Capítulo 4

Daniele entrou para o grupo de Cirleia. Ela não era forte, mas prometeu além de trazer chocolates para as garotas, prometeu fazer as suas lições de casa, já que existia uma escola dentro da prisão.

O dinheiro que Victor trazia, Daniele escondia, esperando usar apenas se alguma emergência acontecer, já que a sua segurança não era totalmente garantida, pois foi avisada de sempre andar atrás de Cirleia, ou de outra integrante, pois se fosse pega sozinha, elas não poderiam fazer nada.

Cirleia se mostrou uma boa amiga e a vida de Daniele ficou melhor, na prisão. 

Miguel sempre a visitava. Começou com uma vez na semana e passou a visitá-la mais de uma vez na semana.

Ele sempre se preocupava em como ela estava, lhe levava chocolates e em um dia lhe disse que a achava bonita, em outro disse que gostava muito dela e em outro disse que a amava.

Ele não conseguia mais disfarçar os seus sentimentos e Daniele também começou a cultivar sentimentos por ele.

Eles começaram a ter um relacionamento incomum, onde não havia beijos ou carícias, mas havia muitas palavras de carinho um com o outro.

Daniele era muito jovem e estava vivendo a experiência de seu primeiro amor. Ela não sabia bem como se expressar e acabava por lhe escrever algumas poesias, declarando os seus sentimentos.

Miguel sempre as guardava consigo, ele guardava todas com carinho e se dedicava muito ao caso de Daniele, para conseguir encontrar uma solução. Mas como a garota era menor de idade e ele apenas um estagiário pouco podia fazer.

Existia um problema nisso tudo, que martirizava Miguel, Daniele acreditava que ele era um advogado e podia tirá-la da prisão. Ele tentou lhe contar a verdade, mas por medo que ela o rejeitasse, ele sempre desistia. E isso tudo estava virando uma grande bola de neve, pois Daniele já estava há um ano na prisão e ele não conseguia cumprir a promessa que fez em tirá-la de lá.

Em um dia, Victor foi visitar Daniele e levar algum dinheiro e coisas para mantê-la segura no local. Ele foi com Bela, que às vezes o acompanhava nas visitas.

– Oi Dani! Como está, minha querida! – disse Bela, se sentando na cadeira a sua frente. Desde que percebeu que falar mal de Daniele era uma mal negócio, ela passou a agir de uma forma exageradamente carinhosa com Dani, na frente de Victor.

– Eu estou bem, na medida do possível. – Daniele diz sorrindo, levemente.

– Minha irmã, eu peço perdão por não ter conseguido ainda convencer o papai a te tirar daqui, mas aguente firme. Eu vou conseguir!

– Não se preocupe, Victor. Eu tenho um advogado e ele vai me tirar daqui!

– Da defensoria pública?

– Acho que é disso aí mesmo! Ah ele é muito legal comigo e sempre me traz bombons. 

Victor olha para a irmã desconfiado, pois ele já tinha recorrido a defensoria pública e percebeu que o caso de Dani estava preso a um monte de processos burocráticos que não deixava a defesa dela sair do lugar.

– Irmã… é… – ele ficou sem jeito, em lhe dizer que havia algo errado com aquilo tudo. – Tome cuidado, ouviu? Não se deve acreditar em todas as promessas que nós fazem.

– Ah, um dia você vai conhecer ele e vai ver que é uma pessoa muito legal! Não precisa se preocupar. Aliás, acho que ele vem me visitar hoje a tarde, talvez possa o encontrar na saída, quando for embora.

– Hummmm… certo. – diz Victor pensativo.

– Acho que não vai dar, não é amor? – diz Bela, o interrompendo – Dani, viemos contar uma novidade! Você vai ter um sobrinho!

– O quê? É sério! – disse Daniele, em cólicas de felicidade.

– Sim! E quando sairmos daqui, vamos direto para a clínica, para fazermos alguns exames.

– Ah, eu fico tão feliz por vocês dois! Queria muito estar fora daqui para acompanhar o crescimento do meu sobrinho.

– Nós também queríamos, minha querida, queríamos muito! – disse Bela, com um entusiasmo falso.

O casal saiu da sala de visitas e Victor ainda estava pensativo. Ele assinou o controle de visitas, mas estava curioso para saber, quem era o tal advogado que estava fazendo promessas falsas a sua irmã.

