capítulo 20

Capítulo 20

Meu fim de semana, foi simplesmente um inferno. Totalmente agoniante.

Não parei de repassar um segundo sequer o nosso beijo e o que aconteceu depois, aquela conexão, aquele fio invisível de algo maior, algo que eu não saberia descrever.

Mas a segunda-feira tinha chegado e com ela, um certo vazio. Seria mais um dia que eu não veria o Jacob. Por um lado seria bom, porque eu não sabia o que aquele beijo tinha significado para ele. Mas para mim, eu sabia. Não podia mais negar.

Estava apaixonada.

E muito ferrada por isso.

Coloquei uma saia midi bordo, uma camisa social branca e meu sapato nude. Fui trabalhar, com aquele embrulho no estômago, sabendo que a radioterapia de Jacob estaria começando e que não seria eu a estar lá com ele. Mas ao menos seria sua mãe, que cuidaria tão bem quanto eu, ou até melhor.

Se ele se sentia melhor com os cuidados dela, eu não poderia querer outra coisa, tudo que importava era o bom estar dele.

Quando cheguei no trabalho, Heric me olhou surpreso por me ver pela manhã, depois de passar alguns dias vindo só a tarde. Não falei nada e nem abri o e-mail.

A surpresa tomou conta de mim, quando meu telefone tocou, o único que ligava era Jacob, mas o que ele estaria fazendo aqui?

Quando atendi, era seu pai. O que me deixou um pouco triste, mas não deveria, porque se Jacob estivesse aqui, não estaria na radioterapia, que é super importante para que ele melhorasse.

Levantei indo até a sala e senti que o olhar de Heric, me avaliando me seguiu, até quando eu entrei na sala.

- Bom dia, senhor Weller! - falei sorrindo, mas nenhum pouco animada.

- Bom dia e pode me chamar apenas de Vitor! - ele falou e tom amigável, como no sábado.

- Ok - falei me aproximando da sua mesa, aliás, mesa do Jacob que seria do pai por apenas um período.

- Preciso da sua ajuda, se possível! - ele disse ficando sério e olhando muitos papéis espalhados em cima da mesa.

- Claro, se eu souber, posso ajudar sim! - falei.

- Sente-se! - ele pediu apontando a cadeira - gostaria que me deixasse a par de tudo, não quero que meu filho se preocupe com nada, apenas com o tratamento. E como você é secretária dele, imagino que saiba bastante coisa!

- Sim, ajudo o Jacob com muitas coisas aqui da empresa!

Passei a manhã inteira com o pai de Jacob, atualizando ele sobre tudo. Inclusive quando ele pediu que eu contasse sobre os funcionários, eu o deixei a par de tudo. O Vitor parecia querer mesmo saber de tudo, o que era bom, queria dizer que a empresa estava em boas mãos.

Ele pediu almoço para nós, enquanto revisamos a papelada do processo que a empresa estava encarando, Vitor disse que não queria ser pego de surpresa, porque ele também iria ficar a frente disso. Então o resto da tarde, repassamos tudo sobre isso e sobre o que a empresa fazia de fato.

Descobri que o pai dele é empresário, mas do ramo do papel, o que eu não fazia ideia do que significava. Ele tinha uma empresa de reciclagem? Uma empresa que vendia papel? Eu não tinha ideia e como não quis parecer uma tola, fingi que sabia e fiquei quieta.

Quando o fim do dia chegou, eu fiquei muito grata. Porque estava exausta e ao mesmo tempo contente, porque tinha conseguido não pensar no Jacob ao longo dia. Embora estivesse pensando agora.

Nos outros dias eu sempre ia até a casa dele à noite, mas agora com seus pais lá, eu não sabia o que fazer. Então decidi não ir.

Mas ao chegar em casa, percebi que meu pagamento do mês estava na conta. Na verdade não, o pagamento de três meses estava na conta. Meus olhos saltaram da cara, eu nunca tinha tido seis mil dólares na conta.

O que Jacob tinha feito? Deus... agora que seus pais iam achar que além de nós termos um caso, eu estava o ajudando por interesse.

Não, eu não iria aceitar. Sentei no meu sofá e liguei para Jacob.

