I

O mundo pode te destruir, ao mesmo tempo que ele te constrói...

Essas foram algumas das palavras inspiradoras de minha falecida mãe, uma mulher que almejava a poesia e ansiava uma vida que na qual, pudera, finalizá-la com um

" Felizes para sempre".

Muito mórbido? É tão palpável quanto a minha curiosidade com o mundo lá fora... Hoje completo os meus tão temidos, dezoito anos. Para os homens é uma honra, algo que na qual podem celebrar com as melhores festas e contratos assinados para novas portas abertas, para nós mulheres... Casamento.

Nasci em uma família nobre, não muito perto da realeza, algo tão sonhado por muitas jovens moças que anseiam em se tornarem princesas, nobres ou duquesas. Carrego um sobrenome que no qual onde passo, deixo os ares suspirosos e pomposos. Helena Cameron Morris Wessex, esse é o peso da realeza em que nasci, os bailes, os vestidos com mangas bufantes, cavalheiros para reverenciar e manter a sútil cordialidade que uma nobre, no mínimo, pudera exercer.

— Senhorita Helena? ( A voz cansada e anosa de senhora Hills, me tira de meus sinceros devaneios matinais)

— Bom dia, Ana. ( Expresso um sorriso espontâneo.)

Ainda é cedo, os pássaros cantam as mais belas melodias que poderiam exercer em uma gélida manhã, que a Inglaterra permite. Tiro meu longo pijama branco de seda e a senhora Hills anda calmamente até o toalete, escuto a água cair e a mesma mulher volta.

— Espero que tenha tido uma calma noite de sono, senhorita Helena. ( Ela fala enquanto penteia meus castanhos e longos cabelos)

— Já disse que longe de minha família, não precisamos manter as cordialidades, Ana. ( Falo e caminho até o toalete.)

Ana me segue e arruma os meus produtos corporais, meu pai exige que eu me mantenha o mais limpa e cheirosa o possível, porque segundo a minha madrasta, já sou horrenda o suficiente para algum cavalheiro pedir a minha mão.

Me sento na banheira e desfruto da quente água tocando em minha pele, Ana me ajuda a me limpar. Eu não tenho vergonha em me despir em sua frente, Ana cuida de mim desde que era uma criança, e fora ela, ninguém nunca me viu nua.

.........

— Esse vestido é o mais apropriado para o dia de hoje. ( Ana diz e me entrega um vestido branco, estendido até os pés e sem decote algum, são as roupas que me designam a usar.)

Coloco o tecido e me analiso no espelho, quase nem mostra as minhas curvas, mas não é algo que eu me preocupe, já que a Margot - Minha madrasta - me diz que quem usa roupa com decotes, é puta.

— Você está linda. ( Ana prende a última mecha do meu cabelo em um coque frouxo e me olha bem, com os olhos brilhando)

— Obrigada madre... ( Digo timidamente)

A senhora Hills sempre foi como uma segunda mãe para mim, principalmente depois que a minha faleceu, ela dobrou os cuidados e nunca me deixou faltar nada, ao contrário do meu pai que se casou com Margot e só me tratou como mercadoria para os seus amigos rechonchudos e bêbados.

Ana se apressa para sair, mas antes me entrega uma caixinha com um lacinho, me dá um abraço e diz:

— Feliz aniversário, minha doce menina! ( Fito seus olhos azuis e seu rosto com rugas e marcas do tempo, abro um sorriso e lhe devolvo o abraço)

— Obrigada madre.

Ana coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e se retira do quarto, ela é a governanta da residência, mas sempre dedica um pouco do seu tempo à mim, isso que a torna mais especial na minha vida. Abro a caixinha e tenho em mãos uma correntinha de ouro, pode não ser puro mas é simplesmente perfeita. Vou em frente ao espelho e coloco a jóia, Ana me deu de coração, então usarei de coração!

Passo mais um tempo no quarto esperando Margot vir me chamar, como havia dito a mim, hoje teremos a honrada visita de um duque. Nunca estive na presença de um antes, posso ser de família nobre - Condessa, para ser mais exata - Mas é raro ver um duque pela região, o burburinho dos curiosos na rua só aumentam por conta de sua chegada.

Escuto batidas à porta enquanto vejo o vasto e colorido jardim da mansão, é a minha parte favorita, depois da biblioteca, e claro!

— Entre! ( Digo com a voz suave, não tenho o costume de falar alto)

— Helena, desça rapidamente. ( Ana responde com certa pressa) — O duque Windsor já está aqui.

— Margot disse que a mesma me chamaria. ( Me levanto da penteadeira e olhando Ana com certa dúvida)

— Minha menina, ainda acredita nela? ( Ana vem até mim e puxa-me pelo braço, com cuidado) — Vamos logo.