– Victor, vamos? – disse Bela, o interrompendo de seus pensamentos.

– Não, vamos ficar mais um pouco. Podemos marcar seus exames para outro dia ou mesmo que chegarmos atrasados, podemos ainda ser atendidos.

Bela odiava ter que ir a prisão, mas como não queria perder a oportunidade de se casar com um homem rico, acabou cedendo a sua vontade. Ela acreditava que assim que se casassem, ela o convenceria a largar de mão a irmã e isso aconteceria principalmente, depois que bebê nascesse.

Eles se sentaram na recepção, e ficaram ali por uma hora, até aparecer um garoto de uns vite um anos, loiro, alto e vestido com um terno cinza. Ele assinou a presença e Victor ouviu a recepcionista perguntando a ele se pretendia visitar a prisioneira Daniele.

Foi nesse momento que ele percebeu que aquele provavelmente era o tal advogado.

Miguel foi ao banheiro e Victor foi atrás, enquanto Miguel checava a sua aparência no espelho, Victor apareceu e já foi o empurrando contra a parede. Ele o encarou nos olhos com um olhar raivoso, enquanto Miguel se mostrava surpreso e assustado ao mesmo tempo.

– Então é você, não é? É você que está enganando a minha irmã! Qual a sua idade, garoto? – ele diz batendo as costas dele contra a parede.

– Eu… eu… quem é você? Por que está me agredindo assim de graça?

– Qual a sua idade, garoto!

– Vinte e um, eu tenho vinte e um. Mas quem é você?!

– Nunca vi um advogado formado com vinte e um anos! Você está enganando a minha irmã? Se aproveitando da inocência dela, desgraçado!

Nesse momento Miguel se deu conta de quem se tratava. Daniele já tinha mencionado sobre Victor, em uma de suas conversas.

– Você deve ser o Victor, não é? Olha eu vou ser bem sincero, sou apenas um estagiário, mas eu posso sim tirar a sua irmã da prisão. Eu posso pedir ajuda aos meus pais.

– Desgraçado! – Victor bate novamente o corpo de Miguel contra a parede – Ela é uma menina inocente que está sofrendo muito. Não merece que um garoto venha aqui e a engane! Olha, escute bem, suma da frente da minha irmã ou eu conto tudo a ela. Eu sei que ela vai sofrer, mas será melhor do que ficar acreditando nas suas mentiras!

Victor bate novamente o corpo de Miguel contra a parede e o solta. Ele sai do banheiro, transtornado, pois não admitia que existia tantas pessoas no mundo sem empatia. Para ele, Miguel estava querendo iludir Daniele, porque ela era muito bonita e pura.

Ele saiu da prisão, com os nervos a flor da pele, estava indignado que podia haver tantas injustiças no mundo, com pessoas inocentes. 

Bela foi correndo atrás dele, tentando alcançar os seus passos largos. Eles chegaram no carro e antes de dar a partida, ele bateu no volante, descontando a raiva que estava sentindo.

– Amor, pense no nosso bebê. Ele é mais importante agora. – disse Bela, tentando o acalmar.

Victor deu a partida, e foi dirigindo, com aqueles pensamentos de indignação na sua cabeça.

– Bela, eu acabei de decidir. Vou abrir mão da herança do meu pai e vou sair daquela casa.

– O quê?! – Bela foi pega totalmente de surpresa. – Mas e o nosso bebê?

– Por isso mesmo, não quero nosso filho tendo parentes tão cruéis. Eu sou formado e posso conseguir um emprego e sustentar a nossa família, mas não quero mais nenhuma ajuda dos meus pais.

– Victor! Você está louco? Você nem sabe se ela é sua irmã de verdade! Aquela garota pode ser uma oportunista, isso sim! Você quer abrir mão do seu conforto por causa de uma delinquente!

– Cale essa boca, Bela! É claro que Daniele é minha irmã! Diz isso porque ela tem a pele negra? Por que é só nisso que somos diferentes, ela é igual a mim e ao papai! 

– Eu não vou admitir que você tire todos os direitos do nosso filho, Victor! Se você abrir mão da herança, eu vou te deixar!

– Então vá embora!

Bela ficou com raiva e começou a bater em Victor, ele estava ao volante e o carro começou a ziguezaguear pela estrada. De repente eles entraram na contramão e em um segundo um caminhão apareceu na frente do carro. Não deu tempo de reagir e a iminente batida aconteceu.

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