Cap-4

Maverick Barker, 41 anos

A noite de plantão não estava sendo fácil, até o corpo reacostumar com uma noite em claro, vai alguns dias. Em alta hora da madrugada, recebemos uma notificação de urgência, para balançar a quietude do hospital, um trauma decorrente de um acidente de carro.

Engoli em seco, tentei não deixar isso me abalar, mas agora posicionado na parte externa do hospital, onde recebemos a ambulância com vítimas de traumas, eu esperava a hora chegar com o coração acelerado no peito, típico sentimento de ansiedade.

Visualizei a cena de Lize, minha falecida esposa, chegando nesse mesmo lugar, depois de um triste acidente carro, onde o culpado bêbado, ainda vivia, e ela jazia no cemitério. Meu corpo estremeceu, de nervoso, saudade... de lembrar dela suspirando nas minhas mãos pela última vez... Me perguntei, se realmente estava pronto para voltar a cirurgia. Se essa vítima precisar, seria a primeira desde a morte da minha esposa. O som da ambulância se aproximava, me trazendo à realidade, minha equipe de residentes me acompanhava ansiosos, enquanto eu, desejava sair correndo dali.

A porta se abriu, e quando constatei se tratar de uma adolescente, meu coração gelou, mas fui treinado para agir sobre pressão, esse é o meu dom, saber o que fazer rapidamente, ter a resposta e atitude certa na hora exata. O abdômem da garota estava roxo, indicando hemorragia interna, um breve ultrassom de um dos residentes confirmou, corremos para sala cirúrgica para uma laparoscopia exploratória, a fim de detectar a origem do sangramento. O procedimento durou horas e a garota ainda sofreu uma parada cardíaca, mas graças a Deus, conseguimos reanima-la e reparar os danos internos da menina.

Saí do centro cirúrgico, e na área de esterilização, abaixei a máscara ofegante e retirei as luvas.

— A cirurgia foi um sucesso doutor!— uma das residentes, (a mais inteligente na minha opinião), exclamou atrás de mim.

— Obrigada, dr. Davis.Pode avisar os pais?— perguntei.

— Claro, eu converso com eles.— respondeu saindo do lugar.

Olhei no relógio da parede, já passava das seis da manhã. A passos rápidos fui até a minha sala, tomei um banho rápido e me troquei. Queria levar minhas filhas para escola, mas teria que correr contra o tempo, e não era o "the flash" para fazer isso. Então enviei mensagem para minha mãe, por sorte meus pais moram no mesmo condomínio, e tem sido a minha salvação. Saí da sala e dr. Henry Winkler acabara de chegar.

— Então, como foi o primeiro dia?— perguntou com um sorriso no rosto.

— Mais cansativo que imaginei!— murmurei.

— Algum trauma grave?— perguntou com uma careta.

— Uma garota. Mas já está estável e pedi para dra. Davis, conversar com os pais.

Ele assentiu, e continuou a me encarar.

— Está tudo bem mesmo?— ele perguntou, como meu amigo, queria ir mais fundo.

— Antes da paciente chegar, confesso que me estremeci... mas fui feito para agir sob pressão, assim que a garota chegou, me senti como se nunca tivesse tirado licença... queria que minha vida pessoal, voltasse ao normal, naturalmente, assim como minha vida profissional...— resmunguei.

— Uma hora tudo se encaixa. E existe terapeutas para isso, basta consulta-los.— alertou sério.

Deixei um riso nervoso escapar.

— Não tenho tempo nem para minhas filhas... acha mesmo que vou gastar mais um tempo precioso, com algo que eu sei que não vai mudar?— reclamei.

— As vezes a saúde metal, é mais importante do que a física!— exclamou.

Balancei a cabeça em negação, e gesticulando um "tchau" com a mão me retirei do hospital. Estava faminto, e quando de longe, avistei a senhorita Montgomery, entrar em seu bistrô, não resisti passar lá mais uma vez, já tinha perdido o horário com as minhas filhas, então nada adiantava eu me apressar para estar na solidão daquela casa.

Parei diante do lugar de fachada alegre e cativante.

Acredito ter sido uns dos primeiros clientes desse lugar, sempre gostei de ambientes caseiros e aconchegantes.

Entrei no bistrô, algumas enfermeiras tomava café.

— Bom dia, dr. Barker!— a atendente me cumprimentou.

— Bom dia, Aria!

Pedi um café, e ovos mexidos. Procurei a dona do lugar mais não avistei, por alguma razão, fiquei decepcionado, desejava ter uma conversa com a moça, com nada, um simples "bom dia".

Peguei um jornal, e me sentei em uma das mesas, aguardando meu pedido. Meus olhos ardiam, o cansaço chegou com tudo.

"Nada novo!" exclamei para mim mesmo, jogando o jornal de lado.

— Seu pedido, dr. Barker!

Um sorriso espontâneo surgiu nos meus lábios, enquanto ouvi a voz feminina e doce falar.

— Obrigada, srta. Montgomery!

Ela ficou na minha frente e me encarou.

— Não me diga que está voltando AGORA para casa?— ela indagou surpresa.

— Pois é...— respondi dando uma colherada nos ovos.

Ela saiu e voltou com duas xícaras de café, me entregou uma, e a outra ficou bebericando.

— Se quiser, pode se sentar. — falei educado, apontando para cadeira a minha frente.

— Obrigada!— respondeu sorrindo e se sentando na minha frente.— Noite difícil?

— Um pouco... uma vítima de um acidente de carro, me abalou um pouco... me lembrei da minha esposa...— murmurei.

Ela assentiu e bebemos um gole de café simultaneamente.

— Te atrapalhou a desenvolver seu trabalho?— ela perguntou me encarando.

— Não. Gostaria que me desse tão bem com minhas filhas, tanto quanto estou diante de um paciente que precisa ser tratado com urgência.— falei mexendo os ovos no prato.

— Te entendo. É bem mais fácil, focar naquilo que sabemos fazer, onde não precisamos sentir... ou se preocupar com os sentimentos alheios... é bem mais fácil eu fazer meus bolos, tortas... me manter focada no bistrô... do quê encarar minha vida pessoal...— declarou girando a caneca de café na mesa.

— É como eu me sinto, quando estou na mesa de uma cirurgia, tudo some da minha cabeça, e fico focado no momento. E tudo acontece de maneira tão natural... mas quando se trata dos meus sentimentos, eu perco todo controle... as pessoas não entendem... minhas filhas não me entendem... as vezes eu não me entendo!

Coloquei mais uma colherada de ovos na boca.

— Eu compreendo... de um modo diferente eu vivencio isso... mas acho que estamos errados... talvez o fracasso da relação seja esse: querermos comparar nossa vida profissional com as pessoas que amamos... deixar tudo para depois... "Uma hora a gente vai! Hoje eu não posso, mais amanhã sem falta!..." e por aí vai...

— Preciso mudar isso.— afirmei dando a última colherada nos ovos.

— Ainda não é tarde pra você, pode conquistar suas filhas. Agora eu, só me resta a dor da solidão, de uma mulher mal amada...

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Comments

Kádma Souza

Kádma Souza

ACHO QUE QUEBREI MEU PÉ 👣 KKKKKKK
SERÁ QUE O DR. ME ATENDE EM CASA? KKK

2024-05-01

5

Glucck

Glucck

Onde é mesmo o hospital?

2024-05-07

0

Vanessa Costa

Vanessa Costa

Jesus! agora entendi todo esse encantamento dela com ele

2024-05-02

0

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