Amigas.

— Está tudo bem, Crystal? - Senhor Falcone me chama outra vez, vendo minha expressão confusa.

— É... Sim, senhor. É claro... - me aproximo de sua mesa com alguma cautela, colocando seu copo de café em sua frente. - Expresso padrão sem açúcar.

— Obrigado. - ele pega o copo e toma um gole antes de sorrir para mim.

— Sua primeira reunião do dia é às 9h, senhor. No andar de tecnologia. - me viro para ir até a minha sala, quando ele me chama de volta.

— Teve uma noite difícil? - ele me questiona sem olhar para mim, focado em uma pasta sobre sua mesa.

— Por que a pergunta, senhor? - recuo outro passo, me questionando o quão parecida com um cadáver eu devo estar para ele ter percebido que não dormi.

— Nada de especial. - ele ergue o olhar para mim e um arrepio percorre meu corpo diante de sua expressão preocupada. - Você está sendo totalmente profissional e formal, o que não é bem o que eu esperava de você, na verdade. E depois de ontem...

— Eu pensei que profissional e formal fosse exatamente o que o senhor esperava de mim, Senhor Falcone... - solto uma risada baixa. - É, não foi uma das minhas melhores noites, mas eu vou ficar bem. Agradeço a preocupação.

— Tem algum show marcado para essa semana? - um brilho estranho cruza seu olhar por um momento.

— Sim, senhor. Essa noite e durante o final de semana também. - o observo, me perguntando onde ele quer chegar com seu interrogatório.

— Ótimo. Coloque eles na minha agenda como se fossem reuniões. - ele volta a prestar atenção em seus papéis, totalmente sério e autoritário. - E não se esqueça de me mandar os endereços de onde vão ser as apresentações.

— Senhor, eu... - começo a falar antes de ser interrompida por um olhar afiado da parte dele.

— Se não tiver mais nenhuma informação importante para acrescentar, peço que se retire, Srta Amber... - ele me olha como se eu fosse um verdadeiro incômodo, cruzando as mãos sobre a mesa enquanto me espera sair de sua sala.

......................

Volto para minha sala ainda desnorteada com a atitude de Lucian. Por qual motivo ele iria querer assistir minhas apresentações de repente? Ele parece ter alguma informação importante que não quer compartilhar. E isso é no mínimo irritante.

O resto do dia passa lentamente. Em meio a tantos telefonemas, e-mails e marcações de reuniões, quando a hora do almoço chega eu estou uma completa pilha de nervos. O excesso de cansaço me derrubou cerca de trinta minutos atrás, e eu desperto com um pulo quando ouço batidas na porta.

— É... entre!! - digo assim que me recupero do choque, virando minha terceira caneca de café do dia.

— Srta Amber? - Prudence coloca a cabeça para dentro da sala com um sorriso tímido. - Vim buscá-la para o almoço.

— Ah, sim! É claro... - fecho o notebook e pego minha bolsa antes de trancar a sala e acompanhá-la para o elevador.

Quando as portas se fecham diante de nós duas, Prudence me olha de canto, com uma postura enigmática. Ela têm um jeito quase mecânico de agir, como se cada gesto fosse milimetricamente calculado. Com seu coque escuro bem preso e roupas sociais impecáveis, ela parece a secretária perfeita. Seu olhar raramente demonstra emoção, e seus traços quase perfeitos me fazem questionar por um momento se ela é realmente humana.

O contraste entre nós duas é evidente. Ela parece uma máquina, e eu pareço um zumbi. Se um desconhecido nos ver juntas, provavelmente vai pensar que ela é a assistente e eu sou uma estagiária.

— Dia difícil, Srta Amber? - ela pergunta casualmente, sem olhar para mim.

— Semana difícil, eu diria... - tento um sorriso, mas presumo que acertei perfeitamente em uma careta.

— Se serve de consolo, o Senhor Falcone parece fazer um inferno na vida de todas as suas assistentes na primeira semana. Você está indo muito bem.

— Obrigada, eu acho...

Quando as portas se abrem, Prudence caminha em direção a saída do prédio sem me falar mais nada ou me esperar. Eu vejo os olhares das outras secretárias caindo sobre nós com maldade e curiosidade. E ela aperta os punhos, determinada a não se importar com os olhares.

Quando estamos do lado de fora e um pouco afastadas do prédio da Upper Corp, ela suspira aliviada e se vira para mim com um leve sorriso. Suas ações me confundem um pouco, mas só posso deduzir que ela têm algum problema com as demais secretárias e funcionárias da empresa.

— Desculpa por ter agido daquela forma dentro do prédio... - ela encara o chão, mordendo os lábios, antes de me indicar que a acompanhe pela rua.

— Não têm problema... Você certamente têm um bom motivo para ficar na defensiva naquele lugar. Eu não te julgo. - Balanço as chaves da minha sala na frente dos seus olhos, com um sorriso fraco. - Cada um se protege de uma forma, certo?

— Têm toda a razão. - seu rosto se ilumina e ela começa a caminhar de forma animada, seus dedos se fechando gentilmente em volta do meu pulso. - Acho que podemos ser boas amigas, Srta Amber!!

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