CAPÍTULO 11 - Arroz, feijão, bife e batata frita

Quando Zaya acorda, Said já havia se levantado. Ela fica pensando na noite anterior, Said dormiu ao seu lado, mas como ele mesmo disse não a tocou. Como iriam colocar um bebê no forno? Se perguntava Zaya. Acreditava que ele realmente não queria se casar, por isso não quer fazê-la sua. O seu pai disse que ele a esperava ansioso, mas não parecia ser verdade. Mas não acreditava que o seu pai estivesse mentindo para ela, pois o mentiroso pelo que pode ver, era Said, que mentiu para o avô sobre poderem está esperando um filho.

Ela se levanta e toma um banho, veste um dos seus vários vestidos iguais, que a cobriam toda, coloca o seu hijab, mas não cobre o rosto, não queria aborrecer ao marido.

Quando ela chega para tomar o café da manhã, não tinha ninguém a mesa, mas a mesa estava posta, e como em um passe de mágica aparece uma mulher de uniforme.

— Bom Dia, senhora. Eu sou Cristina, mas todos me chamam de Cris. Eu vou servir o seu café.

— Bom Dia Cris, obrigada. Poderia me trazer um chá?

— Qual o chá a senhora deseja?

— Traga-me aquele que os brasileiros mais bebem — Zaya sorri para Cris, que logo sai de sua presença, retornando com uma xícara em uma bandeja.

— Espero que goste, é chá de erva doce.

— Sim, conheço. Costumamos colocar um toque de hortelã no nosso chá. Mas eu agradeço pelo chá que preparou. — Zaya toma um gole do chá e decide perguntar pelo marido — O meu marido, ele já saiu?

Assim como Cris surgiu de repente, o mordomo Francisco logo surge a sua frente para lhe responder.

— O senhor Said saiu para a empresa muito cedo, e pediu que avisasse a senhora para fazer o que tivesse vontade.

— Obrigada senhor Franciso.

Zaya fica pensando o que fazer, em casa geralmente ela ficava lendo ou fazendo pesquisas escondidas, mas Said a deixou livre, talvez por não gostar dela, ela pensou. Quando acaba de tomar o seu café, Cris ainda estava parada ao seu lado, isso já estava a incomodando.

— Cris, eu poderia falar com Dolores?

— Claro Senhora, eu irei chamá-la.

— Não precisa, poderia me levar até a cozinha?

— Sim, mas acredito que não seja conveniente a senhora ir a cozinha, pode ter outros funcionários.

— Eu não me importo. Vamos? — Zaya se põe de pé e passa as mãos em seu vestido. Quando ela chega a cozinha todos a olham ela a princípio fica um pouco envergonhada, e pensa em cobrir o rosto, mas se lembra das palavras do marido.

— Dolores, a senhora Zaya gostaria de falar com você.

— Bom Dia Senhora, não gostou do jantar de ontem, ou foi, alguma coisa no café da manhã?

— Bom Dia, Dolores. Bom dia a todos. — Estavam na cozinha o senhor Damião que cuidava de toda a área externa da casa e do jardim, e uma outra jovem que parecia ajudar Dolores — Não é isso, pelo contrário o jantar estava delicioso. Me senti ainda no Líbano — Ela havia comido homus que consiste em uma pasta de grão de bico, kibbeh feito com carne de cordeiro e Cordeiro assado — Na verdade, eu gostaria de fazer um pedido, mas se não puder fazer não tem importância — Dolores vendo a aflição da jovem por querer fazer um pedido, se aproxima para lhe dar coragem.

— Diga-me minha filha o que deseja comer?

— E porque eu li muito sobre o Brasil, e aqui vocês parecem comer muito arroz, feijão, batata frita e bife. Será que poderia fazer para o almoço.

— Claro minha menina — Dolores vê como ela é novinha — Irei preparar para você e sei que vai gostar.

— Obrigada. Outro dia poderia experimentar uma tal de feijoada? — Dolores sorri com a simplicidade da jovem esposa do patrão Said.

— Sim, irei preparar alguns pratos brasileiros para você, os que você gostar, eu continuo fazendo, os que não gostar, não faço mais. — Zaya agradece e dá um abraço em Dolores ela era uma senhora e parece ser tão boazinha.

— Com licença, não vou mais atrapalhar vocês. — Zaya sai da cozinha e todos ficam admirados com a educação e a simplicidade da esposa de Said.

Quando ela volta para a sua suíte, decide ligar para a mãe.

— Oi minha filha, como você está?

— Oi mamãe. Eu estou com saudades, irei experimentar algo bem brasileiro hoje no almoço, arroz, feijão, bife e batata frita.

— Você sabe cozinhar muitos pratos filha e deve fazer pratos que agrade ao seu marido.

— Mamãe, aqui os costumes são diferentes, temos uma cozinheira, e eu acho que não vou precisar ficar na cozinha fazendo pratos. Na verdade eu que pedi a Dolores, a cozinheira, para fazer esse prato para mim — Ela sorriu ao lembrar da reação de Dolores, por achar um prato tão simples e ela nunca ter comido — Li muito sobre o Brasil, e cada região tem os seus pratos típicos, mas o arroz, feijão, bife e batata frita é um prato típico de todas as regiões.

— Não sabia que tinha feito pesquisa sobre o país, mas você fez certo, assim não se sente tão perdida em um país diferente.

— Os costumes aqui são muito diferentes dos nossos. Aqui a maioria das pessoas andam com shorts curtos, barriga de fora, isso sem falar nos decotes — Ela conta rindo para a mãe — Quando cheguei no aeroporto as pessoas ficaram me olhando, pois fiz questão de cobrir o meu rosto, Alá! — Zaya fala como se fosse um grande pecado andar com o rosto descoberto.

— Fez bem minha filha, e nem pense em se vestir como as mulheres daí, Ala! Seu pai morreria de desgosto, se te visse mostrando o corpo.

— Alá! — Zaya fala com pavor — Jamais seria capaz de mostrar o meu corpo dessa forma.

— Fico muito feliz em te ouvir, não nos envergonhe desagradando o seu marido. Já imaginou ele pensar que não te educamos como deveria ser, precisa ser uma mulher discreta e obediente, apenas o seu marido pode ver o seu corpo.

— Eu sei, mamãe. — Zaya muda de assunto — Acho que vou dar uma volta na cidade mais tarde, mas vou de carro mesmo, Said deixou um motorista a minha disposição.

— Não saia na rua sem o seu marido, e não esqueça de pedir permissão a ele se for sair com o seu motorista, e cubra o seu rosto.

— Tudo bem mamãe, eu vou me lembrar de tudo isso.

Zaya se despede da mãe e encerra a ligação, não antes de mandar um beijo para Aisha.

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