Cap-11

Maverick

Acordei surpreso, por dormir uma noite tão tranquila e gostosa. Me levantei e fui até o banheiro, pensando na noite anterior. Fui casado por 17 anos, e sinceramente, não entendo o que está contecendo comigo. Se Kimberley é só uma amiga, por que estou atraído por ela?

Suspirei profundamente, e resolvi tomar um banho.

Talvez seja natural me atrair pela Kim, ela é linda e atraente, e a nossa amizade pode acabar confundindo os sentimentos...

Saí do chuveiro, me sequei e coloquei a mesma roupa de ontem. Passei no quarto da Kim, a porta estava aberta, e ela não estava no cômodo e nem no banheiro do quarto. Desci as escadas, e fui invadido por um cheiro maravilhoso de ovos e bacon fritando, antes de chegar na cozinha, ouvi o som da banda preferida dela, "Bon Jovi" (Thank You For Loving Me).

Quando a vi, estava no fogão mexendo uma frigideira, vestida num short jeans e uma blusa de moletom, cantarolando alegremente, os cabelos castanhos estavam úmidos até o meio das costas, ela andava mancando, mas ainda assim não perdia a graciosidade. Vê-la, sentir o cheiro de café da manhã, foi algo tão familiar, que por alguns segundos imaginei estar na minha casa há alguns meses atrás, e minha esposa ainda viva...

Me aproximei dela por trás, a fragrância dela me inebriou, me senti tão confortável e atraído por ela, como se a conhecesse de anos atrás.

— Bom dia, Kim!— sussurrei no ouvido dela.

Ela suspirou, foi possível ver o pescoço arrepiar-se, deixei um beijo na bochecha dela, e me afastei com o coração acelerado, desejando mais dela... mas tinha que me conter, não queria estragar a amizade, e fora que nem daria para imaginar, iniciar um relacionamento agora... ela está frágil e vulnerável pelo divórcio, e eu, estou confundindo Kim com a minha esposa! Isso é ridículo!

Ela se virou com as bochechas coradas, me deu sorriso tímido.

— Conseguiu dormir bem?— perguntou.

— Muito bem!— respondi pegando um bacon e comendo.

— Já fiz café, está na cafeteria.— falou desligando o fogo e indo até o armário.

Assenti.

— Como está o tornozelo? Não acha que está abusando?— perguntei pegando uma caneca e enchendo de café.

— Estou bem melhor! Só não dá pra forçar o pé no chão... mas tá tudo bem.— ela respondeu sorrindo.

Me encostei no balcão, cruzei os braços e tomei um gole de café, observando ela colocar os pratos na mesa.

— Eu amo ovos e bacon de manhã!— exclamei me deliciando com o cheiro.

 — Imaginei... sempre pede isso de manhã, no bistrô.— falou dividindo os ovos nos dois pratos.— Pode pegar os talheres na gaveta atrás de você?

— Claro.

Peguei dois garfos e me sentei na cadeira da ilha da cozinha. Ela se sentou na minha frente. Começamos a comer. Estava inquieto, as lembranças do "quase" beijo, não saía da minha cabeça, queria falar sobre isso.

— Sobre ontem a noite...— tentei começar o assunto sobre o clima que rolou, mas acabei hesitando.

— Ter encontrado meu ex e a cadela que ele passou dois anos me traindo? Acho que não vai se repetir.— ela falou rindo.

Sorri encabulado, ao ver que ela desviou do assunto, e fingi que meu constrangimento, foi o que ela falou. Fiquei olhando para ela e, estava fora do "mercado" a tanto tempo, que não fazia idéia de como abordar o que estava acontecendo comigo... mas ela é a minha amiga, isso não deveria ser difícil, nesse último mês, falávamos sobre tudo sem a menor hesitação... então porque agora estou tão confuso?

— Kim... talvez seja coisas da minha cabeça... sei lá... mas foi só eu que senti um clima rolar entre nós dois ontem?— falei, indo direto ao ponto.

Ela baixou a cabeça pensativa.

— Não...— balbuciou, mexendo o garfo nos ovos.

— Kim... O que está pensando agora? O que vamos fazer?— perguntei preocupado.

Ela levantou os olhos, deixou o garfo no prato e me encarou.

— O que quer fazer Maverick? Somos dois solteiros, sem impedimentos, não é?— ela falou um pouco irônica.

A olhei confuso, sinceramente não sabia onde ela queria chegar.

— Eu acho, que para o nosso bem, e para manter a sanidade dos nossos filhos, por enquanto, devíamos continuar como amigos...— ela concluiu.

— Tudo o que eu mais quero, Kim. Sua amizade tem sido o ponto alto da minha vida ultimamente... eu não sei como sobreviveria sem as nossas conversas e a sua companhia... vamos nos manter assim... talvez o clima que surgiu, seja uma confusão de sentimentos... A solidão... sei lá...— argumentei.

— Está certo. É muito recente os traumas que passamos... precisamos superar isso, para depois colocar os sentimentos em ordem.— ela estendeu a mão gentilmente e colocou sobre a minha.

— Então, vamos continuar amigos!— exclamei alisando o dorso da mão dela com o polegar.

— Amigos...— ela confirmou sorrindo.

No fundo eu sabia, que por mais que disséssemos "amigos", as chance da nossa amizade ficar colorida era grande. A cada dia que passou, mais eu queria a companhia dela, e fazia de tudo para vê-la, e ter com nada uns minutos de conversa com ela. E esse final de semana só confirmou o quanto a presença dela na minha vida estava sendo primordial.

Só de pensar em algo a mais, além da amizade, fazia meu coração acelerar... seria possível um homem na minha idade depois de um casamento tão maravilhoso, se apaixonar de novo? Já tive meu amor com a Lize... mas poderia ter outro? Os céus estava sendo tão generoso comigo?

Estava perdido nos olhos dela, no sorriso lindo e meigo... mas minha consciência me trouxe a realidade, perdi a Lize há um pouco mais de três meses, ela também descobriu a traição e pedido de divórcio no mesmo tempo... E nossos filhos adolescentes, não era nada amigáveis... A junção de nossas vidas intimamente seria um desafio e tanto, que não estávamos preparado para enfrentar. Mas ainda assim, cá estamos nós dois, sem coragem de afastar nossas mãos, sentindo a atração nos sucumbir nosso auto-controle, apenas com o roçar de nossos dedos... Um vontade forte de jogar tudo para o alto, e nos entregar nesse desejo, atração, que nos fazem ofegar...

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