Capítulo 19 - Voltar

Já chega!... Não aguento mais ligar os fatos. E agora, a chuva irá fazer companhia, já que nunca vou acostumar-me comigo mesmo, muito menos com tudo o que aconteceu... Amizade, pássaro, e até o chico! Todos eles estão... mortos? Eu tenho que tomar essa decisão, nada mais limita o que desejo, mas não sei se consigo ficar amarrado, como antes, traz tanta agonia que me fez, no mesmo instante, arrepender-se de perder a vida.

"A morte espera o fim, a vida aproveita até o fim."

Nossa! A chuva cai com tanta força, queria que ela pudesse limpar-me de tudo o que sinto, mas que bom que posso sentir-me refrescado, nesse que, será o meu último dia. Decidi voltar para aquele lugar, eu quero voltar e tentar encontrar... O que restou da minha família, por mais que eu não faça a menos ideia, do que fazer ao chegar, preciso voltar ao lugar que fez amar alguém, um lugar que fez-me ter uma família de verdade.

"Após pensar, algo aparece, repentinamente"

O quê? Uma corda apareceu na minha frente? Ah! Para quem viu de tudo, já não mais causa tanta surpresa, apenas... medo. Eu sei que aquilo que desejei, também é o que esse ser deseja, que eu volte... Está a ficar frio, a minha roupa está mais que ensopada, é tanta chuva que não é visível observar além do campo, e a cerejeira não para de balançar, por conta desse punho do vento... Ei! Agora que percebi, tenho água para tomar!

"Ao juntar as duas mãos, ele colhe o suficiente para tomar."

Por que sofro dessa forma? Sozinho, deixado para trás, sem o meu pai, e à parte da verdade, sobre a minha irmã que nunca conheci? Será esse, o preço da existência indesejada? De um fruto falho compensador do luto, que de tanto procurar afeto da figura que cuidou de mim, acabou por perdesse sufocado na amargura, herdada. O que estou a dizer?... As vezes não sei se ainda sou criança, ou sou só uma cópia do meu pai, de qualquer forma, a corda está comigo.

"Ele soube na árvore a amarrar a corda forte."

Apesar de tudo, eu ainda acredito no destino, que ainda posso ser feliz de verdade, mas, pode não ser aqui nessa vida, por isso, que a outra vida me dê esperanças. Por algum motivo, já não mais sinto medo, queria entender essas mudanças de sentimentos, que acontecem frequentemente. Talvez eu esteja mais conectado com a fantasia, do que ela esteja comigo, até mesmo a corda tem alguns traços em azul brilhante, para mim, significa que sou especial naquele lugar.

"A chuva não passa, mesmo a ser dia, a visão do céu e ao redor, toma um tom acinzentado."

Pelo menos a mamãe livrou-se de tudo o que aconteceu quando, lentamente, ia a perder as suas memórias. Queria poder ter perdidos as minhas, talvez assim, eu não teria chegado a esse ponto, ainda sinto a dor no pescoço, já não basta a que eu vou sentir? Vou ter que esperar, enquanto sinto o frio congelar o meu corpo, até chegar na minha alma... De qualquer forma, a vida deu-me apenas alguns anos de vida...

"Pela fraqueza e frio, ele cai do galho no chão."

Então... Essa é a verdadeira dor da morte? Não sinto mais nada, estou quase a apagar, eu tento forçar os meus pulmões a funcionar, procuro posição para conseguir ar, e não deixar que entre água pelas minhas narinas, mas tudo fica mais difícil, para reagir. Os segundos para mim são como minutos, todos os segundos que a minha vida se esvai, é como cada minuto que passei de bom na minha curta vida. É o meu corpo a dar um último alívio, por pena do estado em que estou.

"Uma lembrança boa... passa pela sua mente."

Eu lembro-me da música que a amizade fez, era tão linda... A música para a minha vida... Que ela fez sem ao menos saber escrever, mas que tinha a sua alma nela. O frio está a congelar o meu ser, e a chama da esperança é fraca demais para suportar... Como eu queria levantar-me do chão, e caminhar para casa, novamente. Eu menti, aquela casa ainda tem memórias, tem momentos felizes, conflitos e... uma família. Como faz falta uma família..., mas agora é tarde... ainda, ainda... posso sonhar?... ainda posso... viver?...

"E então, ele dá o seu último suspiro..."

[Amizade] Eu sei o quanto o lucas deseja saber sobre o seu passado, e o quanto ele queria saber quem ele era, mesmo que isso custasse a sua própria vida... Mas eu queria que ele visse que tem uma família, pessoas que cuidam dele, alguém que ama, como eu o amo. O passado não pode existir, enquanto o presente está a ser feito, assim como o futuro não existirá, se o passado continuar a existir. Somos crianças, mas vivemos intensos sentimentos, que não éramos para sentir, mas precisamos ser crianças!

[Amizade] Eu sei que vou morrer, por isso tentei seguir em frente e realizar o meu sonho, até chegar o dia que tudo desmorona, e é nesse instante que a vida cobra, a força que não temos. Para não desistir do pouco de vida que tinha, eu mudei totalmente a canção que criei... para que fosse feita somente para mim. Por mais que não tenha um nome, eu gostei de chama-lá de "A música para a minha vida." Nos dias mais frios do inverno, nas noites mais quentes do amor...

[Amizade] Eu entendo o lucas, pois sinto o que ele sente, não como alguém que não sabe de qual lugar veio, mas de alguém, que sabe o lugar de onde saiu. Não me arrependo de estar aqui, como uma filhota, que tem uma voz única, e que tem um amor de mãe, verdadeiro! Não lembro quem me trouxe, mas o acordo foi esse... que eu fizesse parte desse lugar, como parte dele. Então, a melhor forma de fazer isso, é nascer aqui... Foi exatamente o que pedi, nascer nesse lugar, e deixar todas as memórias do passado para trás...

"Lucas, lucas!... Acorda! Acorda!..."

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