Cap-14

Maverick

Consegui cochilar umas 5h da manhã, mas logo fui chamado para um outro trauma. Quando estava próximo do almoço, é que pude terminar meu expediente. Já estava na porta de saída, quando a dra. Davis esbarrou em mim.

— Desculpe, dr. Barker.

— Não foi nada... estava em outro setor hoje?— perguntei.

— Sim. Fui escalada para cirurgia cardíaca.— ela respondeu me acompanhando.

— Terminou seu plantão?— ela perguntou.

— Sim. Vou almoçar e voltar para casa. Boa tarde!— respondi atravessando a rua.

Já estava em frente ao bistrô da Kim, quando percebi que a dra. Davis me acompanhou. Olhei para ela, e ela me olhou sorrindo.

— Também sou uma fã desse bistrô!

Entramos, para não ser mal educado, a convidei para sentar comigo. Fui até o balcão, fiz meu pedido com a Aria, percorri meus olhos pelo lugar, mas não avistei a Kim. Me sentei, e fiquei esperando meu almoço trocando palavras médicas com a dra. Davis. Almoçamos, fiquei matando o tempo, para ver se a Kim aparecia, mas nada. A residente foi embora, pedi uma fatia de torta, comi, e nada da Kim. Fui pagar minha conta no caixa, e perguntei ao Eddy:

— A Kimberley não está aqui?

O garoto acenou negativamente.

— Aconteceu alguma coisa?— perguntei.

Ele olhou dos dois lados e depois me encarou.

— Ela foi buscar o filho na escola... pelo que ouvi ela reclamar com a Grace, o filho se meteu em briga na escola e ela foi chamada...— falou baixinho. Depois arregalou os olhos e continuou— mas não diga que foi eu contei!

Sorri, e fiz o clássico gesto de zíper na boca.

Saí do bistrô pensativo. Coitada da Kim...

Fui direto para casa, tomei um banho e quase pulei de felicidade, conseguiria buscar Holly na escola.

Enviei mensagem para minha mãe avisando e parti para escola particular secundária. Parei em frente a escola, e me mantive dentro do carro, olhando o rosto de cada adolescente que saía da escola, com a demora da Holly comecei a me perguntar se era uma boa estratégia buscar minha primogênita na escola... Encostei minha cabeça no banco e suspirei, nada na vida te prepara para ver o que eu vi, minha garotinha atrás de uma árvore aos beijos com um garoto qualquer... "qualquer" por que não o conhecia, não fazia nem idéia de quem era... mas olhando os dois "escondidos" ali, na verdade não reconhecia minha filha também... parecia uma outra garota...

Estava com raiva!

Mas me mantive quieto observando até quando ia aquilo...

Droga!

Sou paciente, mas como um pai em alerta máxima, tudo tem limites!

A frente da escola já estava quase vazia, e nada da Holly largar o garoto, e não me agradou nada ver o abusado descer as mãos na bunda da minha filha!

Desci do carro bruscamente, nem sei como fechei a porta, nesse ponto do dia, depois de ter passado a noite em claro, reprimindo sentimentos profundos pela Kim, chorado a morte da minha esposa... estava fora de mim...

A primeira coisa que fiz, foi pegar o garoto pelos colarinhos.

— Dá para tirar suas mãos nojentas da minha filha!— vociferei.

— Pai?!— Holly protestou.

O garoto arregalou os olhos para mim. O atrevido não tinha mais de 18 anos.

— Finalmente ouvindo a voz da minha filha!— bradei irônico, sem soltar a camiseta do garoto.

— Larga ele, pai! É meu namorado!— ela gritou desesperada.

— É mesmo? E porque nunca ouvi falar dele, e nem o conheci ainda?— perguntei bravo.

Soltei o garoto que saiu em disparada, como um ratinho que escapou do gato.

— Que vexame!— ela murmurou chorosa.

— Vamos para casa, Holly! Já estou cansado disso!— esbravejei.

Só agora notei que alguns alunos e professores da escola, nos olhavam curiosos e preocupados.

Acenei para os professores, bem sem graça, mas ainda cheio de raiva.

Holly entrou no carro e bateu a porta. Suspirei e entrei.

Ela estava chorando envergonhada, com uma cara nada agradável. Tive pena dela, por ter agido assim, mas até que ponto Holly iria me esconder a sua vida, e não me contar nada?

— Holly... não dá! Você não fala comigo, não conta o que está acontecendo... eu tô perdido! Não sei como agir com você... como ter minha garotinha de volta...— argumentei.

Ela soltou um riso nervoso.

— Garotinha!— escarneceu— Aí tá o seu primeiro erro! Eu não sou uma garotinha!— ela falou alto.

A olhei fungar nervosa.

— Filha... sempre será minha garotinha...— balbuciei com o coração partido.

— Vamos embora? Não quero ficar sendo motivo de chacotas por essa escola!— falou impaciente.— O maior "mico" da minha vida! Meu pai que quase nunca aparece, colocando meu namorado pra correr!

— Porque não me apresentou ele? Nem sabia que estava namorando! Ele estava passando a mão na sua bund@...— repliquei bravo.

— Esquece pai! Vamos embora, por favor?!— ela implorou com as mãos no rosto.

Dei partida no carro, e saí. Me calei, precisava pensar sobre o que estava acontecendo. Fui buscar a Holly, achando que seria uma maneira de aproximação com ela, mas acabou se tornando uma tragédia. Minha cabeça estava numa revolução, o cansaço me atingiu em cheio, e já não conseguia raciocinar... Muitas coisas vieram na minha mente.

E se a Holly já estivesse numa vida sexual ativa?

Como abordaria esse assunto com ela?

Será que a Lize já tinha dado todas as orientações que ela precisa saber?

Durante o curto trajeto, só pedia aos céus, que Holly não tenha feito nenhuma besteira, a ponto de se arrepender mais tarde...

Eu sei bem o que passa na cabeça de um garoto dessa idade, e na maioria das vezes, tudo que os garotos desejam é transar com o maior número de garotas, saciar seus hormônios em metamorfose, e alcançar um status elevado no grupo, e nem se importam com os sentimentos de nenhuma das meninas, que na maioria das vezes são virgens.

Eu tinha tudo para ser um desses na escola, mas nunca fui do tipo que faz as coisas por fazer, meus relacionamentos sempre foram sérios e respeitosos, tanto é, que me casei com a Lize ainda na faculdade, quando tinha 23 anos. Talvez seja o exemplo do meu pai, os concelhos da minha mãe... mas nunca vi necessidade em sair com inúmeras mulheres, desde a minha adolescência. Sou um homem de família.

Cheguei em casa e Holly subiu as escadas correndo, sentei no sofá exausto, mas queria buscar a Hope na escola também.

Pensei na minha atitude. Foi drástica? Talvez...

Mas o garoto também não me passou confiança.

Em outro momento, conversaria com Holly, nem que tivesse que prende-la numa cadeira para tal feito!

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