Confiança.

Lucian e eu andamos de mãos dadas por alguns metros, antes de percebermos o que está acontecendo. Ele solta a minha mão imediatamente, ajeitando sua gravata, enquanto eu ajeito meu blazer, sentindo meu rosto queimar.

Percebo que o Senhor Falcone não está andando no mesmo ritmo de quando viemos, parecendo mais relaxado. Com a luz do sol da tarde iluminando seu perfil, ele parece um deus grego. Não fantasiar cenas de romances clichês com ele custa toda a minha força de vontade.

Mas por alguma razão, ele parece distante. Eu quase consigo ver as engrenagens girando loucamente na sua cabeça enquanto ele presta atenção em um ponto fixo a nossa frente. Quando penso em perguntar se ele está bem, ele fala comigo.

— Meu pai gostou de você. E ele não costuma gostar de muitas pessoas... - ele diz em um tom calmo, sem olhar para mim. - Não sei se você sabe que tipo de pessoa ele é, mas eu devo te parabenizar. Ele é bem difícil de agradar, ainda mais quando se trata de mulheres.

— Ah... Obrigada. Ele é muito gentil e agradável, foi fácil passar algum tempo na companhia dele... Apesar de que eu não acho que a Prudence diria o mesmo.

— Ele odeia secretárias. Acho que você está sabendo disso... Meu pai já foi traído por algumas delas. Todos na família fomos. - seu olhar se torna sombrio por um momento. - por isso nós apreciamos a honestidade. E pessoas nas quais podemos confiar.

Lucian para bruscamente de andar, e se vira para mim, segurando meu braço. Eu não ouso me mover, sendo atraída inevitavelmente para seus olhos cor de esmeraldas. Ele ergue a mão e retira os meus óculos, me observando com seriedade. Minha respiração desaparece, com medo do que ele vai dizer.

— Diga, senhorita Amber, você achou mesmo que eu não a reconheceria naquele palco ontem a noite? Era esse o seu compromisso para o qual estava atrasada, não era... Que outros segredos a senhorita deseja manter? Estou certo de que "estrela noturna" não consta no seu currículo.

— Eu... Uh... - fecho os olhos por um instante, absorvendo suas palavras, então o encaro de volta, determinada. - Estamos trabalhando juntos há apenas dois dias, Senhor Falcone. Não espere que eu te entregue um dossiê contendo todos os meus segredos assim tão depressa.

Puxo meu braço para longe de seu aperto firme, sem sucesso. Ele me lança um olhar irritado, como se adagas de gelo saíssem de seus olhos para me cortar em pedacinhos, eu penso. Porém não é o suficiente para me fazer recuar. Se ele quer alguém em que possa confiar, eu darei isso a ele. Mas não de forma fácil, como ele parece estar esperando.

— Você se esqueceu que eu sou o seu chefe agora, Senhorita Crystal? - ele aperta o meu braço, me trazendo para mais perto de sí, até seu rosto estar a poucos centímetros do meu. - Não sei que tipo de homem a senhorita está pensando que eu sou, mas garanto que não vou tolerar que me trate como um idiota.

— Pois então não aja como um, Senhor! - desço meus olhos para sua mão em volta do meu braço e ele acaba me soltando, embora não se afaste. - Eu garanto que o senhor pode confiar em mim como sua assistente, e o tempo te provará isso. Mas da minha parte, não espere que eu confie na sua pessoa só porquê me paga uma quantia razoável mensalmente. Eu sou sua funcionária, não sua esposa! E minha vida pessoal não é da sua conta.

Me afasto dele e começo a caminhar rumo a empresa, repassando a lista de defeitos feita para ele e fazendo adições. Mimado, Grosseiro, Rude e Mal educado com qualquer um que não esteja no seu nível. Também é mal humorado e sério demais, talvez até a pessoa mais infeliz que já conheci nessa vida. Um almofadinha imbecil como chefe, era só o que me faltava. Eu juro que tentei dar uma chance para esse homem de ser um chefe agradável. Deus é testemunha.

— Sugiro que o senhor se apresse se não quiser chegar atrasado na sua próxima reunião. - digo com extrema rispidez, me preparando para atravessar a rua quando seu braço me puxa contra si.

O tempo de as minhas costas se chocarem contra seu peito rígido sob o terno, é o tempo exato de um carro passar em alta velocidade á poucos centímetros de mim, levando minha alma consigo. Eu fico totalmente sem reação por vários segundos, e um flash de memória passa por mim rapidamente. Sinto minhas pernas falharem e Lucian apertar seu braço ao meu redor para me impedir de desabar.

— Isso é o que você ganha por deixar sua raiva te dominar... Certifique-se de prestar mais atenção da próxima vez. - ele resmunga, afrouxando seu aperto ao meu redor até perceber que não estou reagindo. Ele me olha preocupado. - Você têm certeza que está bem?

— Eu... Eu acho que já passei por algo assim antes. - As palavras saem antes que eu consiga perceber.

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