Capítulo 14

O tempo vai passando e apesar de sua situação, as coisas se tornam mais tranquilas. Ela continua sendo perseguida pelas garotas da prisão, mas agora, sem ela pedir, Xaiane se tornou sua sombra. As duas geralmente trocam poucas palavras, devido aos eventos acontecidos anteriormente.

Porém, no dia atual Xaiane puxa conversa com Dani, enquanto ela penteia os cabelos.

— Você é muito bonita. — Xaiane diz casualmente.

— Quer me matar novamente só porque me acha bonita? — Daniele responde, sem se afetar.

— Não é isso… é só que, você não é uma pessoa ruim, apesar de ser bonita.

Daniele para de pentear os cabelos e olha para Xaiane, lhe dando atenção.

— Você sabia que o caráter das pessoas não se mostra pela aparência? Minha mãe sempre me dizia que "quem vê cara, não vê coração."

Xaine sorri e diz:

— A minha me dizia que a minha cara era tão feia quanto o meu coração.

— Onde está a sua mãe? — Dani pergunta.

— Deixou esse mundo, assim como a sua. Aliás, não foi exatamente como a sua. A sua morreu de morte natural, né? A minha foi se matando aos poucos.

Daniele se senta em sua cama e olha para Xaiane com curiosidade.

— Como assim a sua mãe se matou aos poucos?

— Drogas, garota. Minha mãe se acabou nas drogas. No passado ela era muito bonita, mais bonita que você. Porém, ela não era uma pessoa boa comigo… acho que ela não era boa nem com ela mesma. Ela se prostituía para usar drogas e quase me vendeu também, se não fosse minha avó. Ainda bem que ela morreu. Não tenho nenhuma consideração por ela.

— Eu sinto muito por você. Você não é feia, na verdade você é bem bonita. Só tem uma cara de malvada. — Daniele diz, fazendo Xaiane sorrir.

Xaiane era alta, tinha um rosto andrógeno e usava cabelos curtos. Quem olhasse de longe, já imaginaria que ela era uma mulher perigosa.

— Você não precisa ser legal comigo, songa monga. — diz Xaiane — Só seja legal com essa criança aí. Não caia no mundo das drogas, como minha mãe e se puder, não se prostitua mais.

Daniele balança a cabeça em negativa e dá um sorriso lamentável.

— Eu fico sempre me perguntando, o porquê é tão fácil acreditar em fofocas, ao invés de tentar saber a verdade. Você já viu alguém daqui perguntar qual é a verdadeira origem do meu bebê? — ela fez uma pausa e continuou — Eu nunca fui para cama com ninguém. Esse bebê nem é meu. Eu apenas estou o gerando em meu corpo.

Xaiane olha para Dani, juntando as sobrancelhas.

— Você já começou a usar drogas? Como assim você engravidou sem foder?

— Os médicos colocaram ele dentro de mim. Foi assim que eu engravidei. Esse bebê é o filho do meu irmão com a minha cunhada. Estou carregando o único pedaço do meu irmã que sobrou no mundo. — após ela acaricia o seu ventre, se lembrando de Victor.

— É muito difícil acreditar em você. Essa história é muito louca. — Xaiane diz desconfiada.

— É mais fácil acreditar que um milionário apareceu do nada para comprar a minha virgindade e me engravidar? Isso também é muito louco. Por que um milionário iria procurar uma virgem na prisão? Um lugar que está cheio de adolescentes infratoras e muitas que até já tiveram filhos?

— É… essa história também é doida. Mas se você diz a verdade, por que aceitou ser barriga de aluguel do seu sobrinho? Você está na prisão, correndo perigo de vida e aceitou gerar essa criança aqui dentro?

— Você sabe o que é desespero? Eu estava desesperada. Essa criança me deu a chance de conseguir me proteger de você. A mãe dele foi quem me deu o que precisava para pagar por proteção.

— É claro que eu sei o que é desespero! Está louca? Todas daqui sabem o que é desespero, se não soubessem não teriam parado aqui! Me desculpe aí por ter te engravidado, sonha monga. Quer o quê agora? Que eu me torne mãe do seu filho? — Xaiane diz irritada.

— Eu já disse que essa criança já tem uma mãe. Quando ele nascer ela vai levar ele eu vou seguir com minha vida. — Dani responde, igualmente irritada.

— Por que a mãe dele pediu para você engravidar do filho dela?

— Ela disse que tinha sofrido um aborto e por isso não podia engravidar naquele momento.

— Por que ela não esperou se recuperar para ela mesma engravidar? Essa fertilização foi ilegal, não é? Você é menor de idade. Olha, essa história é estranha. Acho que você se meteu em uma furada.

— Eu não sei… — Daniele por ingenuidade não tinha pensado por esse lado. Não tinha pensado que as circunstâncias de sua gravidez não era confiáveis.

— Garota, se eu fosse você não confiaria nessa mulher.

— Mas meu pai sabe de tudo. Ele vai cuidar do neto. — Daniele diz, ponderando.

— Tem certeza que o seu pai sabe? Você acha mesmo que se ele soubesse deixaria você na prisão gerando o neto dele? Correndo o risco de sofrer alguma violência e perder a criança a qualquer momento? — diz Xaiane, colocando dúvidas na cabeça de Dani.

Dani olha para o seu ventre e pensa no bebê. Tenta imaginar qual é a real razão da existência dele. Tenta imaginar o seu futuro assim que ela o entregar a mãe.

Será que ela deveria entregar o filho de seu irmão nas mãos de um futuro incerto? Mas com ela, o bebê poderia ter um futuro mais incerto ainda.



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