capítulo 7

Capítulo 7

- Obrigada pela carona! - falei agradecendo, quando ele insistiu em me deixar em casa, depois do café que tomamos juntos. Jacob me deu o dia de folga e ainda me trouxe. Até que o dia tinha sido bom.

- Você me fez companhia e ainda me proporcionou uma boa conversa! Era o mínimo que eu deveria fazer! - ele disse olhando para a frente do carro, ainda segurando o volante com uma das mãos.

- Realmente, foi o mínimo mesmo! - falei sorrindo e ele me olhou e vi o divertimento percorrer seus olhos e suas feições, mas ele não sorriu.

- Sua atrevida! - ele disse em tom bem humorado. E eu abri a porta do carro, mas antes de descer, o olhei nos olhos e disse:

- Sei que o meu jeito atrevida atrai você!

Saí do carro antes que ele pudesse responder. O que eu tinha feito? Flertado com ele? Deus, eu estava ficando louca, o homem era um chato, ou ao menos eu achava que era, depois de hoje, tinha minhas dúvidas. Mas ele ainda era um viúvo, que perdeu a filha e a esposa num acidente.

Eu que não iria me meter nessa história, minha vida já estava complicada demais.

Passei o dia me cuidando, coisa que nunca tenho tempo. Pintei minhas unhas, hidratei meu cabelo e me depilei inteira, a coisa estava feia lá embaixo.

Depois estudei para minhas provas e fiz alguns trabalhos da faculdade.

Mas a noite, quando fui dormir, só me vinha o rosto do Jacob falando sobre sua família. Me partiu o coração ver sua dor. Eu podia entender bem porque ele quis tirar sua vida. Devia ser muito difícil seguir em frente e ter perdido as pessoas que mais se ama.

Na manhã seguinte, coloquei um vestido midi canelado cor vinho e meu sapato nude de sempre e fui trabalhar. Quando cheguei, meu e-mail estava cheio de mensagens do Heric.

“sua louca, não voltou ao trabalho ontem não é?”

“espera só o senhor pau pequeno ficar sabendo que você sumiu”

“ele já chegou com sua cara de poucos amigos”

“se cuida viu”

“Foi bom conhecer você”

Depois que li suas mensagens, assoviei para ele e apontei o dedo do meio. Nós dois sorrimos e eu respondi ele.

“não tenho medo do senhor pau pequeno”

Heric me olhou e ergueu uma sobrancelha, eu acabei rindo novamente.

“desde quando não tem mais medo?”

“nunca tive medo dele”

“VOCÊ TREPOU COM SEU CHEFE ONTEM SUA VADIA? ME CONTA TUDO”

Olhei para ele e balancei a cabeça.

“Não, por Deus, não diga bobagens, eu nunca transaria com ele. Você sabe né, meu dedo deve ser maior que o pau dele”

Nós dois rimos novamente e nos olhamos das nossas mesas. Mas a verdade é que depois que eu o vi com aquela bermuda ontem, não achava mais que ele tivesse o pau pequeno. Mas como eu iria contar isso, sem parecer estranho?

Bom, não iria contar.

O telefone da minha mesa tocou e claro, era o Jacob. Me chamando para sua sala. Eu não tinha mais medo dele, mas não deixei de ficar com as mãos um pouco suadas ao ouvir sua voz imponente ao telefone.

Assim que me levantei para ir até a sala do Jacob, ouvi a risadinha do Heric.

Bati na sua porta e logo entrei.

- Bom dia senhor Weller, com licença! - falei fechando a porta e segurando meu tablet, para anotar o que quer que ele fosse me pedir.

- Ontem era só Jacob, o que mudou? - ele perguntou olhando no fundo dos meus olhos e eu senti minha respiração falhar um pouco.

- É... bom, estávamos fora do local de trabal...

- Você pintou as unhas e seu cabelo está mais brilhoso - ele disse me interrompendo e ficando de pé, depois veio até mim, me deixando muito, muito nervosa. Jacob ficou a poucos centímetros de mim e me olhou diferente.

- É, eu hidratei... - falei passando as mãos pelo meu cabelo e depois me senti uma idiota.

- Ficou linda! - ele disse e me olhou de cima a baixo, sem se dar ao trabalho de disfarçar - está linda!

- É, obrigada! - eu devia estar sonhando, isso não podia estar de fato acontecendo.

- Segui seu conselho! - Ele falou se virando e começou a caminhar para longe, o que me fez finalmente respirar de verdade.

- Sobre o que exatamente? - perguntei voltando a realidade e tentando me concentrar.

- Sobre lutar pelo que é meu! Vou começar uma batalha judicial para provar que não plagiamos ninguém! - ele disse com firmeza e sentou em sua cadeira, mas antes abriu o seu blazer azul marinho, expondo sua camisa branca de botões.

- Eu fico muito feliz, mas o que disse sobre seu câncer? Falou que provavelmente não teria tempo...

- Sim, e provavelmente não terei! Mas vou pedir para o meu pai cuidar disso quando eu me for! - ele disse sério.

- Como se sente? - perguntei e fiz uma pausa - como se sente com respeito a isso tudo?

- Bom - ele disse suspirando e me olhou daquele jeito que me deixava desconfortável. - Cansado, triste e esgotado, mas com um novo propósito, graças a você!

- Graças a mim? - perguntei confusa. Eu não tinha feito grande coisa.

- Sim, você me lembrou das pequenas coisas e me lembrou que ainda posso lutar!

- Fico muito feliz por você! - falei sorrindo e juntei o tablet ao meu peito, não queria que ele visse minhas mãos tremendo.

- Obrigado Camila! - ele falou baixo.

- Se era só isso, já vou indo! - falei e ele acenou, mas quando coloquei a mão na maçaneta, ele me chamou:

- Camila, espera!

- Sim?

- Mais cuidado com as coisas que faz no trabalho! - ele avisou me olhando de novo daquele jeito.

MEU DEUS, ELE SABIA DAS MENSAGENS. COMO?

EU QUERIA MORRER.

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