O Autor E Eu: Entre Pássaro E A Amizade

O Autor E Eu: Entre Pássaro E A Amizade

Capítulo 1 - O Prólogo

"E não se esqueça, o autor também irá morrer."

Disseram-me sobre um lugar, mas, como podem saber da existência dele? Preciso colher maçãs, mas não gosto muito. Na verdade, não gosto de viver... Nem fui eu quem escolhi nascer, foram meus pais, mas tenho certeza que como todo o mundo, eles nem planejaram ter-me. A significar que, a minha existência não teve um propósito ao nascer, então, não terá problema se eu partir. Bom... Talvez esse lugar exista.

"Você sabe qual é o nome do autor?"

Colhi com muita dificuldade, gosto de paisagens, em terra, e não em galhos de árvore. Vale a pena por um sorriso da mamãe... Tenho certeza, que se ela deixasse eu explorar até o final do campo, acharia outras árvores com frutos diferentes, talvez assim, evitaria enjoos que, provavelmente, ela terá. Faz um tempo que ela não lembra de algumas coisas, e um dia, ela também esquecerá de mim.

"O autor está cansado, e já não mais pode suportar."

Eu até gosto da minha cestinha, mesmo a querer levar todas às maçãs em um pano, e amarrar com uma fita, como fazia antes. Mas como a minha cestinha é um presente de muito valor sentimental, sinto-me muito bem em usá-la, eu até canto na volta para a casa, só para ter certeza que as maçãs terão um gostinho doce, do meu amor por ela. Nossa... O tempo passa, ontem eu tinha 5 anos, hoje tenho 9 anos, e daqui há 2 dias será o meu aniversário. Eu não quero ter 10 anos.

"Ele sabe que não irão se importar, mas… A dor não diminui."

O tempo passou tão rápido, nem parece que foi ontem que eu fui colher maçãs. Bom, ontem ela nem comeu às maçãs, ela... Mau se lembra de mim. Talvez porque eu me pareça com o meu pai, sabe... Nem sempre amei a mamãe. O meu pai sempre deu todo o amor e carinho que precisei, deve ser por isso, ele... Faz tanta falta, e como esperado, somente eu sinto essa falta. Acredito que não é melhor eu perder o meu precioso tempo, vou para o quintal, plantar uma árvore.

"O autor sente que não deveria ter acordado."

Nossa casa é bem no meio de um grande campo, todo verdejante, com montanhas cobertas pelo horizonte, cujos os lugares, não tenho desejo em explorar. Mesmo a não ter tantas coisas por aqui, respiro o ar puro, alimento-me de frutos naturais e frescos, vejo as estrelas, e sinto o vento muito refrescante, ao balançar no meu balanço, além de poder, ter a alegria de viver comigo mesmo, só não sei até quando. Ela não disse, mas eu sei o que ela quer fazer, e eu não vou deixar!...

"O autor não quer contar como o papai morreu."

Não posso sair de casa hoje, estava no porão a rever as fotos do papai, quando pisei em falso em umas das tábuas de madeira velha, no chão, que ao quebrar, cortou o meu pé e o meu calcanhar. A mamãe brigou comigo, e como castigo, ela não deixou eu sair de casa, escondeu o álbum de fotos e não fez o bolo do meu aniversário. A única coisa boa, é que em baixo do porão estava a bolinha do milo, o meu cachorrinho que nunca mais terei por perto, como ele gostava da bolinha

"Milo, é o cachorro do papai. Morreu após comer comida estragada."

Não sei o horário, devem ser algumas horas da madrugada, lavei bem o meu rosto, para não ficar a cair no sono. Fui até o quintal, onde o enterrei, ainda não sei como ele morreu, é tudo bastante confuso para mim. Enfim, estou acordado porque que eu quero fugir de casa!... Ah!… A quem eu quero enganar, mau consigo andar direito, melhor eu voltar para a casa, mas antes, vou-me balançar no balanço, a noite está tão linda, cheia de estrelas.

"Porque o autor existe? Todos nós criamos vazios inexplorados."

Pela primeira vez, a mamãe pediu maçãs. Porém, Infelizmente ela não soube dizer o meu nome, ela esqueceu-se do nome que ela mesma deu-me? Quer saber... Vou colher às maçãs, o meu nome não tem importância mesmo. A olhar no espelho agora, eu vejo o quanto eu sou o meu pai, numa versão criança. Tenho olhos verdes, mas queria tanto ter olhos pretos... São tão lindos. Após eu passar um gel no meu pé, não sinto mais a dor, já posso pular e cantar!

"O autor, não quer que você saiba o nome dele, chame-o apenas de Lucas."

