Em um escritório minúsculo, no fórum do centro da Cidade do Rio de Janeiro, um homem de mais ou menos quarenta anos, com um óculos repousando na ponta de seu nariz, examina alguns papéis.
Ele está vestido, com uma camisa branca com listras verticais azuis, a qual, os botões estão em seu limite, sendo pressionados por seu protuberante abdômen.
Em sua cabeça, exibe uma avançada calvície, a qual ele tenta esconder debilmente, com alguns fios grisalhos penteados para o lado.
O seu estagiário, Miguel, entra na sala, e se senta na cadeira a sua frente.
(Miguel)
— Garoto, nós temos uma nova detenta. — o homem joga uma pasta em direção a Miguel e este começa a examinar.
Ele olha a foto, daquela garota, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Pela foto, ela parecia doce e meiga. Ele até poderia julgar, apenas olhando sua aparência, que ela parecia inocente.
Ele começa a ler sua ficha em voz alta com uma certa curiosidade, sobre aquele caso:
— Daniele Silva, dezesseis anos, mãe falecida, órfã. Órfã? Mas tudo não aconteceu na casa do suposto pai?
— O suposto pai, ainda não tinha assumido a paternidade da garota. Ele estava apenas com sua tutela temporária, para que ela não fosse levada para um orfanato.
Miguel continua lendo a ficha e de repente exclama:
—Furto!? Apenas furto poderia dar uma pena tão longa? — ele pergunta, estupefato.
— Foi pega em flagrante e não foi só um simples furto, foi um furto de um objeto muito valioso.
— Ainda assim…
— Garoto! — o homem perde a paciência — Você está muito interessado no caso. Não se apegue, não existe inocentes naquele local. Só vá lá, pegue o depoimento para anexarmos na defesa e depois arquivamos tudo. Isto aqui é apenas para dizer que todos tem direito a defesa, mas sabemos bem que não é assim.
Miguel sai do prédio, da defensoria pública e pega um ônibus em direção ao presídio, chegando lá, cumprimenta alguns guardas e segue para a sala de visitas.
Ele se senta, olha o seu celular um pouco, depois pega a pasta da detenta e olha novamente a foto. Ele era apenas um garoto sonhador, de vinte anos, estudante de direito, que resolveu estagiar na defensoria pública, pois queria muito sentir como era defender casos difíceis.
A porta da sala de visitas se abre e quando ele levanta o olhar, vê a garota da foto entrando. Tudo foi como em câmera lenta. Ela andava e fios de seus cabelos se agitavam levemente, seus cílios longos deram uma leve piscada. Ela baixa o olhar, evitando contato visual e acaba se sentando em sua frente.
Seus lábios carnudos e rosados se mexem e ele não ouve nada, ele estava totalmente hipnotizado.
Será que existe amor à primeira vista? Talvez a segunda, já que ele tinha visto a sua foto antes? Mas a foto, nada se comparava a vê-la pessoalmente. Se existe amor a primeira vista, Miguel estava experimentando isto nesse exato momento.
— Você veio me tirar daqui? — ela diz e finalmente ele a ouve.
— Hã… Miguel. É Miguel!
— O quê? Não entendi?
— Miguel é o meu nome. É… qual é o seu?
— Não está escrito na ficha? — Daniele pergunta, confusa.
— Ah sim, claro! Daniele Silva… é… você tem um nome bonito. — ele estava totalmente sem jeito na frente dela.
— Ah… obrigada, eu acho… — Daniele estava um pouco perdida com o comportamento dele. Mas quem não ficaria?
— Furto simples, não é? É… não estou afirmando que você é culpada, só estou preenchendo o formulário.
— É claro que não sou culpada! Alguém armou para mim. Por favor, me ajude a sair daqui! Esse lugar é horrível!
— Eu vou te ajudar… eu vou! — ele não podia fazer aquela afirmação, pois era apenas um estagiário, mas era verdadeira a intenção de tirá-la de lá.
— Muito obrigada, moço! Serei grata para sempre a você! — ela pega em sua mão, apertando em agradecimento.
Miguel sente a emoção invadir o seu interior, quando sentiu o toque de sua delicada mão. Como negar para ela agora? Como dizer que não podia fazer nada para tirá-la dali, pois dependia da boa vontade da justiça e de seus superiores?
