O Pai do Chefe

Já estou na minha sala há cerca de uma hora e meia, enviando e-mails, dando telefonemas, fazendo agendamentos. E meu café já foi todo embora. Faço uma pausa de alguns minutos para ir no banheiro, e estou voltando para meu computador, o qual já nomeei como Alfred, quando vejo uma pequena comoção na recepção do andar.

A secretária parece a beira de um colapso, diante do olhar irritado de um senhor de terno na casa dos 70 anos. Ele é bem vestido e tem a postura de alguém importante, olhando para a jovem na recepção como se ela fosse um inseto. Ela, por outro lado, está a beira das lágrimas.

Enquanto me aproximo da porta da minha sala, pondero algumas vezes sobre a situação. Por fim, acabo seguindo até a recepção com meu melhor sorriso, disposta a fazer meu ato de caridade da semana e ajudar a pobre secretária com prováveis problemas de autoconfiança.

Assim que chego a recepção, a secretária suspira aliviada, e o olhar do senhor cai sobre mim, me examinando dos pés a cabeça com muita atenção. Como se tentasse decidir qual espécie de animal eu sou.

— Bom dia, senhor. Bom dia, Prudence. Posso ajudar em algo? - olho do homem para a jovem com simpatia.

— Quem é a senhorita? - o senhor me questiona com seu sotaque italiano, estreitando os olhos para mim com certa desconfiança.

— Crystal Amber, assistente do Senhor Falcone... - lembro então de uma mensagem que o Sr. Workaholic me enviou uma hora atrás, avisando que seu pai estava chegando para vê-lo. - O senhor deve ser Henri Falcone. Aceita um café, ou chá?

— Lucian te avisou que eu viria? Que milagre... - o senhor sorri para mim, parecendo se esquecer completamente da secretária. - Eu aceito um café, sim. Bem forte e sem açúcar, por gentileza.

— Claro, senhor. - aceito o braço que ele me estende com um sorriso educado. - Prudence, quando o Senhor Falcon chegar da sua reunião, avise a ele que seu pai o espera na Sala de Reuniões desse andar, por favor.

A secretária acena que sim com um sorriso aliviado, voltando a trabalhar em seu monitor. Enquanto isso eu guio o senhor Henri para a dita sala, que é a mais confortável do prédio, de acordo com o próprio CEO.

Acomodo o pai de Lucian em um sofá da sala de reunião enquanto preparo seu café na máquina ao lado. Enquanto ele observa a paisagem da janela e a decoração, não consigo conter o pensamento de que eu só posso ter jogado pedra na cruz. Em apenas dois dias na empresa, eu já quase entreguei meus trabalhos noturnos e agora estou tendo de lidar com o pai do meu chefe, que parece mais um mafioso italiano do que qualquer outra coisa. Teria sido mais tranquilo se eu aceitasse um trabalho como trapezista, eu suponho.

— Diga, minha jovem, meu filho ainda vai demorar muito? - O senhor questiona assim que lhe entrego a xícara de café fumegante.

— Não, senhor. - olho para o relógio, conferindo o horário. - Ele deve chegar em alguns minutos, se a reunião não atrasar. O senhor deseja mais alguma coisa?

— Não, mocinha. - ele me olha com gentileza, indicando para que eu me sente no sofá a sua frente. - Se importa de me fazer companhia até que meu filho chegue?

— É uma honra, senhor. - sorrio, me sentando de frente para ele na poltrona.

— Há quanto tempo você trabalha com o Lucian?

— Na verdade, hoje é o meu segundo dia. - Brinco com a ponta da minha trança, tentando não parecer envergonhada ou insegura na frente dele.

— Ele não muda mesmo... - o senhor solta uma gargalhada, que me deixa com uma expressão confusa, e ao mesmo tempo alivia o clima tenso da sala. - Lucian é muito exigente, tanto com os outros quanto consigo mesmo. Então está sempre mudando de assistente. Eu só posso te desejar sorte em lidar com ele, minha jovem.

— Obrigada, senhor. Eu vou fazer tudo o que estiver em minhas capacidades profissionais para não ser trocada. - solto uma risada leve, observando o senhor de terno com mais leveza agora.

O pai de Lucian é um senhor muito elegante e até intimidante, em sua aparência. Trajado em um terno de corte italiano com um relógio Rolex no pulso, ao olhar para ele, vê-se claramente um homem de inteligência e personalidade. Com os olhos bem parecidos aos de seu filho, cabelos escuros com alguns fios grisalhos e barba bem aparada. Apesar de parecer um homem autoritário á primeira vista, ele é muito gentil e carismático. Mas algo me diz que esse comportamento é reservado para pessoas específicas. Prudence provavelmente concorda com esse pensamento.

— Vejo que você é uma mulher de personalidade e confiança, Srta Crystal. Essas qualidades certamente lhe ajudarão a se manter nessa empresa. - ele finaliza sua xícara de café e a coloca na mesa ao seu lado, me observando com um sorriso sútil. - Gosto do jeito que usa seu cabelo. Honestamente, não suporto essas mocinhas que andam por aí sempre de coque e que nunca sorriem, parecendo bonecas ou robôs.

— Ah, senhor Henri, eu odiaria ser uma dessas moças. Mas acho que coques de cabelo tão apertados prendem a circulação de sangue ao cérebro. Acredito que seja por isso que elas se parecem tanto com bonecas.

Nós dois gargalhamos juntos, sem percebermos o momento em que Lucian abre a porta da sala e fica parado, com o olhar alternando repetidamente entre nós, que nos levantamos assim que percebemos sua presença. Eu imediatamente pego a xícara de café vazia do Senhor Henri e a coloco em seu devido lugar para que as responsáveis da limpeza cuidem depois.

— Vejo que o senhor conheceu minha nova assistente, Pai... - Lucian me dá um olhar indecifrável enquanto abraça o senhor a sua frente.

— Sim. A Srta Crystal é adorável. Espero que vocês consigam trabalhar bem juntos.

— O senhor que é muito gentil, Sr Henri. Foi um prazer conhecê-lo. - Sorrio para ele, sentindo meu rosto esquentar. - Vou voltar ao meu trabalho agora. Com sua licença...

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