Amiga, essa minha fama ficou pra trás a muito tempo! Acho que perdi o jeito! O certo é que ele me olha como se fosse um fantasma. Agora vivo me mirando no espelho, pois sei lá... vai que tá nascendo um chifre no meio de minha testa e tô ficando verde?!

Jane gargalhou. Depois, entre riso, disse:

— Exagerada, você é linda e sabe lidar com todo tipo de homem...

Maria suspirou.

— Nunca conheci um homem igual a ele, estou besta!

Jane a tranquilizou.

— Não se preocupe. O que você já descobriu sobre ele? Acha que é gay mesmo?

Maria pensou um pouco.

— Bom , ainda é difícil responder isso! Será que Miguel sabe de alguma coisa?

— E trair a confiança do amigo? Acho iimprovável, mas vou pensar como ajudar.

— Muito obrigada, Jane! Enquanto isso, o que você acha que devo fazer?

A amiga teve uma ideia.

— Maria...Lembro que ele é fissurado por tecnologia, então deve ser cheio de câmeras, na mansão, né?