Miguel, mesmo abobado e sem jeito, consegue pegar o depoimento e anexa as informações a defesa, após, mesmo hesitante, ele vai embora, imaginando uma forma de tirar a garota da prisão.
Daniele acredita que ele vai tirá-la da prisão e nem percebeu que ele era jovem demais para ser um advogado formado. Ela não entendia muito dessas coisas, era apenas uma adolescente do ensino médio que sonhava em escrever um livro, um dia.
A guarda chegou e levou Daniele de volta para cela, ela foi sorrindo, animada, pensando que existia esperança de sair dali. Chegou em sua cela, que estava vazia, sentou-se em seu canto frio, pegou seu caderno e começou a escrever uma poesia. Escrever era uma forma que ela tinha de se transportar para uma realidade melhor e mais bonita.
Ela estava tão concentrada, que não percebeu quando Xaiane entrou na cela, acompanhada de mais duas garotas. Ela foi até Daniele e chutou a sua mão, a surpreendendo e fazendo o seu caderno de poesia ser atirado para longe.
Daniele tremeu de medo, ao ver as três garotas enormes na sua frente.
— Achou que eu não ia te pegar, patricinha? Você mexeu com a pessoa errada!
— Mas eu não fiz nada! — Daniele exclama confusa e com muito medo ao mesmo tempo.
— Só a sua existência me irrita!
Após dizer, Xaiane dá um chute em Daniele e aquilo foi o estopim para as outras garotas atacarem.
Daniele começou a ser espancada por chutes e socos, ela tentava se defender, colocando os braços na frente, mas de nada adiantava. Ela apanhou até perder as forças para resistir e desmaiar.
…
No dia seguinte, Victor aparece na prisão junto com Bela Nogueira para visitar Daniele, mas acaba não conseguindo, pois é informado que ela estava internada em estado grave.
Ele se desespera, e exige conseguir ver a irmã. Mas os guardas o imobilizam e o jogam para fora da prisão.
Victor entra em seu carro e bate no volante com raiva. Ele não conseguia admitir que a irmã estava passando por tudo aquilo, ele não acredita que Dani foi capaz de furtar o anel.
— Ela fez por merecer, amor. Mas a prisão ensina, logo ela vai ficar esperta e aprender a se defender. — diz Bela.
— Você diz como se ela fosse culpada. — Victor olha estupefato para a noiva.
— E você acha que não é? Sejamos sinceros, a garota morava na favela com a mãe, antes de encontrar o pai. É claro que veio de lá com maus hábitos.
— Olha, Bela. Não é só porque uma pessoa mora em um local humilde que ela imediatamente será uma pessoa desonesta. Essa cidade foi construída por pessoas humildes e trabalhadoras. Devemos ser gratos pelo trabalho deles.
— Sim, claro! Não estou generalizando, só estou dizendo que a maioria tem maus hábitos.
— Olha, eu não sei se deveríamos continuar com isso. Talvez sejamos muito diferentes no modo de ver a vida.
— Está querendo terminar comigo por causa da sua irmã?
— Não é por causa da minha irmã, é porque eu odeio gente preconceituosa.
Bela sentiu um frio na barriga, no momento. Percebeu que Victor falava sério e se ele a deixasse, ela perderia a chance de se casar com um homem rico.
Imediatamente ela abraçou Victor forte e começou a lhe beijar o rosto.
— Meu amor, não me deixe! Eu te amo muito! Não falei por maldade e eu prometo que nunca mais te direi essas coisas. Eu vou te ajudar, tudo bem? Eu vou te ajudar a tirar a nossa Dani da prisão.
Victor estava muito abalado naquele momento, ao saber que a irmã foi espancada na prisão. Os carinhos de Bela o amoleceu e ele acabou retribuindo os seus beijos.
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Atualizado até capítulo 90
Comments
Jucileide Gonçalves
Me parece que Bela é uma baita de uma interesseira que não o ama de verdade.
2025-03-31
0
Fatima Gonçalves
É UM IDIOTA ELA UMA INTERESSEIRA
2025-03-16
1
Patricia Mariana
frouxo, egoísta e insensível
2024-12-04
0