capítulo 16

Capítulo 16

O resto da semana não foi fácil, ver Jacob saindo todos os dias da clínica, vomitando, desmaiando e com muitas dores na cabeça e no corpo, estava acabando comigo, mas eu não podia fazer nada além de estar com ele.

À tarde eu sempre ia para o trabalho, mas com o coração na mão. Heric não parava de me perguntar o que eu andava fazendo e se eu sabia sobre o sumiço do nosso chefe, que ele estava bem inclinado a achar que eu tinha matado Jacob e escondido o corpo.

No fim do dia, eu sempre passava para ver como Jacob estava. Alguns dias ele tinha melhorado, outros ainda estava de cama. Como era sexta-feira, decidi que tentaria animar Jacob, caso estivesse bem a ponto de levantar da cama, senão, eu apenas faria companhia para ele.

Quando cheguei, a funcionária dele me disse que Jacob ainda estava deitado e então eu subi, mas quando cheguei, ele estava no banheiro e pelo barulho, estava tomando banho, então fiquei ali sentada na poltrona esperando.

Para a minha surpresa, Jacob saiu só de toalha. O closet era do lado, então achei que ele entraria no closet primeiro para se vestir, ao invés de vir no quarto.

- Camila... - ele falou parando e me olhou, virei o rosto quando o vi só de toalha, ele tinha perdido peso e a recém fazia quatro dias da radioterapia - Não sabia que estava aqui, já volto! - Jacob deu meia volta e  foi para o closet.

Dois minutos depois ele saiu de bermuda e camiseta preta, com os pés no chão.

- Como você está? - perguntei ficando de pé e ele sentou na beira da cama e secou seu cabelo com a toalha branca, que já estava bem molhada do seu corpo.

- Menos mal do que ontem... - ele disse e eu sabia que ele só não queria me preocupar, então me aproximei e sentei ao seu lado.

- Diga a verdade, como foi seu dia?

- Vomitei umas quatro vezes e passei o dia deitado. Agora a pouco me senti melhor e decidi tomar banho!

- Comeu algo? - perguntei preocupada.

- Não!

- Você também não tomou café da manhã, ou seja, não comeu o dia todo!

- Eu não estou sentindo fome! - ele falou e olhou nos meus olhos, estávamos mais próximos do que eu calculei quando sentei.

- Sorte a sua que eu pensei nisso tudo! - falei sorrindo e ele me olhou confuso.

- O que você trouxe? - ele perguntou.

- Aquele quiche de frango que você disse que gosta, da padaria kirk! - disse sorrindo e ele sorriu de volta.

- Obrigado! - ele disse baixo. E eu respirei fundo ficando de pé, aquela proximidade não era boa, aliás, era e esse era o problema, porque não podia e não deveria ser.

- Venha, vamos comer! - falei e peguei sua mão.

- Eu consigo... estou bem! - ele falou e eu retirei a mão rapidamente.

- Ah... desculpe se fui grosso, eu só sinto que estou abusando de você!

- Não seja tolo Jacob, eu estou fazendo isso de coração!

- É difícil alguém ajudar outro hoje em dia, apenas de bom coração, acho que por isso me sinto mal, parece que estou devendo algo a você! -  ele disse enquanto descíamos as escadas.

- Não me deve nada e não vamos mais discutir sobre isso! Eu disse que ajudaria você e vou ajudar!

- Então, sobre isso - ele falou conforme entrávamos na cozinha - meus pais chegam amanhã, minha mãe vai ficar comigo até o fim do tratamento e meu pai veio cuidar da empresa!

- Ah, isso é ótimo Jacob! - falei animada.

- Acho que você não vai precisar mais se preocupar tanto comigo e minha mãe irá me acompanhar nas consultas! - ele disse eu levei alguns segundos para assimilar tudo.

Ele estava me dispensando.

- Isso é... bom! - tentei falar.

- Eu pedi que eles viessem, como disse sinto que estou abusando de você e você não tem obrigações comigo sabe...

- Eu não me sinto obrigada a nada, faço porque somos - fiz uma pausa, porque eu já não sabia mais, mas falei mesmo assim - somos amigos!

- Sim, somos! - ele falou se aproximando e segurou uma das minhas mãos com a sua. - E sou muito grato, por tudo que tem feito! Principalmente porque sem você eu teria desistido, minha mãe nem sabia do meu câncer, eu e meu pai não tínhamos contado. Mas agora que ela sabe, fez questão de vir aqui e ficar comigo! Ainda quero que venha me visitar e trazer quiches de frango escondido da minha mãe, porque aposto que ela vai querer que eu coma só verduras e legumes orgânicos - ele disse sorrindo.

- Claro que irei continuar vindo ver você! - falei tentando sorrir, mas com certeza falhei.

Comemos sentados na bancada da cozinha, Jacob comeu apenas metade e com muito esforço, porque ele gostava muito do quiche. Mas ao final, vi que ele estava ficando pálido.

- Você está bem? - perguntei olhando para seu rosto.

- Eu... estou! - ele disse, mas um segundo depois ele disparou pelo corredor e foi no banheiro perto da escada. Fui logo atrás.

Jacob vomitou todo o quiche e aquele líquido verde, como sempre. Ele abaixou a tampa do vaso e apoiou suas mãos ali, debruçando sua cabeça por cima.

- É isso... - ele disse com o som abafado, porque sua cabeça estava entre seus braços - que eu quero evitar que você veja, já me ajudou tanto, ninguém merece ver outra pessoa definhar!

- Jacob! - falei acariciando suas costas - quantas vezes terei que dizer que não me importo, que quero estar aqui! Preciso estar aqui, por você, por mim! - disse e Jacob levantou sua cabeça devagar.

Seu rosto estava com algumas gotas de suor escorrendo pela testa e abaixo dos olhos, seu olhar encontrou o meu e ele perguntou:

- Por que precisa? Por que? Depois de tudo que fiz a você, depois de ter tratado você como lixo, sendo grosso, estúpido, arrogante... fui um babaca idiota com você! Eu não conseguiria se fosse você. Acho que está fazendo isso por pena e porque achou que eu não tinha ninguém mais para me ajudar!

- Deus! Não estou fazendo isso por pena! Você agiu daquele jeito porque está sofrendo. E também você mudou! Tudo mudou, agora somos amigos e me importo com você, não ache que estou aqui por pena, por favor! Não diga isso, eu me importo, estou aqui porque eu quero estar, acredite! - falei ficando quase sem ar ao pronunciar estas coisas, mas a verdade era essa.

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