Desço as escadas e Ana me ajuda a desamarrotar o meu longo vestido. Pega com as duas mãos o meu rosto e me dá um beijo na testa.

— Não deixa aquelas medonhas diminuirem você na frente do duque Windsor.

Concordo com a cabeça, quando Ana se refere a

" aquelas medonhas", é das minhas meias-irmãs que ela está falando. Quando meu pai se casou com Margot, eu era muito nova, elas pelo contrário, eram mais velhas e adoravam pregar peças e me sabotar.

Entro na sala de convidados e vejo todos reunidos. Margot revira os olhos quando me vê e as minhas irmãs franzem o cenho, na frente delas há um homem sério que mantém seus olhos fixos em mim. Meu coração se acelera com o seu pesado olhar e sinto as minhas bochechas ruborizarem, vou até a sua frente e faço uma pequena reverência, como de costume.

— É uma honra tê-lo em nossa residência, senhor Windsor. ( Digo baixo, como sempre)

O homem não diz nada e continua me olhando fixamente, suspiro com as sensações que ele me causa apenas com o olhar e me afasto, indo ao lado de meu pai.

— Como eu dizia, meu duque. ( Nívea, uma de minhas irmãs retorna a dizer, com a sua voz melosa e seu decote gritante) — Nunca me casei.

O duque se mantém em silêncio, seus olhos continuam em mim, o que me causa desconforto e sentimentos estranhos. Ele é alto, tem os cabelos castanhos escuros e olhos azuis, uma barba bem feita e um maxilar definido. Digamos que o padrão perfeito para qualquer dama que almeja um marido bem de vida e gracioso.

Quando percebo que ele volta a atenção ao meu pai, e as minhas irmãs ficam se jogando no ponte homem, saio de fininho da sala. Ninguém estava prestando atenção em mim, nem irão sentir a minha falta e Margot irá me agradecer por ter me retirado em silêncio.

Vou até o jardim e me sento perto das flores, pego algumas e faço um mini buquê, sorrindo logo com o gesto.

— Um lindo buquê, para uma linda dama! ( Digo a mim mesma e reverencio, como se estivesse outra pessoa a minha frente.) — Eu fico lisonjeada.

Coloco a mão na boca como se estivesse envergonhada com o gesto do " Cavalheiro" a minha frente. Sempre fui uma garota que ama fantasiar, sonhando com um homem para cuidar de mim e me fazer a mulher mais feliz do mundo, sou apaixonada e devota por literatura inglesa, muito clássicos do amor e da paixão. Isso me faz sonhar mais ainda, sempre nos penduramos em degrais que nos quais não podemos subir, Margot jamais permitirá que eu me case antes de suas filhas, que já estão quase aos trinta anos. Desconfio que vários lordes e nobres já vieram me visitar, mas Margot sempre os mandava embora, sem nem ao menos me deixar vê-los.

Aproximo as flores do meu nariz e as cheiro profundamente, como se quisesse guardar na memória o aroma delas.

— É um belo local para se esconder, senhorita... ( Uma voz grossa e meio rouca diz, me viro rapidamente e me deparo com o Duque atrás de mim, me observando)

— D-duque. ( Reverencio novamente.) — O que faz aqui?

— Estava a procura de um lugar calmo... ( Ele diz e olha em volta, como se saboreasse a vista e as flores)

— De fato... ( Falo e deixo meu pequeno buquê no banco de pedra perto de mim) — Não irei o incomodar.

Peço licença para me retirar, mas sinto uma mão segurando o meu braço e olho para trás surpresa.

— Por que fugiu de mim, coelhinha?

Engulo seco ao ver o olhar de pedra dele em cima de mim, minha boca emerge em estado boquiaberta e meu coração se acelera. Por que ele me chamou de coelhinha?

— Eu... Não fugi. ( Digo baixinho, quase em um sussurro)

— Não seria bom para você me evitar. ( Tenho certeza que ele não se importa com o seu status social, só diz isso para me provocar, dado o ligeiro sorriso ladino que ocupa sua face.)

— Certamente... ( Abaixo a cabeça, como uma criança levando bronca por ter feito bagunça)

Olho para o homem a minha frente e me sinto uma pequena formiga ao lado dele - Que no caso, é muito alto e robusto -.

— Senhor... Eu, preciso me retirar.

Ele mantém a sua grossa mão no meu fino antebraço e sinto faíscas percorrerem o meu corpo, ele me solta relutantemente e se afasta um pouco. Reprimo os lábios e saio praticamente correndo de lá, o que foi isso?

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Comments

Liliana Silva

Liliana Silva

comecei a ler 7/3 as 19:20 estou gostando.

2024-03-08

2

Sousa

Sousa

também amo o nome Helena.

2024-03-04

1

NATALIA CAMPOS

NATALIA CAMPOS

Já estou amando, eu amo esse tipo de história !

2023-09-02

4

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