Almoço no Parque

Estou organizando e-mails com máxima concentração e muito tédio quando ouço batidas na porta. Nunca pensei que algo pudesse ser tão tedioso até contemplar essa tonelada de e-mails sobre negócios.

— Entre, está aberta. - digo sem desviar o olhar da tela do computador.

— Acho que a senhorita se esqueceu da nossa reunião de negócios... - Senhor Falcone entra na sala, parecendo mais abatido do que quando o vi pela manhã. - Podemos ir agora?

— Claro, senhor. Me dê um segundo... - desligo o computador e pego minha bolsa rapidamente antes de acompanhá-lo para fora da sala, repetindo o processo padrão de trancar a porta antes de irmos até o elevador.

Quando as portas se fecham diante de nós, aproveito para dar uma olhada no Sr. Workaholic pela minha visão periférica. Sua postura relaxa um bom tanto, e ele parece genuinamente cansado. Quando ele percebe que estou o observando, suspira profundamente.

— Pode fazer seu comentário, Srta Amber... - ele passa a mão nos cabelos, me olhando com tédio.

— Onde o senhor deseja almoçar hoje? - Não me viro em sua direção, mas noto uma leve demora para responder.

— Uh?... Eu deixo você escolher. Só quero ficar longe da empresa até minha próxima reunião.

— Nesse caso, eu espero de verdade que o senhor não seja o tipo de empresário extremamente rígido e com gostos culinários peculiares... - Sorrio, sabendo exatamente onde ir.

— Você sorri demais e é muito informal e ingênua, para alguém que se diz tão profissional. - ele ajeita a gravata, me olhando de canto.

— Ser profissional e ser um cubo de gelo são coisas diferentes, senhor. As pessoas gostam de se sentirem acolhidas, e não julgadas. Meu lema de trabalho é: "Profissional e legal, não faz nenhum mal!"

— Eu peço uma assistente, e me enviam uma mistura de animadora de festa com couch comportamental. - ele revira os olhos.

— Ah, eu também estou contente em trabalhar com o senhor... - assim que as portas do elevador se abrem, eu começo a andar, sendo impedida pelo aperto de Lucian no meu braço.

— Será que a senhorita consegue se portar corretamente ao menos até estarmos longe do prédio? - ele questiona em um murmúrio, me soltando e passando na minha frente.

— Sim, senhor... - respiro fundo e o deixo passar na minha frente, o seguindo com meu iPad em mãos, para manter a fachada de que estamos a caminho de uma reunião.

......................

Me sento no banco do parque com meu lanche enquanto espero Lucian provar o seu. Ele parece abismado com o alimento a sua frente, frequentemente alternando o seu olhar entre o hot dog brasileiro na sua mão e a minha pessoa.

— Sabe, se o plano era almoçar, você deveria comer o lanche, não olhar para ele, senhor... - Contenho um sorriso, mordendo com vontade meu próprio lanche.

— Como eles conseguem colocar tanta coisa em um pão? - ele franze o rosto, parecendo genuinamente intrigado.

— Isso não importa, só experimente antes de ficar questionando, Senhor Falcone!! - Ergo o rosto do meu lanche, com um bigode de purê de batatas. - Eu garanto que vai esquecer de todos os seus problemas e dias ruins quando provar essa maravilha gastronômica.

— Se você diz... - ele ergue uma sobrancelha na minha direção, parecendo segurar o riso, então dá uma bela mordida no alimento, soltando um ruído de prazer. - Ok, isso é estranhamente saboroso. Vai entrar na minha lista de comidas favoritas, com certeza.

Nós comemos nossos lanches em meio a comentários casuais, por um momento esquecendo que somos chefe e funcionária. Quando terminamos, ainda sobram 40 minutos para a próxima reunião. Então ficamos sentados lado a lado no banco do Central Park, aproveitando o Sol da tarde e observando a movimentação.

— Então é assim que as pessoas vivem fora daquelas salas com ar condicionado e negócios a serem discutidos... - ele murmura distraidamente, olhando o céu. - Foi um dia insuportável, mas parece menos ruim agora.

— Qualquer problema parece menor quando se está bem alimentado. - Sorrio, mexendo na minha bolsa para retocar meu batom. - Eu realmente acho que o senhor deveria fazer pausas regulares para o almoço, Senhor Falcone. Eu cuido da sua agenda agora, então eu sei que marca reuniões frequentemente nesse horário. É ruim para a sua saúde.

— Você está falando sério?!, - ele parece muito surpreso, me olhando como se eu fosse um unicórnio.

— Claro que estou! Eu pareço estar brincando por acaso?! - Só então percebo que meu tom foi totalmente informal, tampando a boca com mão. - Me desculpe, eu não quis ser rude.

Para a minha surpresa, ele ri. Uma risada verdadeira e agradável, que parece surpreendê-lo igualmente. Ele confere o relógio e afrouxa a gravata antes de voltar a me olhar.

— Eu que peço desculpas, eu não estou acostumado a ser tratado como uma pessoa que deve fazer pausas regulares. Normalmente só ficam admirados com isso e assumem que eu almoço em reuniões.

— Isso é bem plausível. Mas é uma lástima que as pessoas o tratem como uma máquina. Mesmo que seja uma pessoa formidável no mundo dos negócios, ainda é um humano. - suspiro, preocupada que eu esteja soando como uma idiota para ele, mas mesmo assim continuo. - Se você não faz pausas regulares de toda essa loucura empresarial, como faz pra não se esquecer de quem é?

— Não me esquecer de quem sou?

— Sim... Sabe, além do "Grande Senhor Falcone, CEO da maior empresa de Nova York"... Eu acredito que as pessoas são mais do que seus empregos e profissões. São um conjunto de sonhos, sentimentos e gostos específicos. Deve ser difícil ter tempo para si mesmo no meio de tudo isso.

— Você falou exatamente como ela... - Lucian me encara, sério, mas não parece me enxergar. - Diana costumava me dizer para tirar folgas também...

Ele estende a mão na minha direção, e meu coração para de bater por um instante, enquanto ele tira uma folha dos meus cabelos cuidadosamente. Então balança a cabeça e se levanta, me estendendo a mão.

— Vêm, acho melhor voltarmos para a empresa. Não quero me atrasar para a próxima reunião.

Seguro sua mão e levanto, o acompanhando.

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