Quando aquela voz feminina atendeu, eu soube que era a mãe dele.

- Olá querida! - ela disse em tom casual.

- Oi senhora Weller, como está o Jacob? - perguntei.

- Ele está bem, descansado agora! - ela falou.

- Ah, sim. E como ele passou o dia?

- Fingindo que estava bem para não me preocupar, mas teve dois desmaios e vomitou algumas vezes! - ela disse baixo e meu coração ficou apertado. Eu sabia disso, mas ainda sim doía ouvir.

- É difícil, mas é necessário - falei suspirando.

- Sim, é. Obrigada pela preocupação! Quer deixar algum recado? - perguntou.

- Na verdade não, só peça que ele me ligue quando puder! - falei.

- Claro, eu digo sim! - ela falou, mas algo me dizia que ela não iria “incomodar” o filho com isso.

Após a ligação, tomei banho e comi uma fatia de pão com queijo e fui dormir. Claro que meu último pensamento foi em como os braços de Jacob eram o melhor lugar em que eu já tinha estado em toda a minha vida.

Quando acordei pela manhã, decidi que iria ver Jacob. Coloquei um vestido preto com mangas três quartos e meu sapato nude. Chamei um uber e fui até a casa dele.

Ao chegar lá os mesmos seguranças, que antes tinham corrido e caído por cima de mim, apenas acenaram com a cabeça e me deixaram passar sem perguntas. Quando entrei, Jacob estava sentado no sofá.

- Camila! - ele falou e ficou de pé. Seu rosto estava pálido, contrastando com a camisa polo verde, seus olhos estavam um pouco fundos, devido as olheiras.

- Jacob -  falei me aproximando e quando ficamos próximos nenhum de nós dois soube como agir.

Então ele se dobrou um pouco e beijou minha bochecha.

- Como você está? - ele perguntou sorrindo um pouco, seu rosto parecia bem cansado.

- Bem! Mas não importa, quero saber de você? - perguntei baixo e nos sentamos no sofá.

- Bem, fique tranquila! - ele falou e claramente estava mentindo.

- Jacob, não precisa fingir para mim! - falei tocando sua mão.

- Só um pouco enjoado e tonto! -  ele disse sorrindo e apertou de leve minha mão.

- Quis vir aqui ontem, mas não sei muito bem como agir com seus pais aqui! Não sei se eles iriam gostar.

- A casa ainda é minha! - ele falou sério e olhando no fundo dos meus olhos. -  Você pode vir a hora que quiser!

- Ok... - falei aliviada por ouvir isso - mas queria falar também sobre o meu salário, que caiu na conta ontem!

- Ah sim, eu liguei para o pessoal do RH ontem e pedi que subissem seu salário!

- Por que fez isso? - perguntei franzindo as sobrancelhas e ele suspirou passando as mãos nos cabelos.

- Porque você me ajuda com tudo, faz muito mais do que ser apenas minha secretária, cuida de relatórios, de contratos, participava de reuniões, me ajudava com tudo. Inclusive pegar meu café. Tudo isso é desvio de função. E requer um salário melhor do aquilo que era pagava a você!

- Aquilo era o combinado, eu aceitei quando entrei! Você me pegou três meses de salário Jacob, agora que sua mãe vai achar que eu era sua amante!

- Não me importo com o que minha mãe pensa. Construí minha empresa sozinho, posso estar afastado, mas ainda mando em tudo lá! E quero que aceite o salário que seu salário será esse de agora em diante!

- Eu não acho isso nenhum pouco certo! Veja bem, é claro que o dinheiro é ótimo, mas não é certo!

- É sim! Porque eu sou o chefe e estou dizendo que é! - ele falou puxando minhas mãos e não pude deixar de olhar sua boca quando um sorriso se formou em seus lábios.

Ele depositou um beijo em cada uma das minhas mãos, enquanto olhava no fundo dos meus olhos. Esse gesto de carinho e afeto passou por mim, como um choque elétrico, me fazendo sorrir involuntariamente.

Fiquei um pouco nervosa, mas foi como se naquele momento eu fosse a única coisa no mundo nos olhos do Jacob. O que me deixou desconcertada.

Ao que parece, ele andava me deixando frequentemente desconcertada.

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