Hoje eu tomei a minha decisão, em todos esses meses, eu tenho sido o mais paciente e muito carinhoso com ela, pelo fato do papai não estar mais vivo. O problema, é que ela nunca esteve em luto. Eu vim todo feliz a trazer às maçãs, às malditas maçãs! Só para ver uma pequena fumaça a vir atrás da casa... Ela queimou o álbum e as memórias do papai! Como se nunca deveria ter existido! Eu questionei-a, e ela jogou às maçãs no fogo, a dizer que eu iria ser levado embora...

"O autor não pode fazer nada, ele não teve culpa."

Já é madrugada? Eu nem percebi. Passei todo esse tempo a chorar... Uma coisa não sai da minha cabeça. Qual lugar de felicidade é esse!? Será que esse lugar é tão bom? Não quero ir embora para outro lugar, ela nem ao menos, disse onde eu vou ser mandado, eu nunca saí daqui, e eu não quero ir. Eu não vou! Ela... ela acabou com o meu aniversário, queimou o álbum de fotos do papai... Ela nunca amou o meu pai, ela nunca me amou! Como ela pôde fingir por todo esse tempo. Eu vou para aquele lugar, e vou agora!

"O autor, não sabe quem contou a ela, sobre a existência desse lugar..."

Antes, vou balançar-me no meu balanço, pela última vez, a ver as estrelas, deitado no gramado, a escrever uma carta para que, quando ela perder a memória, talvez ao ler se lembre que teve um filho, e o que ela fez... Essa corda é muito grossa, eu estou com um pouco de medo, confesso... A cada minuto que passa, enquanto caminho até a árvore com maçãs, lembro-me do que vivi, essas, são as minhas últimas lágrimas, e também, os meus últimos pensamentos.

"O autor quase chora. Mas ele sabia que isso iria acontecer, de novo."

Disseram-me, que as árvores de maçãs são um pouco pequenas, mas essa aqui cresceu muito. Talvez ela soubesse que alguém iriam testar o quanto forte e resistente é os seus galhos, com uma corda amarrada nela e no pescoço. Bem, eu vou ser essa pessoa. Não gosto de altura, mas vale a pena o sacrifício, o outro lado deve ser diferente. Esse é o galho ideal, o céu está tão lindo... Olha! Um cometa! Tenho um pedido...

" O autor está ausente, e isso, também aplica-se a sua existência."

Mas... Eu não tenho um pedido para fazer. Eu teria que ter? Eu ainda posso sonhar?... Como eu queria que o papai estivesse aqui, para responder essas perguntas... Para me abraçar... Para me amar como o amo, papai... Ajude-me, papai... Não me deixa fazer isso, eu, eu só quero saber se está lá, se estiver lá, eu vou-te procurar... Até o fim... Eu juro, eu juro papai... PAPAI!!! (Au!)... M-Milo!?

"Existe uma cerejeira, em algum lugar, no campo."

A quem eu quero enganar, isso são só alucinação da minha cabeça, não devia ter pensado tanto, e nem me distraído com esses pensamentos. Deve ser por ter pensado nele, que eu ouvi o seu latido. Eu nunca vou esquecer-me de você, nossa... que alívio eu estou a sentir agora, é como se fosse o fim de tudo... De um peso de tempos em tempos, que tive que carregar, com um sorriso e com um cantarolar, com... Um amor... Que saber, sempre gostei de maçãs, como o meu pai.

"O autor sente muito, mas recusa-se a voltar, não sei onde ele está."

Vamos lá, coragem! Toda a dor que eu senti nessa curta vida, finalmente vai chegar ao fim. A mamãe nunca gostou desse lugar, o papai, no entanto, amava muito, só não amava mais que a mim. Fiz toda a força que pude, não posso deixar que a corda solte, a dor que eu vou sentir, não vai comparar-se com a dor de cair de uma altura tão grande. É a hora de dizer adeus. (...) Grr... isso dói... então é assim que é a dor da morte? Não tenho tempo... Mamãe... Saiba... que eu te odeio.

"Parece que o autor planeja algo, mas não quer contar."

...{A Carta}...

(Mamãe, quando estiver a ler essa carta, por favor, não jogue fora ou queime no fogo, sem antes terminar de ler. Espero que as minhas palavras sejam frias, tanto quanto a dor da perda, que pode estar a sentir agora, e não falsas, como os seus sentimentos pelo papai, eu e o milo. Essas serão as minhas últimas palavras para a senhora. Não haverá despedidas, muito menos arrependimentos, somente palavras guardadas, durante todo esse tempo. Essa, é a carta dos segredos... Que escrevi somente para você...

"Existem significados perdidos. O autor atenta para essa observação."

Fazia um tempo que eu queria olhar no álbum de fotos do papai, mas o medo é a tristeza cobravam um pouco mais de tempo. Não sabia, mas a senhora sim, que aquele álbum não tinha somente fotos antigas. Proibir-me de entrar no porão, com ameaças de punição, só alimentavam cada vez mais a minha curiosidade e dúvida. E as respostas para todas as perguntas, estavam atrás daquela porta. Você mudou o tratamento, e eu sou o resultado da sua existência.

