Tem que ser

As mãos de Lucian alcançam as laterais do meu pescoço com sutileza, enviando pequenos arrepios por todos os meus membros. Seu toque é quente e elétrico, e existe uma certa familiaridade no modo como seus polegares acariciam minhas bochechas enquanto ele me beija.

O simples toque da sua boca com a minha, é suficiente para me levar para longe. Para momentos que eu estou certa de nunca ter vivido, mas que ainda assim parecem mais reais do que qualquer coisa que a minha imaginação poderia criar.

Flashes de risadas e beijos dentro desse carro me atingem. As cenas de sexo e os juramentos de amor roubam o meu fôlego antes que o homem a minha frente tenha essa chance. Meu coração perde totalmente o controle, e por um momento eu o sinto partindo em um milhão de pedaços, apenas para se reconstruir outra vez em chamas.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto sem que eu consiga impedir. Ao mesmo tempo, meu corpo reage de uma forma totalmente nova. Como se tivessem vida própria e conhecessem o caminho melhor do que eu, minhas mãos se agarram a camisa de Lucian, o puxando para mim.

O beijo dele é quase desesperado. Sua língua brinca com a minha de forma envolvente e agradável. Um encaixe perfeito, como se tivéssemos sido feitos um para o outro.

Não sei quanto tempo passa até que a falta de ar o force a se afastar da minha boca. Ainda ofegantes, ele encosta sua testa na minha, com os olhos fechados. Ele não me solta, como eu pensei que faria, muito pelo contrário.

— Tem que ser você... - sua voz é um sussurro rouco e embargado. E um pequeno soluço escapa antes que ele possa se recompor. - Eu não sei se posso suportar te perder outra vez.

— Me diz... - vê-lo parecer tão vulnerável desse jeito desperta um sentimento novo em mim, que me guia em minhas palavras. - Me diz porquê eu tenho tido esses sonhos e fantasias estranhas desde que vi você...

— Diana...

Ele olha para mim, finalmente. E percebo que seus olhos estão marejados, cheios de emoções demais para listar. Eu vejo então o quão desesperado ele está por encontrar de novo essa mulher. A intensidade do amor que ele sente por ela, que me faz desejar com todas as minhas forças que eu possa tomar seu lugar, por mais egoísta e insensível que isso seja da minha parte. Eu faria qualquer coisa para que ele me amasse dessa forma. Para ser realmente a sua Diana.

Não temos tempo e nem oportunidade de dizer mais nada um ao outro, isso porquê um segurança da boate bate no vidro do motorista, chamando nossa atenção.

Não posso evitar de sentir frio quando as mãos de Lucian se afastam da minha pele, deixando apenas um leve formigamento no lugar. Eu demoro alguns instantes para voltar a mim, enquanto meu chefe conversa com o segurança. Ajeito meu terninho o melhor que consigo e solto o cinto de segurança, recuperando minha postura antes de conferir casualmente meu celular.

— Você está legal?

— Uh?... Sim, eu estou. - olho para ele, sentindo vergonha de mim mesma. - E você, está bem?

— Ah... Sim. Não se preocupe comigo. - ele respira fundo, passando a mão outra vez por seus cabelos. - Me desculpe por isso, Crystal, eu não quis...

Ele não termina de falar, evitando olhar para mim. Lucian então desce do carro e dá a volta, abrindo minha porta para me ajudar a descer do carro. Por algum motivo, seu pedido de desculpas deixa um gosto amargo na minha boca e um aperto irritante no meu peito. Quando aceito a mão que ele estende para mim, o contato queima.

......................

Entro no camarim de forma totalmente automática. Minha mente ainda está presa a sensação de ser beijada por Lucian Falcone. E meu coração ao claro arrependimento dele por ter feito isso.

Me deixo cair sobre o sofá, olhando para o teto como se minha alma tivesse sido arrancada de mim. Eu sei que é dramático da minha parte, mas eu nem sequer me lembro de ter sentido essas coisas por outro homem antes. O que é ridículo, porquê eu tenho uma filha, e é óbvio que eu sei da onde vêm os bebês.

— Planeta Terra para Crystal!! - Violet chacoalha as mãos diante de mim com uma expressão animada. - O que há com você, docinho?!

— Uh?... - Pisco repetidamente, voltando lentamente para a realidade. Encaro a garota na minha frente, que sorri com um traço de preocupação no olhar. - Minha vida está virando uma montanha russa cheia de loops...

— E isso é bom ou ruim? - Ela se joga no sofá ao meu lado, observando a parede.

— Aí que tá o problema... Eu não faço idéia. - afundo meu rosto em minhas mãos, me sentindo patética. - Eu gosto daquele cara. Mas ele é meu chefe, e acha que eu sou sua esposa que morreu... Pra piorar, eu não consigo me lembrar de nada da minha vida antes do nascimento de Sophie, e toda vez que eu tenho um momento de proximidade com meu chefe, alguém tenta nos matar.

— Minha nossa... Sua vida virou um filme de ação ou uma série da Netflix, foi? - ela suspira e se levanta, indo mexer nas araras de trajes.

Violet é minha amiga desde que me apresentei aqui pela primeira vez há cerca de um ano. Ela parece uma gata, em quase todos os aspectos. Alta, com um corpo atlético e flexível, bronzeada e com traços latinos. É quase sempre animada e muito sedutora, além de esperta. O baixo astral não dura muito perto dela.

— Ok, já chega! - ela agarra meu pulso e me força a ficar de pé, me levando para a cadeira de frente a penteadeira que dividimos. - Depois você lamenta sobre a sua vida emocionante. Agora, nós temos um show para fazer, e você, querida, é a estrela da noite.

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