Uma Nova Chance

Uma Nova Chance

Capítulo 1

As mãos fortes dele estavam sobre o meu pescoço e eu quase não conseguia respirar. Podia sentir o hálito quente dele no meu rosto e as gotas de suor que pingavam da sua testa.

Havia ódio nos seus olhos e eu tive a certeza de que não conseguiria salvar-me:

— Eu dei tudo a você..eu te amo tanto..- ele repetia, tentei empurra-lo para longe com mais força, mas essa mesma força começava a se dissipar lentamente. Olhei para o lado e vi a garrafa de uísque que ele deixara cair. Tente Sarah, você precisa. Gritei na minha mente. Então agarrei a garrafa com dificuldade e o atingi na cabeça com toda a força que ainda restava em mim..."

Abri os olhos sobressaltada. Uma réstia de luz entrava pela janela do ônibus indicando que o dia começava a nascer. Olhei para os lados e percebi que além de mim apenas alguns poucos passageiros ainda seguiam viagem. Respirei fundo, eu estava segura.. Eu iria para um lugar distante, onde Jonah jamais iria me encontrar, eu estava segura.

Essa era a primeira vez em quatro anos que eu conseguia me sentir assim,livre. Minha vida e minha liberdade haviam sido arrancadas de mim quando decidi me casar com Jonah, eu não podia negar, eu era jovem e estava apaixonada mas, meu conto de fadas havia acabado quando algo nele mudou. O homem carinhoso que me enchia de flores e promessas de amor desaparecera, afogado na bebida e tomado por um ciúme doentio. Muitas vezes eu havia tentado fugir, mas lá estava ele novamente. Me forçando a voltar. Mas agora eu estava pronta, agora eu podia sentir que algo dentro de mim havia mudado e eu jamais iria permitir que ele me fizesse mal novamente. Eu havia prometido a mim mesma que Jonah jamais iria me encontrar novamente.

Afastei a cortina da janela e vi a relva dourada que brilhava como ouro no chão. De repente um sentimento tão bom tomou conta de mim que não vi outra alternativa se não chorar. ..Deus,eu estava a salvo!

Puxei o capuz para a cabeça e enfiei as mãos nos bolsos do casaco e desci do ônibus olhando ao redor. A cidadezinha de Esplendor do Sul era perfeita. Rodeada por uma parede de montanhas esverdeadas que mais pareciam uma fortaleza. O centro resumia-se a prefeitura, uma igreja, a farmácia ao lado de uma clinica médica e um armazém. Parecia uma daquelas cidades do velho oeste americano, era aconchegante e me dava um sentimento bom.Resumindo, parecia um bom lugar para recomeçar.

Ajeitei a mochila nas costas e fui andando em direção ao armazém, precisava de um lugar para descansar. 

O lugar era espaçoso e em estilo rustico, parecia muito um saloom,com mesinhas com toalhas xadrez vermelho e uma vitrola antiga tocando uma música calma. Algumas pessoas ali reunidas olharam pra mim assim que entrei. Desviei o olhar e caminhei até o balcão. Uma mulher baixinha, delicada, com uma barriga de grávida veio até mim sorrindo. Um sorriso iluminado e cheio de cortesia:

-Olá querida posso ajudar?- ela indagou.

Olhei para os lados instintivamente então respondi:

-Preciso de um quarto para alugar.

Os olhos muito verdes dela brilharam.

- Está falando sério?

Porque eu não estaria?Pensei comigo. Que mulher estranha.

- Não recebemos muitos hóspedes aqui em Esplendor. Geralmente as pessoas só estão de passagem.- ela se aproximou mais do balcão a mão no rosto como se quisesse confidenciar algo.- Ninguém quer ficar nesse fim de mundo.

Isso era perfeito pra mim. Uma cidade perdida no mapa, onde Jonah jamais poderia me encontrar.

- Nesse caso...-eu disse- Deve ter muitos quartos vagos.

A mulher sorriu e pegou uma chave atrás do balcão.

- Pois é,acho que tu tá com sorte. Como se chama?

- Sarah...- pensei em dar-lhe o sobrenome de solteira, seria mais difícil me encontrar assim.- Sarah Xavier.

-Seja bem vinda a Esplendor Sarah Xavier! Sou Laura Valentine.

Ela estendeu-me a mão, cordialmente.

            ★★★★★★★

Saí do banho alguns minutos depois e olhei pela janela do quarto. Lá fora um retrato vivo da vida pacata e simples dos moradores de Esplendor.

Eu me sentia segura ali. Onde aquelas pessoas não me conheciam. Onde eu não precisava temer. Desde que eu me casara com Jonah minha vida havia se tornado um inferno e aquela era a primeira vez que eu podia respirar aliviada desde então.

