capítulo 9

Capítulo 9

- É fácil falar sobre lutar pela vida, quando você não perdeu tudo que mais amava! - Jacob disse e me deixou sem palavras.

- Desculpe... - falei baixo. E Jacob se afastou de mim, mas não parecia bravo.

- Tudo bem, compreendo que as pessoas não me entendam! Só quem passa para saber. - Jacob afrouxou a gravata a puxando para baixo, abriu o seu blazer e se sentou no chão.

O observei dobrar os joelhos e apoiar seus braços ali. Fiz o mesmo e sentei ao seu lado, mas com as pernas esticadas e cruzando os tornozelos, afinal não estava de calças.

- Gostaria de me contar sobre sua família? - perguntei baixo - ontem vi as fotos deles espalhadas pela sua casa, sua esposa e seus filhos, eram lindos!

- É... eles eram, puxaram toda a beleza da mãe! - disse ele pensativo e suspirou pesadamente, me cortando o coração. Ele também era um homem muito bonito, mas achei melhor não completar. - Mas prefiro não falar sobre eles...

- Tudo bem, eu entendo. É realmente muito recente! - falei e toquei seu braço que repousava no joelho com minha mão esquerda - Depois do soube sobre você, pensei muito sobre a minha vida e minha relação com meus pais, nós estamos brigados e ando pensando em retomar nosso relacionamento! - disse puxando assunto, afinal não sabia quanto tempo íamos ficar ali e não queria que Jacob ficasse pensando em coisas ruins. Eu vi a cara que ele ficou ao falar sobre sua família, era algo pesado demais para ele, seria para qualquer um na verdade.

- Por que você brigaram? - perguntou ele e vi que me olhou de esguelha.

- Bom - falei puxando o ar para meus pulmões que doíam ao ver Jacob triste - não é nada comparado com sua perda, mas para ser sincera, meus pais são muito rígidos e formais. Vivem no campo, então quando eu decidi que viria para a cidade estudar e trabalhar eles acharam um absurdo. Queriam que eu me casasse e formasse uma família e depois sim, poderia viver minha vida. Para eles eu sou uma perdida. E eu cheguei a pensar em aceitar isso, mas não consegui, não queria ser uma dona de casa, respeito quem quer ser, mas eu não queria e não quero. Eu almejo muito mais. - Falei lembrando de como as coisas aconteceram rápido. - Enfim, eu planejei tudo, achei um emprego de zeladora num prédio, me matriculei na faculdade, fiz as provas e passei, consegui o emprego e fiz as malas!

- E aposto que eles não reagiram bem a isso... - disse Jacob virando seu pescoço para me ver e nossos olhares se cruzaram, mesmo na luz baixa, eu podia ver seus lindos olhos azuis e seus cabelos loiros com pequenos cachos já se formando, o que quer que fosse que ele passava nos cabelos, estava começando a evaporar no calor que estava ficando dentro do elevador.

- Não... - falei sorrindo e erguendo as sobrancelhas - eu ia sair fugida de casa, aproveitei um dia que eles tinham ido à cidade fazer compras. Eu estava na frente de casa com uma mala gigante e uma caixa maior ainda. Tinha chamado o uber e estava esperando... mas eles voltaram antes do previsto e me pegaram no flagra!

- Surtaram? - Jacob perguntou me olhando estranho.

- Muito! Foi uma loucura completa! - disse abaixando a cabeça - Meu pai tentou me arrastar para dentro de casa, mas eu me neguei. Levei um tapa na cara, de minha mãe. Ela nunca tinha me batido, nem quando eu era criança e fazia coisas erradas. Mas naquele dia, ela virou a mão no meu rosto, quando consegui me soltar das mãos do meu pai. Para minha sorte, meu irmão estava chegando. Por isso eles tinham ido à cidade, meu irmão iria jantar conosco. Eu não sabia, ou teria escolhido outro dia!

- Não sabia que você tem um irmão - observou ele.

- É, eu tenho! Não nos falamos muito devido a correria do dia a dia, mas naquele dia, meu irmão Gregory foi essencial! Chegou bem na hora em que minha mãe tinha me batido. Greg desceu do carro correndo e se colocou na minha frente. Meus pais contaram a ele que eu estava fugindo e que nem sabiam para onde. Mas que tinham certeza que eu estava grávida e iria fugir com alguém comprometido!

