Perigosa

Ela deu uma tossidinha de leve para espantar os "ânimos ", só que Francisco entendeu outra coisa. Num tom preocupado, disse:

— Nossa! Que distração a minha ! Você molhada assim, pode ficar resfriada...

Maria estava em transe.

" Vixie, que voz sensual! Se continuar falando desse jeito, vou ficar mais molhada ainda..."

— Será? — Forçou-se a falar só para ouvi-lo mais.

— Tenho certeza. Só um instante! Vou providenciar algo pra você!

Ele pegou o telefone. Falava com Alfredo para providenciar uma roupa da esposa, que era cozinheira no casarão.

Após a rápida conversa, ele ergueu os olhos em direção à candidata. Percebeu que talvez quando Maria tossiu, os botões desprenderam da blusa e uma abertura evidenciou uma parte que fez com que ficasse atraído para onde não devia. Um olhar 'beeemmm' generoso .

Maria estremeceu. "Por que o olhar estranho?"

— Sua... Sua blusa...

Ele apontava, sem saber se continuava olhando ou se desviava-se das elevações tão tentadoras que o sutiã cobria parcialmente. Maria rápido, procurou fechar os botões.

— Oh, Desculpe!

"Que constrangedor!"

—Não, eu que peço desculpas!

O rapaz fez menção de tomar mais um gole do licor misterioso, mas atrapalhado com a situação " fora do seu limite" deixou cair no chão e quebrou o penúltimo frasco. .

— Droga! —Ele estava desolado.

Maria foi se levantando para ajudar a pegar os cacos, mas Francisco fez gesto para que parasse.

— Por favor, Maria ... Deixa!

O mordomo entrou no recinto. Observou os cacos no chão.

— Com licença, Francisco. Já venho limpar tudo.

O moço fixou o olhar nela.

— Acompanhe-me, Maria.

Ela pediu licença e virou-se para a saída. Mesmo depois de ela ter fechado a porta, a visão da mulher de 1,65m, cintura fina, quadris largos e traseiro bem acentuado, ficou na sua mente. O perigo estava ali para quem quisesse ver.

Francisco comprimiu os olhos, preocupado.

Alguns minutos depois, Maria voltou com um vestido estampado enorme no corpo. Aquela situação era hilária.

Francisco e Maria se olharam e não conteram a risada.

Ela sentou-se novamente.

— Pelo menos está mais confortável agora, né?

— É meio esquisito, mas tenho que lhe agradecer senhor Valporto.

Ele deu um meio sorriso. Em seguida, assumindo um tom profissional e pegando a ficha de entrevista, disse:

— Maria, para começar, fiquei confuso...Como conseguiu saber da vaga se um dos requisitos é que deveria ser alguém da região?

Ela arregalou os olhos.

— Oh!

Maria abriu a boca e não conseguiu esboçar nada. Foi pega de surpresa, pois não leu aquele requisito específico.

— Desculpe, não entendi...

Francisco franziu o cenho.

Foi o jeito repetir a pergunta e acrescentou:

— Você é do Maranhão, não é? O seu sotaque é inconfundível.

—Ah, sim! Sou do Maranhão. ... Amiga de infância de Jane. Foi ela quem me falou sobre a vaga.

Ao expressar as últimas palavras, exibiu um sorriso radiante nos lábios carnudos.

Francisco arregalou os olhos. Duas surpresas: primeiro, a mulher tinha um irresistível sorriso e segundo, era tão maranhense quanto Jane.

A esposa do amigo era famosa na ilha. Lembrou dos motivos. Não que fosse chegado a fofocas, mas ouvia dos empregados muitos boatos sobre Jane. Diziam que além de ser barraqueira, era viciada em sexo. Coitado do pobre amigo!

Nesse caso, Maria podia ser uma bomba-relógio se fosse tão maluca quanto a amiga.

Engoliu em seco.

— Ok. —Ele estudava seus movimentos. Tinha que ser mais rígido, então. —Em quantas fazendas você já trabalhou?

Maria foi pega de surpresa mais uma vez. Sua amiga disse que não precisava apresentar experiência alguma. Ela passou a mão no cabelo e se ajeitou na cadeira, nervosa.

— Não vou mentir, seu Francisco, acabei de me formar, mas fiz um excelente estágio.

Num tom de desdém, ele afirmou:

— Sério? Isso não me parece suficiente. Aqui o trabalho é pesado até para um homem experiente! Como vai me convencer que é boa mesmo?

De repente, Maria como se tivesse acordado do mais singelo sonho de contos de fadas, sentiu uma certa decepção. Ele duvidava de suas habilidades e aquilo era o cúmulo.

Desafiado-o, disse:

— Olhe, a jornada de uma mulher é três vezes maior que a de um homem e não vejo porque não testar minhas capacidades. Fui a melhor aluna do estágio e consigo realizar um parto normal ou cesárea numa vaca sem problema! Se me der uma chance posso provar o que estou dizendo.

O jeito ressentido na fala dela não passou despercebido por Francisco.

— Desculpe, não estou menosprezando a sua capacidade, mas há algo maior que tudo isso...

Maria já até imaginava o que ele falaria. A mesma conversa das outras entrevistas: era mulher.

— Sim? Compartilhe, por favor.

Ele foi objetivo.

— Talvez sua amiga tenha esquecido, mas a minha manada de búfalos é a maior em Soure, no entanto não é só isso que estou levando em consideração. Afirmo pra você, que pra mim pode ser difícil controlar os ânimos dos homens daqui com uma presença feminina. Por isso, se eu admitir você, é possível que eu tenha mais um desgaste desnecessário.

Maria deu um suspiro de indignação. Estava cansada da mesma história machista.

Mesmo que fosse descartada em mais uma entrevista de emprego, arriscou:

— Sou bem crescidinha e sei lidar muito bem com homens. Não se preocupe com esse detalhe. Fui criada pra me defender de qualquer idiota que vier com gracinha.

Com aquela resposta "atravessada" Francisco arregalou os olhos assustados.

Rapidamente anotou na ficha em caixa alta: (PERIGOSA.)

Francisco pôs a mão no queixo. "A mulher ficou zangada." Mal sinal.

Como se fosse um investigador, perguntou algo pessoal, mas que instintivamente desejou saber:

— Mas você... Não tem namorado? Ele pode ficar enciumado ao saber que estará rodeada por outros homens... Desculpe a sinceridade...

Maria achou aquilo ofensivo, mas não podia colocar as garras para fora. Estava numa entrevista de emprego.

"Aquela seria mesmo uma pergunta relevante para uma entrevista de emprego?"

— Sou livre. Tenho outras prioridades no momento. — Ela falou, desviando o olhar como se estivesse escondendo algo.

Francisco sentiu o alerta masculino falar bem alto. Havia algo na voz e na fisionomia dela muito suspeito.

Avaliou a mulher por um instante.

Perigo à vista.

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