Capítulo 9

Era uma tarde de sábado e Miguel finalmente volta de viagem, com uma decisão em sua mente. Ele nem vai para sua casa, vai direto para o Centro de Correção de Menores Infratores, pois ele não iria desistir de Daniele e agora ele sabia como tirá-la da prisão.

Sua mão suava e ele não conseguia ficar parado, olhando os ponteiros do relógio que não se mexia, então, Miguel decide ir até o banheiro e ensaiar em frente ao espelho como iria fazer a proposta a ela. Ele estava muito nervoso, mas não desistiria da sua decisão.

"Dani… é… eu senti muito a sua falta, me desculpe por ter sumido por tanto tempo é que eu estava pedindo permissão a minha família…"

"Não, assim não! Ela vai achar que eu sou dependente dos meus pais, apesar de eu ser um pouco… Droga!"

"Dani, você está muito bonita hoje. Eu gosto muito de você e quero me casar com você."

"Não, assim também não. Eu não deveria ir direto ao ponto."

"Dani, case-se comigo para sair da prisão, depois nós podemos nos divorciar."

"Não, eu não quero me divorciar, eu quero que dure o nosso relacionamento para sempre. Droga, eu sou muito ruim nisso."

"Dani, desde a primeira vez que te vi, você é a mulher que não sai dos meus pensamentos. Eu sei que parece um procedimento frio e legal, mas se você casar comigo, eu não vou só te tirar da prisão, eu prometo te fazer a mulher mais feliz desse mundo para sempre."

"Ela vai me achar um esquisito se eu disser isso? Enfim, já deu o horário e eu tenho que ir."

Ele arruma os cabelos loiros, passa a mão no rosto, conferindo a aparência e sai em direção a sala de visitas.

Daniele segue, caminhando até a sala de visitas, um pouco desanimada. Esperava encontrar Bela e ela já não estava mais esperançosa de que Bela lhe trouxesse alguma notícia boa.

Ela abriu a porta e quando entrou o viu lá.

Daniele ficou parada e hesitou em entrar. Miguel se levantou da cadeira, quando a viu, ele respirou profundamente, encantado. Sua vontade naquele momento era de ir até ela e a abraçar forte, matando a saudade que sentia.

A guarda empurrou Daniele, a obrigando a entrar. E ela decidiu enfrentar Miguel de frente. Se sentou na cadeira na sua frente, cruzou os braços e ficou em silêncio de cabeça abaixada

– Dani, é… eu senti sua falta.

Daniele bufou e balançou a cabeça em negativa, desacreditada.

– Dani, por favor, olhe para mim. Ele diz, quase implorando.

Ela levanta o olhar e ele sente o seu desprezo.

– Dani, eu sei que fiquei muito tempo longe e eu não te dei satisfações, me desculpe, tá? Eu estava resolvendo as coisas para nós, dessa vez eu vou te tirar daqui de verdade.

– Eu estou cansada, Miguel. – ela diz, falando baixo.

– Eu sei, eu sei… eu vou cuidar de você, tudo bem?

– Eu estou cansada disso tudo. – ela continua – Cansada de ser acusada injustamente, cansada de ser espancada e machucada, cansada de ser manipulada pelas pessoas mentindo para mim. Eu só queria entender, qual foi a sua razão? Qual foi a razão pela qual você achou que deveria me enganar? Eu não tenho nada, sou uma coitada na vida. Por que você mente para mim?

Dessa vez Miguel ficou sem palavras, ele percebeu que Daniele descobriu que ele não era um advogado ainda.

– Dani eu… eu nunca te disse que eu era um advogado… eu… merda! Eu não disse mas deixei você acreditar, não é? Mas eu não fiz por mal, eu…

– Você não fez por mal? – disse Dani, o interrompendo – Você só achou divertido dar esperanças a uma pessoa desesperada? Que brincadeira de mal gosto é essa?

– Não! Dani, eu só não me formei ainda, mas… droga! O seu irmão foi muito impulsivo, ele não me ouviu…

– Não fale do meu irmão, Miguel. Ele foi a única pessoa no meio de tudo isso que era sincero comigo. Ele foi a única pessoa que me amava de verdade.

– Não! Como assim? Eu… eu também gosto de você, eu gosto muito de você. Não seja impulsiva também, tenha paciência, me ouça por favor! Eu vou te tirar daqui, eu te prometo isso.

– Vai me dizer que quando se formar vai me tirar daqui? Vai me pedir para te esperar? Quanto tempo falta para se formar, Miguel? Vai me dizer que falta pouco, é isso? Eu não vou mais acreditar nas suas mentiras. Por favor, nunca mais volte aqui.

Ela se levanta e ele levanta junto.

– Dani, me escute, eu sei como te tirar daqui…

Daniele dá as costas para ele e dá alguns passos, o ignorando. Miguel por impulso, vai até ela e segura em seu braço.

– Dani, por favor me ouça!

– Se afaste agora! – a guarda grita, o empurrando. – Sabe muito bem que deve evitar contato físico com as detentas. – a guarda se põe entre eles, olhando com hostilidade para Miguel.

– Dani, por favor, fique. Eu preciso muito falar com você! – ele diz ignorando a guarda e ainda tentando se aproximar de Daniele.

– Eu já disse, Miguel. Nunca mais me procure. – ela diz se virando para ele – Quer saber, eu decidi que não quero sair daqui. Aqui dentro tem pessoas muito ruins, mas aqui estou protegida das pessoas piores que estão lá fora.

Daniele vai embora, sem olhar para trás, deixando Miguel desolado.

Ele ficou sem saber o que fazer. Agora que ele acreditou que poderia cumprir sua promessa e fazer de tudo para que Daniele pudesse ter uma vida feliz, ela simplesmente não quer mais olhar no rosto dele. Ela nem deixou que ele falasse.

"Que piada! Do jeito que ela me odeia, não iria aceitar nunca a minha proposta, mesmo!" – ele pensa, desolado.

Miguel se levanta de sua cadeira e vai embora, mas ele não vai desistir. Ele pretende ainda lutar para convencer Daniele que ele merece uma chance com ela.

Ele só não sabe ainda como fazer isso, mas… será que ele ainda irá querer lutar por esse amor, quando descobrir a gravidez de Daniele?

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