O Pecado

Francisco, mais aliviado, estava saindo do escritório, quando Miguel avistou o celular de Jane bem escondido num cômodo perto da porta.

" Ah, danadinha!"

Sem Francisco perceber, ele pegou o aparelho e percebeu o que a esposa estava tentando fazer.

Jane gravava a conversa.

Rapidamente deletou a gravação e foi levando o amigo até à porta. Conversaram mais um pouco e despediram-se.

Miguel voltou para o escritório e pegou Jane no flagra, procurando pelo celular.

Ela levou um susto.

— Ai, meu Deus! Pensei que fosse assombração... Você viu meu celular?

Miguel se aproximou da esposa e com voz arrastada, quis saber:

— O que você anda aprontando, meu bem?

— Eu? Nada!

Ele exibiu o celular dela, com um sorriso vitorioso.

— Estou falando disso aqui.

Como Jane imaginou que ele já sabia o que tentava fazer, deconversou.

— Você sabe que sou curiosa, né? Estou achando estranho o Francisco vir aqui toda hora...

— Sei, mas isso é feio, viu? Por isso deletei a gravação. Virou agora espiã? Em troca de quê, Jane?

Enquanto Miguel falava, ia encurralando Jane até que ela ficou sem como fugir, com as costas na parede.

— Minha amiga quer saber porque ele é tão... Estranho.

— Engraçado... Por que ele está achando que Maria está com segundas intenções..É verdade?

Jane não perdeu tempo.

— Bom, se você quer saber, preciso que me conte o que ele veio fazer aqui.

Miguel conhecia a esposa muito bem. Se cedesse, ele acabaria traindo a confiança do amigo.

— É segredo. Sinto muito.

Jane ficou decepcionada. Respondeu, desafiante:

— Então também não posso contar o que quer saber.

Ficaram se duelando no olhar. Qual dos dois ia ceder primeiro? Pelo visto, nenhum!

Enquanto isso, Francisco, voltando da fazenda do amigo, resolveu assistir a um filme de terror para se distrair.

Na sua suíte mesmo. Até pegar no sono.

Com o controle remoto na mão, começou a procurar um bem arrepiante.

O mordomo veio com a pipoca, um refrigerante preto e as barras de rapadura.

Franciso agradeceu e como se tivesse desinteressado, perguntou por Maria.

— Ela está na área da piscina. Disse que ia nadar um pouco para relaxar.

Imediatamente, o fazendeiro visualizou na sua mente Maria num daqueles biquínis provocantes que estavam na bagagem e pensou como ficaria no seu corpo monumental. Só de pensar, faltou-lhe o fôlego.

— Francisco? Mais alguma coisa?

Ele fingiu que estava distraído porque estava procurando o filme.

— Não, por hoje é só. Obrigado, Alfredo.

— Pois bem, se me permite, boa noite... Vou me recolher em meus aposentos.

— Boa noite!

A mente de Francisco ficou, de repente, numa fixação difícil de tirar a cena de Maria tomando banho na piscina.

O bom senso gritou: "O filme, Francisco!"

Ele apertou o play.

Por alguns instantes, ele conseguiu ficar focado nas cenas de suspense, porém quando os protagonistas apareceram na piscina, prontos para a paixão, foi o gatilho para que ele pensasse em Maria.

Lembrou-se das câmeras.

" Não, Francisco, é errado!"

( Sua consciência do bem dizia.)

" O quê tem as câmeras? Ela é funcionaria e se estiver se afogando? A responsabilidade é sua!"

( Sua consciência das "segundas intenções" o convenceu.)

Ele se levantou.

Levou a pipoca e seguiu para o escritório.

Ainda tentou resistir, mas o desejo de ver Maria na piscina superava seu bom senso.

Sentou-se em frente ao computador e fixou a câmera na área da piscina.

Maria estava de olhos fechados, parecendo só do pescoço para cima.

Ficou esperando algum movimento dela. Tudo tranquilo.

Ele havia acabado de colocar um punhado de pipoca na boca e foi nesse instante, que Maria se virou para as bordas da piscina e emergiu de costas num minúsculo fio dental.

Céus!

O homem engasgou de vez.

Tosse. Tosse. Tosse.

Quase se mata do engasgo.

Foi para o gole do refrigerante.

Quando conseguiu finalmente se recompor, nem acreditou no que estava acontecendo. Ela havia virado de frente e não estava com a parte de cima.

"Topless, à noite? Sério?"

Que seios arredondados e perfeitos! Caramba!

" Valha-me o santo dos moços imaculados!"

O sexo reagiu de imediato, quase que gritando: " Tô vivinho aqui embaixo, ô bobão!"

Ela se enrolou numa toalha e pegou outra para enxugar o cabelo.

Ele não sabia o que fazia. Se aquietava "seu chiquinho" que estava a todo vapor ou se ia tomar satisfação com a funcionária que pensava estar numa praia de nudismo.

Ficou com a segunda opção, mas antes, onde estava o seu "licor da salvação"? Pegou um frasco na gaveta e encheu um cálice da bebida.

Pegou o elevador. O pensamento dividido entre a raiva e o desejo. Nervoso, foi beber o cálice, acabou derrubando e lamentou o acontecido. Resolveu seguir em frente.

Atravessou a área da piscina feito furacão.

Quando ele chegou, Maria continuava a enxugar o cabelo e ria em pensamento ao constatar que sua estratégia de sedução estava dando certo.

— Maria!

(Fingindo que se assustava, adivinha o que caiu? A toalha, lógico!).

Ela cobriu os seios "beeemm" devagar. Tempo suficiente para ele ver melhor o que estava perdendo.

— Ah, sinto muito, Francisco! Foi sem querer...

(Querendo!)

O rapaz estava impactado.

— Misericórdia! — Ele se benzeu, mas os olhos já estavam no "pecado", pois não desgrudaram do corpo sedutor da veterinária.

Ela se abaixou para pegar a toalha e aquela posição de curvar-se sensualmente, quase o matou de desejo.

Ele comprimiu os olhos e se virou, ofegante.

— Desculpa... Patrão, sou tão atrapalhada ... —Maria enrolou-se com a toalha e falou bem sedutora: —Não sabia que estava em casa.