capítulo 8

Capítulo 8

- Não... não sei se entendi... - falei baixo.

- Minha persiana estava levemente aberta, vi quando apontou o dedo para seu colega, mais cuidado, outra pessoa pode ver e não achar que é uma conduta adequada ao local de trabalho.

Meus dentes quase tinham caído da boca, minhas pernas estavam trêmulas e meu corpo inteiro suava. Graças a Deus, Jacob não estava falando das mensagens.

- Tem toda a razão, me desculpe! - falei abrindo a porta para sair o mais rápido que eu podia.

Sentei na minha mesa transtornada, ainda me recuperando do susto que tinha acabado de levar. Imagina se ele soubesse das mensagens.

“Que cara é essa amiga? O que o senhor pau pequeno falou pra você?” perguntou Heric pelo e-mail.

“Só me pediu alguns relatórios” respondi.

“Sei...”

Decidi não dizer nada, Heric estava desconfiado. Mas não tinha acontecido nada entre nós, exceto o fato de que tínhamos tido uma conversa além do profissional. E eu também tinha ido a sua casa e tomado café com o Jacob, pois é, isso não soaria bem aos ouvidos de ninguém. Se eu escutasse essa fofoca, ia contar pro Heric que com certeza estava rolando algo.

Mas no nosso caso, não estava.

Não fizemos muitas coisas ao longo do dia, visto que não podíamos mexer na nossa plataforma.

Depois que todos do nosso andar tinham ido embora, decidi que era hora de eu ir também.

- Camila, segura o elevador! - era ele. Jacob correndo para me alcançar, aliás, alcançar o elevador. Coloquei a mão na porta e esperei ele entrar.

- Boa noite! - falei.

- Boa noite, obrigado! - ele falou ajustando seu terno, depois da pequena corrida que ele tinha dado até aqui.

- De nada! - falei e ficamos em silêncio.

O elevador pareceu levar uma eternidade, quando estávamos chegando no terceiro andar, ele travou.

- O que está acontecendo? - perguntei apavorada.

- Eu não sei! - ele disse apertando alguns botões - mas acho que o elevador estragou.

- Não, não, não! Não é possível! Não excedemos o limite de peso nem de pessoas! - falei puxando a gola do meu vestido, estava ficando quente.

- Calma, Camila! - ele disse e apertou novamente um daqueles botões e logo alguém atendeu.

Jacob avisou que estávamos presos no elevador e a pessoa disse que chamaria ajuda. Pediu para esperarmos, que logo tudo seria resolvido.

- Que absurdo! - falei caminhando de um lado para o outro. - Um prédio deste tamanho, um prédio de luxo e o elevador simplesmente estraga, do nada. Não é possível!

- Camila, respira! - ele disse pegando gentilmente meu braço e me parando.

- Você não acha que está ficando quente aqui? Eu acho que o ar está acabando! - falei arregalando meus olhos e respirando com dificuldade.

- O ar não está acabando, olhe para cima! - ele apontou e eu olhei - aqueles pequenos furinhos, são exatamente para o ar circular, não precisa se preocupar, se tem uma coisa que não vai faltar é ar!

- Eu não estou conseguindo respirar Jacob! - falei sentindo meu peito subir e descer rápido, mas não parecia conseguir sentir o ar entrar nos meus pulmões.

- Calma! - ele falou e segurou meus dois braços e olhou nos meus olhos - respira e conta comigo.

Ele ficou contando lentamente, me distraindo e respirando devagar. Depois de algum tempo, não sei quanto, ele parou, mas ainda me segurava.

- Parece que eu tenho alguma fobia relacionada a elevadores! - falei ainda nervosa, porém bem mais calma.

- Parece! - ele falou e deu aquele sorriso torto, erguendo só o lado esquerdo da sua boca.

- Não ria de mim... - pedi, mas acabei sorrindo.

- Desculpe, é que você é tão segura sobre tudo, achei engraçado ficar com medo disso, mas tem toda a razão, não é motivo para rir!

- Não sou segura sobre tudo, tenho minhas inseguranças! - falei baixo.

- Acredito que sim, mas não deixa transparecer, sempre se faz de durona!

- Não é bem assim... - falei cruzando meus braços e só então notei que ele havia me soltado, mas ainda estava bem próximo a mim.

- Se você diz... - ele falou baixo e o elevador tremeu e as luzes piscaram várias vezes, depois se apagaram. Deixando apenas a luz de emergência acesa e iluminando muito pouco a nós.

- Ah Deus... - falei voltando a me apavorar - eu não quero que minha morte seja no elevador da empresa, não posso morrer assim!

Me encostei na parede lateral do elevador, espalmando minhas mãos ali e senti minha respiração falhar novamente.

- Calma, eles devem ter entrado no fosso do elevador e desligaram a energia, para tentar consertar!

- Está me dizendo que eles estão aqui, acima de nós mexendo em sabe se lá Deus o que, cortaram nossa luz e acha que vou me acalmar? E se um desses malucos mexer em um fio errado e o elevador simplesmente cair e nós virarmos patê de carne humana?

- Está se ouvindo? - ele perguntou e eu apenas estalei a língua irritada. - Sério, calma, é mais comum do que imagina, deve ser apenas uma falha mecânica!

- Não, não... vamos morrer Jacob! Vamos morrer! - falei com lágrimas ameaçando cair. - Salvei você a dois dias e agora vamos morrer juntos, quanta ironia do destino! - disse em meio às lágrimas.

Jacob se aproximou novamente e me pegou em seus braços, me deixando muito desconfortável.

- Vamos sair daqui, não vamos morrer tão cedo, aliás, eu vou. Em breve, mas você não! - ele falou calmamente, mas achei mesmo que ele estivesse ironizando sua doença.

- Não diga isso... - falei nervosa, mas com pena dele.

- Está tudo bem, já me conformei! - ele afirmou tranquilamente, como se fosse apenas uma verruga que tinha nascido no nariz dele.

- Pois não devia e com seu dinheiro, deveria procurar outras opiniões e tratamentos novos ou experimentais, hoje em dia, tudo é possível.

- Nem todo o dinheiro do mundo, me tiraria de um câncer neste estágio!

- Não, não é sobre dinheiro, é sobre lutar pela sua vida! - falei irritada, muitas pessoas desesperadas para viver um pouco mais e ele simplesmente conformado com a morte. Mas quando olhei em seus olhos, me arrependi, vi que ele não gostou.

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