capítulo 10

Capítulo 10

No dia seguinte quando cheguei para trabalhar, pensei seriamente em subir pelas escadas, fiquei parada em frente a porta do elevador, apenas olhando.

- A porta não vai se abrir sozinha! - falou Jacob, me assustando e me tirando dos meus pensamentos, me virei para o encarar e dei de cara com aqueles olhos azuis me encarando, assim como aqueles cabelos claros, que caíam levemente sobre sua testa. Ele estava com um terno cinza grafite bem alinhado ao seu corpo e uma camisa branca. Jacob segurava uma pasta de couro preto em sua mão esquerda.

- Eu sei! - falei respirando fundo - mas estou na dúvida se subo de elevador ou de escada!

- Já subiu alguma vez vinte e dois andares de escada? - ele perguntou e apertou o botão do elevador.

- Não, mas estou considerando se vale a pena! - admiti.

- Bom, eu digo a você, não vale! - ele falou e estendeu a mão para que eu entrasse no elevador quando a porta se abriu.

- Você já subiu pelas escadas? - perguntei exitando de entrar.

- Sim, você pode não acreditar, mas eu era um adepto a atividades físicas. Subia e descia todos os dias pelas escadas, mas me arrependia toda a vez!

- Ok... - falei baixo e passei devagar por ele, entrando no elevador. Jacob veio logo atrás e apertou o botão do último andar.

Ficamos em silêncio. Eu não sabia se estava nervosa porque estava com medo de que o elevador travasse novamente, ou se era porque Jacob estava lindo naquela roupa que parecia destacar seus olhos e seu rosto. Hoje ele parecia estar com um brilho diferente no olhar.

Assim que chegamos no nosso andar, Jacob me deixou sair primeiro e veio logo atrás.

- Será que podemos falar em sua sala? - pedi me virando para ele e Jacob pareceu se assustar com minha parada repentina.

- Claro! Venha! - ele disse e seguiu caminhando, agora eu estava atrás dele.

Passei pela mesa de Heric que me estreitou os olhos ao me olhar e vi um sorrisinho maligno em seus olhos. Ele estava imaginando bobagens.

Entramos em sua sala e Jacob fechou a porta, depois caminhou até sua mesa, largando sua pasta e tirando seu blazer. A camisa branca caía muito bem nele.

- Diga, Camila! - Jacob falou me olhando e apontou para que eu sentasse, ele quase nunca pedia que eu sentasse.

- Eu tomei a liberdade de pesquisar algumas coisas para você! - falei abrindo minha bolsa e então o pior aconteceu.

A arma que eu havia pegado dele naquele dia, caiu da minha bolsa, eu ainda não tinha tirado ela daqui. Por que eu não tinha tirado ela daqui?

Jacob ergueu as sobrancelhas e um leve sorriso marcou uma covinha na bochecha esquerda dele.

- Você pegou a arma de mim, para andar com ela por aí? - ele perguntou - Já disse a você que se for pega com isso, sem uma licença, vai ser presa, não disse?

- Sim, você disse e não estou andando com ela por aí - falei - mas os últimos dias têm sido corridos e não lembrei de tirar a arma daqui! - minha bolsa era grande demais e tinham coisas que eu deveria realmente dar um jeito de remover.

- Então, o que você pesquisou para mim? - ele perguntou enquanto me debrucei para pegar a arma caída no chão.

- Bom, pesquisei sobre clínicas que fazem testes experimentais. Remédios novos para ajudar no câncer, tratamentos... - falei pegando na bolsa o que eu queria ter pego antes de tudo acontecer. Estendi uma pasta com os papéis que eu tinha impresso para que ele visse.

Jacob pegou a pasta, abriu ela e começou a olhar os papéis. O tempo que se passou pareceu uma eternidade, eu não sabia se ele estava furioso, bravo, irritado ou se simplesmente iria me mandar a merda por estar me intrometendo.

Quando eu achei que o tempo havia parado, ele ergueu o olhar de encontro ao meu.

- Obrigado! - ele disse sério.

- Obrigado? - perguntei confusa, não sei se sabia o que aquilo significava.

- Sim, obrigado - ele disse me olhando nos olhos e com a luz do sol da manhã batendo em seu rosto, eu fiquei um pouco sem ar - você está querendo me ajudar, aliás, já tem me ajudado! E eu só posso ser grato, ultimamente fui péssimo com você. E apesar do modo como a tratei, aqui está você na minha frente, com um monte de papéis com tratamentos, remédios e clínicas que podem me ajudar de algum modo!

- Ah... de nada! - falei ainda confusa e perdida nos seus olhos.

- Vou olhar tudo e prometo que vou me informar sobre isso! - ele disse erguendo um pouco a pasta.

- Ok... - falei e ficamos nos olhando por vários segundos, então percebi que estava na hora de me retirar e então fiquei de pé. - Com licença, vou para minha mesa, se precisar é só chamar!

- Ok, obrigado! - ele disse de novo e eu saí apressada. Me sentindo uma idiota, ele com certeza notou meu nervosismo.

Fui para minha mesa e senti o olhar de Heric sobre mim, assim que abri meu e-mail, lá estavam milhões de perguntas dele.

“Eu sabia que você estava pegando o chefe”

“Sua cachorra, me conta tudo”

“O pau dele é realmente pequeno, ou estávamos enganados?”

“Quero todos os detalhes sórdidos sobre a rapidinha na sala dele”

“Ah e todo mundo já sabe que vocês ficaram presos sozinhos ontem dentro do elevador”

Deus... nós devíamos ser o assunto do momento hoje e eu ainda tinha ido direto para a sala dele, depois de chegarmos juntos. Será que todos estavam achando que estávamos nos pegando? Eu aceitaria tranquilamente que pensassem isso, se estivesse de fato acontecendo algo, mas não estava.

“Não fale bobagens, não está acontecendo nada entre nós e nem vai acontecer!” - respondi a ele.

Ouvi da minha mesa quando Heric relinchou como um cavalo. Decidi fechar os e-mails. Não queria saber mais sobre aquilo.

Como estávamos sem nada para fazer enquanto não houvesse uma resposta do processo que Jacob abriu para provar que não estávamos plagiando ninguém, decidi pesquisar mais a respeito sobre câncer nos rins e sobre pessoas que tinham se curado. Eu não sabia porque, mas queria muito ajudar Jacob. Não queria que ele morresse.

O dia levou uma eternidade para passar, como sempre. Já estava de noite, quando vi a hora e decidi que deveria ir embora, tinham apenas mais duas colegas em suas mesas, que eram bem longe da minha.

Assim que fiquei de pé e peguei minha bolsa, o telefone da minha mesa tocou. Era o Jacob  e pediu que eu fosse à sua sala.

Um leve arrepio percorreu meu corpo, suspirei lentamente e depois deixei que o ar entrasse nos meus pulmões. Não sabia porque ele estava me deixando tão nervosa.

Fui até sua sala e dei uma leve batida, depois entrei. Jacob estava sentado em sua mesa, com a luz do computador batendo no seu rosto, vários papéis espalhados em cima da mesa e quando me aproximei, vi que eram os papéis que eu havia dado a ele.

- Fiz minhas pesquisas sobre o que você me deu hoje pela manhã! - ele disse me olhando e eu me aproximei devagar.

- E o que achou? - perguntei baixo com um pouco de esperança, mas não conseguia decifrar nada em seu olhar. Ele estava muito sério.

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