Cap-13

Maverick

Voltei para minha casa, tomei um banho, vesti uma roupa limpa, camisa e calça social, gravata e peguei meu jaleco branco. Olhei no closet, as roupas da Lize ainda estavam do mesmo jeito... todas perfeitamente alinhadas... senti um aperto no coração...

Estaria traindo a Lize, se me permitisse deixar outra mulher invadir meu coração?

Sentei na calçadeira e fiquei encarando as roupas dela, me perguntando quando teria coragem de me livrar delas... peguei um dos vestidos favoritos dela, um de alça azul escuro com estampas de rosa vermelhas, num corte godê. Cheirei com os olhos fechados, até parecia que ela estava presente comigo... Visualizei a imagem da morena nas minhas muitas lembranças, os cabelos negros e ondulados, os olhos verdes e brilhantes, o sorriso meigo... Abracei o vestido e me permiti chorar mais uma vez por ela... as lágrimas rolaram sem nenhum esforço... nem sei quanto tempo fiquei ali, levantei e suspirando decidi que estava na hora de me despedir da Lize de uma vez... de nada me adiantaria ficar olhando as roupas dela e lembrando dela toda vez que entrasse nesse closet...

Larguei o vestido dela e desci as escadas, logo ouvi minhas filhas abrirem a porta. Hope veio correndo e pulou no meu pescoço.

— Oi papai!— exclamou feliz.

— Olá querida!— respondi abraçando ela e a segurando.

A coloquei no chão, e Holly já subia as escadas, sem nem ao menos olhar na minha cara. Me enchi de tristeza, não sabia mais o que fazer reconquistar a minha primogênita, essa distância me corroía por dentro, parecia que quanto mais tentava me aproximar, mas longe ficava...

Acenei para os pais da Lize e aproximei do carro.

— Tudo bem, com vocês?As meninas se comportaram?— perguntei olhando através da janela do carro.

— Tudo bem, Maverick. As meninas são um amor!— minha ex sogra respondeu com um sorriso.

— Eu vou trabalhar agora, mas se quiserem ficar em casa essa noite, fiquem à vontade.— falei gentilmente.

— Nós já vamos. Fica para uma próxima vez.— respondeu o pai de Lize.

— Certo. Uma boa viajem e noite!— me despedi.

— Boa noite, Maverick!

Entrei em casa, subi as escadas rapidamente, fui até o quarto da Holly, mas estava trancado. Sem tempo para discutir com ela, ou tentar fazê-la abrir a porta, fui até o quarto da Hope, ela desfazia a mochila dela.

— Já vou querida, seus avós vão ficar com vocês essa noite.

Hope assentiu sem tirar atenção da sua mochila. Fui até ela e deixei um beijo na testa dela. Ela sorriu e me abraçou.

Bati na porta da Holly.

— Boa noite, querida! Te amo!

Como era de se esperar, não obtive resposta. Saí de casa pesaroso, em deixa-las quando mal chegaram em casa... mas o que podia fazer?

Rapidamente, já estava estacionando na minha vaga. Fui direto para meu escritório, apenas cumprimentando as pessoas do meu caminho. Resolvi alguns problemas burocráticos e desci para emergência, que estava lotada. Meu primeiro paciente da noite, foi um senhor de 68 anos com uma fratura no púbis.

— Sr. Charles Wilson?— falei lendo a ficha posicionada na maca.

— Eu mesmo!— ele respondeu com um sorriso.

— O que o senhor andou aprontando para quebrar o quadril?— perguntei analisando o raio-x da fratura.

— Estava retirando os enfeites de natal do meu telhado... e... quando faltava uns três degraus acabei me desequilibrando e caí...— murmurou o velho.

— E não tinha ninguém para fazer isso pelo senhor?— falei encarando o idoso.

— Tinha... mas todos trabalham e eu tava em casa sem fazer nada... Aí...

O senhor gemeu de dor, quando apalpei a pélvis.

— Qual o nível de dor?— perguntei— De 0 á 10?

— Sem me apertar uns 6... mas me tocando uns 8...— ele resmungou.

— Vou pedir uma tomografia computadorizada, para avaliar melhor. Logo virão buscar o senhor.

Saí e conversei com um residente, pedindo para dar preferência ao senhor Wilson.

Atendi outro paciente e logo, fui chamado para a sala de análise de exames. Encontrei com meu amigo, dr. Winkler.

— Está tão lotado hoje, que nem te vi!— Henry murmurou.

— Nem pensei que estaria aqui...— respondi procurando a tomografia do senhor Wilson.

— Sr. Wilson é seu paciente?— Henry perguntou.

— Sim. Não gostei do que vi no raio-x, pedi uma tomografia...

Henry analisava a tomografia do meu paciente.

— Fez bem em pedir... acho que temos uma pequena hemorragia aqui...— disse apontando para uma determinada área da tomografia.

— Vou pedir para prepararem o centro cirúrgico.— falei confirmando o diagnóstico.— Me acompanha nessa cirurgia?

— Claro! Vamos lá!— Henry respondeu.

Henry Winkler, 45 anos

Henry foi meu companheiro de residência nesse hospital, um cirurgião geral também, mas com especialidade em cirurgias abdominais e videolaparoscopia.

Entramos no centro cirúrgico, depois da esterilização e sermos vestidos pelas enfermeiras. Dois residentes nos acompanhou.

O sr. Wilson parecia tenso e preocupado.

Encarei os olhos do velho.

— Sr. Wilson, não é nada muito grave, fique tranquilo.

Ele assentiu. Dei sinal para o anestesista e iniciamos a cirurgia.

— Antes que me esqueça, o diretor do hospital pediu um cirurgião geral para dar uma palestra em um evento, e eu indiquei você.

— Sem me consultar?— falei em tom de reprovação.

— Sempre se deu bem em palestras... E é sobre inauguração de uma clínica de idosos. É só falar sobre prevenção e cuidados...

— Mas uma coisa para minha vida cheia de vagas...— murmurei.

— É evento de rico, sempre gostou de participar!— ele exclamou.

— Gostava quando era casado, porque podia levar minha esposa...— retruquei.

— Leve outra pessoa, oras! Que tal a dra. Davis? Ela é bonita e inteligente, e tá na cara que tem uma "quedinha" por você.

— Tenho outra pessoa em mente...— balbuciei concentrado na fratura, procurando a origem do sangramento.

— Sério? Quem?— ele perguntou curioso.

— Uma amiga...— respondi detectando a origem do sangramento.

— Amiga... hmm... desde quando você tem amiga?— Henry falou desconfiado.

Nem respondi, me concentrei em reparar o dano da fratura.

— Deve ser a dona do bistrô aqui perto. Sempre vejo o doutor conversar com ela lá...— um dos residentes se intrometeu na conversa.

Lancei um olhar ameaçador e estreitei os olhos para ele.

— Dr. Stevens, se concentre em aprender, não a prestar atenção na conversa alheia.— falei seco.

O rapaz assentiu sem graça.

Henry assobiou surpreso.

— É mais que sua amiga, não é?— perguntou em tom de afirmação.

Meneei a cabeça em negação e Henry riu.

Terminamos a cirurgia, e o restante da madrugada, Henry não me deu paz, me perguntando da Kim, sempre que passava por mim.

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