Cap-17

Kim

Levantei cedo, e antes de descer, fui até o quarto do Ainden.

— Ainden?!— chamei.

Ele se virou de bruços e colocou o travesseiro por cima da cabeça. Tomei o travesseiro.

— Vamos, Ainden. Levanta.— ordenei.

— Mas eu não vou pra escola!— replicou.

— Acha mesmo que vou te deixar sozinho em casa? Vai comigo para o bistrô, e vai me ajudar por lá.— afirmei.

— Mais que merd@!— falou bocejando.

— Ainden?!— o repreendi— Para cada palavrão que falar pra mim, vou adicionar um dia a mais sem celular!

— Mãe?!— protestou—  Mais que droga!

— Atenção na maneira que fala comigo, Ainden! O mínimo que deve ter é respeito!— esbravejei.

Ele revirou os olhos se levantando. Suspirei profundamente, logo cedo ter que lidar com esse garoto me desrespeitando, não estava nos meus planos para o início do dia.

Sem ter que levar o Ainden na escola, cheguei mais cedo no Bistrô e abri o lugar.

— Fique atendendo por enquanto.— falei para Ainden.

Ele suspirou e estava com uma carranca nada agradável.

— E melhora essa expressão azeda! Não quero que espante meu clientes!— exclamei olhando para ele— Vamos! Um sorriso no rosto!— concluí com um sorriso.

Ele abriu um sorriso forçado.

— Melhor!— respondi.

Fui direto para cozinha e comecei a organizar o prato do dia, arrumar as coisas, e logo os meus funcionários chegaram.

— Bom dia, amiga!— Grace cumprimentou.

— Bom dia!

— O Ainden pegou suspensão?— Grace perguntou com uma careta.

— Cinco dias...— respondi revirando os olhos.

— Um trabalhador a mais no bistrô, por cinco dias!— Mia exclamou atrás da Grace.

— Exatamente o que eu vou fazer!— falei.— Mudando de assunto, preparem os ingredientes para mim, eu quero fazer croissants hoje.

Elas assentiram e começaram a colocar as toucas e aventais.

Saí da cozinha, e já tinha alguns funcionários do hospital tomando café. Dei "bom dia" a Aria e o Eddy e ajudei no atendimento.

Maverick passou rapidamente, mas só pegou um café para viagem e foi para o hospital, estava atrasado. Depois do horário de pico da manhã, fui para cozinha fazer os croissants, ouvindo Mia falar sobre as novelas mexicanas que ela assiste, como se eu e Grace assistíssimos. O horário de almoço chegou, Grace sempre cuida dessa parte, inclusive definir o prato do dia. Já era mais de 14h quando Maverick apareceu para almoçar, preparei o prato e fui levar para ele.

— Tem um tempinho?— ele perguntou.

— Tenho sim.— respondi me sentando com ele.

— Quero te fazer um convite.— afirmou me encarando—  Sábado vou dar uma palestra na inauguração de uma clínica para idosos. Será que podia me acompanhar? É evento de rico, aperitivos e champanhe caros de graça. Topa?

— Champanhe caro, de graça... hmm... difícil resistir.— falei sorrindo.

Ele sorriu de volta e começou a comer.

— Conseguiu conversar com a Holly, ontem?— perguntei.

Ele assentiu.

— Estava numa crise de saudade da mãe... na verdade as duas estavam... os três...— falou suspirando—  vou dar um jeito de ficar mais com elas, estão muito vulneráveis. Eu tenho mais medo da Holly... fico com medo de algum garoto se aproveitar desse momento frágil dela... mas eu não faço idéia de como abordar assunto de namoro, sexo, garotos com ela...— Maverick suspirou mais uma vez, olhando o prato.

— Está certo em se preocupar. Ela pode estar confusa nos sentimentos, e acabar se entregando ao primeiro garoto que demonstrar algum interessse nela... querendo preencher o vazio da mãe, com outras coisas...— falei pensativa.

— Se pudesse, ficaria ao lado dela a cada instante, só para ampara-la e protege-la das coisas ruins do mundo... garantir que não machucasse seu coração...— murmurou.

— Impossível, meu amigo. As coisas ruins fazem parte da nossa vida e nos moldam, nos ensinam...— argumentei.

— É verdade... agora me diz uma coisa, sem querer ser invasivo, que tipo de adolescente era? Quieta? Namoradeira? Rebelde?— Maverick perguntou curioso.

— Eu não era rebelde... mas muito mimada, sou filha única e meus pais sempre me davam de tudo... eu me achava no direito de ter tudo que quisesse e achava que todos eram obrigados a me satisfazer e servir...

— Como lidou com isso? Porque te acho tão altruísta hoje.— ele comentou.

— A gravidez me mudou. Quando eu tive o Ainden, caí na real. Ninguém era obrigado a fazer nada por mim, se quisesse algo na vida, teria que conquistar e se quisesse que as pessoas gostasse de mim, teria que mudar meu jeito egoísta de ser. O mais interessante é, que meus pais são pessoas maravilhosas, sempre ajudando todos que podem. Meu pai é muito querido, sempre foi um bom homem. Acho que o fato de ter uma vida que depende totalmente de você, mas os exemplos dos meus pais, me fizeram mudar... ou só a maturidade que uma hora chega, sabe?— falei pensativa.

— Comigo foi diferente, com cinco anos ganhei uma irmã e logo meus pais me deram pequenas responsabilidades, como arrumar meu quarto, colocar as louças na máquina, balançar o carrinho com a bebê... Meu pai me dava muitas coisas, mas não tudo o que eu queria... só o que ele julgava necessário. Não era rebelde, e nem como os garotos atirados... era bem tímido.— falou.

— Daria tudo para ver você adolescente.— falei rindo.

— Era bem sem graça... não era do tipo popular, era o garoto esquisito e inteligente.— falou sorrindo.

— Eu não era muito inteligente... era a garota que falava com todos, se distraía com facilidade, me envolvia com tudo que é novidade na escola, mas dificilmente chegava até o fim dos projetos.

— Muitos namorados?— perguntou curioso.

— Bastante... mas nunca deixei ninguém ir além dos beijos... para algo mais profundo eu tinha medo... foi só quando entrei na faculdade que caí na besteira de me entregar ao Colin e deu no que deu... A única coisa boa foi meu filho, disso eu não reclamo. Tem me enlouquecido nesse últimos dias... mas filho é filho... A gente sempre ama, não importa o quanto eles aprontem...

Observei que Maverick olhava acima da minha cabeça, e quando fui me virar para ver o que ele encarava, então ouvi a voz do Ainden.

— Fico feliz que ainda me ame!— sussurrou no meu ouvido com um sorriso convencido.

Estreitei os olhos para Ainden, ele saiu com um pano úmido, limpando as mesas vazias.

Maverick riu.

— Parece que o castigo está funcionando...— ele falou baixinho, dando uma risadinha.

— Sempre funciona... pelo menos por uns dias...— respondi rindo.

O pager do Maverick soou.

— Preciso ir. Nos vemos de noite?— falou se levantando.

— Vou estar aqui.— respondi com um sorriso.

Ele me deu beijo rápido na testa e saiu. Com um sorriso bobo, voltei para meus croissants.

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