"O autor percebeu algo, mas logo disfarçou. Ainda não é a hora."

A senhora conhecia bem o filho de tinha, por isso, colocou uma armadilha em um lugar bem estratégico, mas não era tão eficiente como deveria ser. Em vez de funcionar antes mesmo de eu ver o que tinha no álbum, só funcionou após eu verificar, ler, tudo o que estava guardado. Uma coisa não dá para entender... Se não queria aquele álbum, mãe. Por que não queimou antes? Esperou que tudo viesse a acontecer, para então por um fim com a mesma frieza que fez com o milo...

"O autor, não lembra em que estação ocorreu esses eventos."

Eu era a última pessoa que desejaria esquecer, e agora, irá esquecer mesmo que não queira. Eu queria entender o porquê arrependeu-se de ter casado, quando viemos morar nesse fim de mundo? Eu cheguei tempo após, o balanço já existia, e uma parte de uma possível casa na árvore, existente, quando eu colhi as maçãs, pela primeira vez. Não foi o papai que tentou construir aquilo, e, porque não me disseste?

"As árvores são pessoas. Pessoas são alegorias, todos têm um propósito único."

Quem você é? Por que não me deixou ver o túmulo dele? Ele foi enterrado, e você matou-o, nos seus sentimentos e pensamentos, e queria que eu fizesse o mesmo. O que aconteceu com você, foi uma falha tentativa de acabar com tudo e deixar-me sozinho. Sabe mãe, desejaria que você tivesse pena de mim. Existem respostas que nunca saberei, e perguntas que não poderão ser mais feitas. Uma parte do meu interior, amava-te muito, mas assim como você, essa parte não lembra mais...

"O autor, adormeceu ao som das ondas, em um final de tarde. Descanse em paz."

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Laura Nunes

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2023-11-04

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Laura Nunes

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2023-11-04

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1 Capítulo 1 - O Prólogo
2 Capítulo 2 - Campo/Parte 1
3 Capítulo 3 - Campo/Parte 2
4 Capítulo 4 - Campo/Parte 3
5 Capítulo 5 - Campo/Parte 4
6 Capítulo 6 - Vila dos gatos/Parte 1
7 Capítulo 7 - Vila dos gatos/Parte 2
8 Capítulo 8 - Vila dos gatos/Parte 3
9 Capítulo 9 - Vila dos gatos/Parte 4
10 Capítulo 10 - Floresta das algas/Parte 1
11 Capítulo 11 - Floresta das algas/Parte 2
12 Capítulo 12 - Escola da ilha/Parte 1
13 Capítulo 13 - Escola da ilha/Parte 2
14 Capítulo 14 - Escola da ilha/Parte 3
15 Capítulo 15 - Escola da ilha/Parte 4
16 Capítulo 16 - Vale das Lamúrias
17 Capítulo 17 - Sozinho
18 Capítulo 18 - Cerejeira
19 Capítulo 19 - Voltar
20 Capítulo 20 - Maresia
21 Capítulo 21 - Passado/Vila dos Pássaros
22 Capítulo 22 - Objetivo/Vila dos Pássaros
23 Capítulo 23 ‐ Rejeição/Vila dos Pássaros
24 Capítulo 24 - Central
25 Capítulo 25 - O Retorno a Vila dos Gatos
26 Capítulo 26 - Guerreiro Julivan/Parte 1
27 Capítulo 27 ‐ Guerreiro Julivan/Parte 2
28 Capítulo 28 - Lars
29 Capítulo 29 ‐ Sequestro/Vila dos cães
30 Capítulo 30 - Ataque/Vila dos Cães
31 Capítulo 31 - Onde tudo começou/ Vila do Cães
32 Capítulo 32 ‐ Vingança/Vila dos cães
33 Capítulo 33 ‐ Início do Fim
34 Capítulo 34 - Cidadela
35 Capítulo 35 - Hans
36 Capítulo 36 - Armeiro/Parte 1
37 Capítulo 37 - Armeiro/Parte 2
38 Capítulo 38 - Descoberta
39 Capítulo 39 - Falta
40 Capítulo 40 - A guerra Inicia-se
41 Capítulo 41 - Feridas do Passado
42 Capítulo 42 - O plano
43 Capítulo 43 - Haras
44 Capítulo 44 - Lantherina
45 Capítulo 45 - Última investida
46 Capítulo 46 - Viagem
47 Capítulo 47 - Vale da Lamúrias - Derrota
48 Capítulo 48 - Família/Episódio Final
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Atualizado até capítulo 48

1
Capítulo 1 - O Prólogo
2
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3
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