CAPÍTULO 12 - Eu não sou o seu pai.

Quando Said acordou Zaya ainda dormia, e estava com uma perna sobre ele. Ele olha para ela e vê o quanto é bonita, talvez o casamento não tenha sido de tudo ruim, pensa ele enquanto retira a perna dela com cuidado. Ele toma um banho e se arruma, descendo em seguida para tomar o seu café.

— Bom Dia senhor Said, irei mandar trazer o seu café.

— Obrigado Francisco — Said se serve de um copo de suco — Francisco, deixarei João a disposição da minha esposa, mas ele deve ter cuidado com ela, pois ela não conhece a cidade.

— Irei avisá-lo sobre isso, senhor.

— Ela ainda está dormindo, deixem ela dormir o quanto quiser, deve estar cansada pela viagem.

Depois que Said tomou o seu café da manhã, saiu para o escritório. Ele estava impecável como sempre elegante, com seu terno sob medida e seus sapatos importados. Estava com a barba feita exibindo o seu queixo quadrado. Seus cabelos negros penteados de forma impecável e usando a sua fragrância pós barba preferida.

Quando ele chega no escritório recebe uma ligação de seu melhor amigo, Albuquerque, que era dono de uma rede de restaurantes.

— Nem acreditei quando recebi sua mensagem dizendo que estaria no escritório.

— Deixa de bobagem, como estão as coisas?

— Você quer dizer como estão os preparativos para a festa de inauguração da minha mais nova conquista, uma casa de show? Acredito que não vá poder ir, ou levará a sua esposa?

— Errado nas duas coisas, eu irei e não irei levar a minha esposa.

— Hum... ok. Mas me diz como está sendo a vida de casado?

— Nem imagino, pois não me sinto casado.

— Mas ela é desprovida de beleza, como você imaginou?

— Pelo contrário, ela é simplismente linda.

— Quer dizer que tirou a sorte grande. Novinha e linda.

— Esquece isso. Mas não esqueça de separar os meus convites.

— Você disse que não irá levar ela.

Said ri, pois a intenção dele é levar outra pessoa. Depois de ler alguns relatórios e assinar alguns documentos ele resolve ir para casa, afinal era o primeiro dia de Zaya em um lugar estranho, e ela estava sozinha em casa.

Depois do almoço que Zaya adorou, e agradeceu a Dolores, ela quis dar uma volta na cidade, ela nunca tinha saído sozinha, na verdade pouco saia de casa, apenas para visitar a família do marido. Estava animada para conhecer a cidade, mesmo que fosse de dentro do carro. Ela decide tomar um banho e se arrumar, foi vestida com um longo azul celeste e um hijab de um tom mais escuro, caprichou na maquiagem dos olhos e resolveu ir sem cobrir o rosto, já que o marido havia autorizado.

— Para onde iremos senhora?

— Queria apenas ver a cidade, não desejo ir em nenhum lugar específico.

— Irei fazer um pequeno tour com a senhora, pode ser? Assim poderá conhecer alguns pontos turísticos, e depois pode se decidir a conhecer algum deles.

— Pode ser, eu agradeço. Poderia ir me falando a respeito dos lugares, se não for te incomodar.

— Claro senhora, terei imenso prazer. — Ela dá um sorriso tímido, e João se simpatiza por ela parecer tão inocente.

João sai da Barra onde era a mansão que moravam e decide leva-la para zona sul do Rio. Passeia de carro pela praia, e ela fica vermelha ao ver as mulheres de biquine, João vai falando o nome das praias, passa pela Urca, mostra o Pão de Açúcar e o Corcovado e segue com ela olhando tudo, admirada com o que via. Eram pessoas andando apressadas, mulheres com as costas nuas e de cabelos muito curtos, ela até achou muitas bonitas, mas jamais teria coragem de vestir algo do tipo, e nem cortar os seus cabelos daquela forma, além de serem curtos, muitos eram pintados de cores diferentes, chegou a ver uma jovem com cabelos rosa.

— Deseja parar em algum lugar senhora? — João pergunta.

— Não senhor João, eu nem deveria ter saído de casa sem a permissão do meu marido, mas acho que ele não vai brigar.

— Com certeza não irá, senhora.

João sorriu para ela, não sabia se ela conseguiria ser feliz com Said, que era tão mulherengo. Ela parecia ser uma jovem inocente, e por alguns instantes sentiu pena daquela jovem. Ele a olhava pelo retrovisor e podia ver ela sorrindo com tudo o que estava vendo. Achava estranho a forma dela se vestir, mas ela parecia não se importar de se vestir daquela forma.

— A senhora quer que eu compre uma água de coco? As pessoas na praia costumam tomar pois ajuda a hidratar.

— Eu nunca fui a uma praia, mas as pessoas aqui parecem gostar.

— Sim, praia é uma boa diversão para todos, inclusive para os mais carentes, pois é um lugar público e dá para se divertir gastando pouco.

— Aqui tem cinema por perto?

— Sim tem shoppings com várias salas de cinema, posso levá-la se quiser.

— Não, eu não quero ir. Eu nunca fui no cinema meu pai dizia que era errado. — João decide ficar calado, cada vez ele descobre coisas mais absurdas — Quero apenas dar uma volta na cidade mesmo. Estou adorando o passeio.

— Se quiser eu compro uma água de coco, e a senhora toma dentro do carro.

— Eu vou aceitar, quero experimentar — Ela fala sorrindo como uma criança a espera de um doce.

João para perto de um quiosque, para não deixar ela sozinha fora dos olhos dele. Ele compra uma água de coco e volta para o carro.

— Depois eu peço para Said te pagar, eu não tenho nehum dinheiro.

— Não precisa, estou te dando para experimentar.

— Obrigada. — Zaya agradece, ela gostava do senhor João ele era um senhor e ela gostou dele, ela adorou a água de coco, dizendo ser uma delícia.

Depois de alguma tempo João a levando por alguns lugares e falando um pouco sobre eles, eles voltam para casa, já era no final da tarde. Quando Zaya entra em casa, Said vem ao seu encontro e ela sente um certo medo.

— Onde foi? — Said pergunta curioso, mas ela pensa que ele irá brigar com ela por ter saído sem a sua permissão.

— Me desculpe, eu não farei mais isso. — Ela fala abaixando a cabeça, ele revira os olhos pois aquela atitude de submissão ao extremo já está o irritando.

— Relaxa, eu não estou brigando apenas perguntando onde você foi, só isso. Eu não sou o seu pai para ter que me pedir permissão para tudo — Ele parece irritado e Zaya não sabe o porquê, o que fez de errado? Zaya se pergunta.

Ela decide ir para o seu quarto sem responder, estava tão feliz, mas saber que o seu marido não gosta dela, a deixa triste. Said resolve não segui-la, ele não gosta muito desse jeito dela, tudo pede desculpas, o olha como se ele fosse o seu pai e não o seu marido, e isso o deixa irritado. Resolve ir para o seu escritório e lá ficaria, até a hora do jantar.

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