Peguei uma das poucas mudas de roupa que havia trazido comigo e me troquei.Laura havia me dito que o almoço era servido ás 12:30 no armazém e eu estava faminta. Ouvi algumas vozes vindas do andar de baixo ao chegar no topo da escada.  Risos e barulho de pratos e copos. Não havia muita gente ali, mas pareciam animados, felizes.

- Aquele infeliz, eu podia ter acabado com ele..

-Não duvidamos de sua força e disposição Tom.- Laura soltou uma gargalhada e deu dois tapinhas no ombro do homem grisalho de olhar contente.

Ao me ver abriu um sorriso:

-Hey, espero que tenha conseguido descansar.- disse ela, fiquei parada a alguns passos da mesa cheia de homens que comiam e bebiam, aparentemente famintos.

-Sim, obrigada.

-Digo isso porque fica difícil descansar ouvindo a zoeira desses rapazes.

- Desculpe se atrapalhamos teu sono moça, não estamos acostumados a ver hóspedes por aqui.- explicou-se o senhor grisalho.

Sorri contidamente:

-Está tudo bem, não me atrapalharam.

-Venha se sentar, vou trazer seu almoço.-disse Laura.

-Você...-a porta do armazém se abriu e um homem moreno e muito bonito entrou,tirando a bandeja das mão de Laura  a envolveu num abraço-Você vai largar essa bandeja e se sentar.

-Kit! 

-Sem brigas, não pode se cansar demais.

-Kit,estou grávida e não doente,posso muito bem servir o almoço de nossa primeira hóspede-Laura riu,tenho que confessar que eu estava ficando um pouco constrangida parada ali.

O homem olhou para mim e sorriu,era ainda mais bonito quando sorria e os dois faziam um belo casal:

-Desculpe moça, sou Kit, marido dessa baixinha teimosa aqui.-Estendeu-me a mão e eu a apertei cordialmente.

-Sou Sarah.

-Sente-se Sarah,vou buscar teu almoço. E você mulher-ele a beijou carinhosamente na testa-Vá se sentar também.

Eles eram uma família feliz, algo que eu não conhecia, afinal minha mãe havia me criado sozinha e eu ao menos sabia quem era meu pai,eu a amava era uma mulher batalhadora, um exemplo. Eu mesma havia me casado com Jonah sonhando construir uma família assim,feliz,completa, mas meus planos não haviam dado muito certo. Mas Laura e Kit eram uma família de verdade e se amavam tanto que mesmo uma desconhecida como eu podia perceber o quão perfeitos eles eram juntos.

-Então você pretende ficar por aqui?- ele me perguntou enquanto almoçávamos.

-Por um tempo.

-Esplendor é uma boa cidade, tem boas pessoas, mas vamos combinar que é um cu de mundo..

-Kit!-Repreendeu-o Laura.

-Oque foi?Só é estranho que alguém queira se mudar pra cá.

-Eu gosto de cidades pequenas.

-E tenho certeza que irá gostar da nossa.- Laura tinha razão, havia algo naquele lugar que já me roubara a atenção.

-Mas então está procurando um emprego?

-Sim, algo que eu possa fazer para me manter ocupada...

-E ganhar uns trocados também..

-Kit!

-Tudo bem- eu sorri-Ele tem razão, também preciso do dinheiro.

- Neto não está precisando de alguém no rancho?

Os dois trocaram olhares de maneira cúmplice.

- O irmão de Kit, Neto, ele está precisando de uma empregada no Rancho a alguns minutos daqui, não pode pagar muito mas oferece casa e comida.

Aquilo parecia perfeito pra mim:

-Pode dar uma passada lá se quiser. 

- Eu posso leva-la moça- ofereceu-se tom,o senhor grisalho- Estou indo pra'quelas bandas.

-Eu agradeço e aceito a carona.

Seria bom demais se eu conseguisse o emprego.

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Comments

Eliane Pereira

Eliane Pereira

começando a ler

2023-10-17

3

Zenaide Sousa

Zenaide Sousa

Começando ler hj , já estou gostando o tema é bem polêmico,espero que ela de a volta por cima, como desejo para todas às mulheres que sofrem com esse tipo de violência nenhuma mulher tem que passar por isso.

2023-05-07

1

Lena Macêdo E Silva

Lena Macêdo E Silva

conheço várias mulheres com casamentos assim, no início o marido é um lorde um príncipe que com o andar da carruagem volta a ser o que era , a máscara cai igual os itens usados por cinderela após o baile tudo perde o encanto, uns em horas, outros em dias, meses e anos... isso quando não são mortas por seus carrascos que aproveitam que elas tenham abaixado a guarda dando espaço para concluírem o que começaram

2023-01-24

0

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