capítulo 15

Capítulo 15

Acordei sobressaltada na manhã seguinte. Tive um sonho terrível, aliás, um  pesadelo. Jacob tinha morrido após algumas sessões de radioterapia. E essa com certeza foi a pior parte. Mas o mais perturbador, foi que no sonho, na hora do velório, eu era a viúva dele.

Eu não conseguiria apagar facilmente esse pesadelo.

Quando Jacob me buscou ele estava de roupas casuais, assim como eu. Nós estávamos de jeans e camiseta. Eu não estava acostumada a ver ele assim, mas não podia negar, que ele ficava bonito de qualquer jeito.

- Nervoso? - perguntei na metade do caminho.

- Um pouco - ele disse suspirando - não, na verdade, muito nervoso. Não sei o que esperar!

- Pesquisou a respeito, não é? - perguntei.

- Sim e não devia ter feito isso. Não que eu não tivesse pesquisado antes, mas já tinha me esquecido de muitas coisas e agora tudo está fresco demais na minha memória.

- Bom, agora é tarde demais para qualquer coisa, inclusive para que eu brigue com você por isso! - falei apontando para o prédio a nossa frente. - É aqui!

- Sim, chegamos!

Jacob parou no estacionamento e depois subimos pelo elevador da clínica super renomada e ficamos na sala de espera do sétimo andar.

- Eu odeio o número sete! - Jacob falou quando sentamos nas cadeiras brancas para esperar.

- O que? - perguntei o olhando.

- Sétimo andar, número sete... eu odeio! - ele falou e tive medo de perguntar o porquê, mas perguntei.

- Por que?

- Foi dia sete de abril, às sete horas da noite que o acidente da minha família aconteceu! - ele falou olhando para a porta de entrada da sala de espera.

- Sinto muito...

- Tudo bem!

Ficamos num silêncio enlouquecedor, parecia que os minutos não passavam. E aquela sala inteiramente branca, como a clínica de ontem, não ajudava em nada.

Quando Jacob foi chamado, eu pude ir junto. Mas ele entrou numa sala e eu fiquei numa ao lado, com uma parede de vidro, onde tinham vários computadores, que controlavam a máquina que ele teria que entrar.

Assistir Jacob deitado naquela maca enorme, com o que parecia uma lanterna gigante pairando em cima dele, me deixou ainda mais ansiosa. Jacob tinha colocado uma roupa de hospital bem fina e estava deitado de olhos fechados.

Foram os vinte minutos mais demorados da minha vida. Parecia que tinha levado horas, talvez até dias. Ver ele ali, recebendo aquela dose enorme de radiação no seu corpo e não poder fazer nada, apenas observar, era difícil.

- Você já pode ir ajudá-lo! - disse o médico ao meu lado, quando desligou a última luz da máquina.

- Ok, obrigada! - falei e saí quase correndo em direção a porta de ligação.

Uma enfermeira estava ajudando ele a se sentar e deu algumas instruções para ele. Para mim, ela entregou alguns papéis, que eram receitas de remédios para enjoo, dores no corpo e na cabeça. E muitos outros, que iríamos comprar quando fossemos embora.

Eu o ajudei a colocar sua roupa, junto com a enfermeira e depois fomos lentamente até o carro. Jacob parecia querer fingir que estava bem, e quem não o conhecia, poderia dizer que sim. Mas ele parecia um pouco pálido e claramente estava um pouco tonto.

Coloquei ele no banco do carona e dirigi seu carro até uma farmácia. Jacob me deu seu cartão, sem pestanejar e pediu para que eu fosse sozinha.

Não sabia o que esperar da primeira sessão, mas com certeza hoje tinha sido só a primeira, as coisas com certeza iria piorar.

Comprei os remédios, que encheram duas sacolas médias. O que me deixou bem preocupada. A radioterapia e mais aquele monte de remédios, iriam debilitar ele, muito mais que apenas uma tontura ou mal estar.

Quando chegamos na sala de Jacob, ele estava ainda mais pálido e com mais dificuldade de andar. Ele parecia fraco. Coloquei um braço dele ao redor dos meus ombros e passei minha mão pela sua cintura e fomos até o quarto dele.

- Precisa de algo? - perguntei assim que o acomodei em sua cama.

- Não, estou bem! - ele falou baixo e não parecia nada bem.

- Está com alguma dor? - perguntei sentando ao seu lado, na beira da cama.

- Não, fique tranquila... eu só quero descansar. Obrigado por me acompanhar, não sabe o quanto isso está sendo importante para mim!

- Não me agradeça, mal começamos! - falei e percebi que nossas mãos estavam entrelaçadas em cima da barriga dele.

- Pode ir, se eu precisar de algo, alguma das minhas funcionárias, pode me ajudar!

- Ok, descanse! - falei, mas não tinha a intenção de ir embora, ao menos não agora.

Sentei numa poltrona que tinha ali e vi que Jacob adormeceu muito rápido, ainda muito pálido e as poucas palavras que trocou comigo, pareceram uma luta para ele.

Tirei todos os seus remédios das sacolas e li a bula deles. Depois procurei por uma caneta na cômoda cinza perto da janela e coloquei a hora que cada remédio deveria ser tomado do lado de fora das caixinhas.

Me assustei quando Jacob levantou num salto e correu para onde eu imaginei ser o banheiro. Ele mal conseguiu chegar ao vaso, sem vomitar. Fui até ele e me agachei ao seu lado, Jacob vomitou um líquido verde e depois se apoiou na parede de mármore, sentado no chão, com as pernas dobradas e suas mãos no rosto.

- Não precisava ficar aqui! - ele disse lentamente.

- Eu não gostaria de estar em outro lugar! - falei tocando seu braço e Jacob tirou as mãos do rosto e olhou nos meus olhos.

Ele ainda estava pálido porém com as bochechas bem vermelhas, assim como seus olhos, mas ainda era aquele homem lindo ao qual me deixava sem fôlego.

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