- Você não tinha dito a eles sobre sua vontade de estudar e ser alguém?

- Disse, milhões de vezes. Mas parece que não me ouviram! Então contei tudo ao meu irmão, que entendeu com facilidade, porque ele tinha feito o mesmo e meus pais acharam ótimo, bateram palmas e viviam dizendo que ele era o orgulho da nossa família. Greg é advogado. -  Falei.

- Ainda bem que seu irmão chegou, porque com certeza seus pais não  teriam deixado que você viesse para cá! - disse Jacob

- Pois é. E meu irmão foi além, porque eu iria dividir um quarto com várias outras pessoas numa espécie de república, mas Greg não deixou. Ele alugou o apartamento em que moro até hoje e deixou um ano de aluguel pago. Aproveitei e juntei dinheiro, trabalhei fazendo muitas horas extras e estudando à noite. Agora que estou quase me formando, consegui o emprego como sua secretária e em breve quando eu conseguir meu diploma, espero que me dê um novo cargo! - falei sorrindo e o cutuquei com meu ombro.

- Considere feito, deixarei isso registrado, porque provavelmente não estarei mais aqui! - ele falou e eu fiquei novamente com uma dor no peito, Jacob era jovem e parecia ter tanta saúde, não parecia ter nenhuma doença, mas isso era porque ele não estava fazendo os tratamentos, se estivesse estaria com a aparência pior, porém com chances de sobreviver.

- Sei que já tomou sua decisão devido a tudo que passou, mas eu acho mesmo que deveria procurar por tratamentos alternativos... eu... posso ajudar você, posso até acompanhar você! Se quiser, claro!

- Olha Camila, eu agradeço ma... - fomos interrompidos por um solavanco que o elevador deu e logo as luzes voltaram o ar pareceu circular melhor e então o elevador começou a descer lentamente. Tinha voltado a funcionar.

- Graças a Deus! - falei suspirando. Jacob ficou de pé e me ajudou a levantar também.

Não dissemos mais uma palavra até chegarmos no térreo, ficamos apenas olhando um no outro do outro, Jacob ficou segurando uma das minhas mãos, mas acho que ele nem sequer notou.

Assim que descemos do elevador haviam algumas pessoas nos esperando. Mas estávamos bem, embora eu tenha surtado no começo, mas Jacob tinha sido incrível e me acalmou. Um paramédico nos examinou, o que achei uma frescura, mas um prédio de renome como esse, não poderia simplesmente nos tirar dali e pronto. Cerca de meia hora depois, fomos liberados. Jacob me ofereceu carona e como já era bem tarde, eu decidi aceitar.

Quando chegamos em frente ao meu prédio, notei que não tínhamos dito nada desde que entramos no seu carro.

- Obrigada pela carona! - falei sorrindo e soltei o cinto.

- De nada! Era o mínimo que eu podia fazer, já é bem tarde!  - falou ele olhando seu relógio, que devia valer mais do que seu carro.

- Jacob - falei tomando coragem - pense no que eu falei, não imagino sua dor, não imagino como se sente, embora eu veja sua tristeza estampada em seu rosto, não sei como não notei antes, acho que porque não o conhecia, enfim... apenas pense! Por favor, não desista de sua vida, eu tenho certeza que sua família, não iria querer isso e onde quer que estejam, com certeza estão torcendo para que você mude de ideia! - falei em tom gentil e segurei sua mão, quando olhei em seus olhos, vi que Jacob estava muito atento às minhas palavras.

- Eu vou pensar! - ele disse baixo e senti que ele respirava com dificuldade.

- Vou estar com você, posso ajudá-lo no que precisar, não exite em me pedir nada, eu posso o acompanhar, posso cuidar de você quando os tratamentos ficarem intensos, o que você quiser  e precisar! - falei mal respirando entre as palavras, não sabia o que tinha me dado, mas queria muito que ele lutasse, ele não podia desistir, ele tinha que viver!

- Obrigado, vou pensar, prometo! - ele disse sorrindo e apertou minha mão que estava em cima da sua.

--

Deixem suas florzinhas na área de presentes.

Seus votos, curtidas e comentários também são muito importantes para a divulgação do livro ❤️.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***