Capítulo 17

-Sua mulher?

Os olhos de Marcela viajaram de um para o outro incrédulos. Não conseguia acreditar que Neto havia se envolvido com uma mulher feito aquela. Na verdade era difícil acreditar que ele havia se envolvido com algúem após a morte de Esther.

-Sim. - ele afirmou com convicção, aproximando-se mais de Sarah.

- Bom, isso é realmente uma surpresa...ou devo dizer, meus parabéns, não sabia que havia se casado novamente.

-Obrigado.

Sarah pigarreou desconcertada. O olhar que a mulher lhe lançava era no minimo constrangedor.

- Acho melhor eu ir, tenho muitas coisas para resolver na cidade, foi um prazer conhecer você...?

-Sarah.

-Ah, sim, Sarah...

****

"Foi um prazer conhecer você" A voz desdenhosa da tal Celinha não me saia da cabeça. Era evidente o pouco caso que fizera e somente um bobo ou inocente de mais não iria notar os sentimentos dela em relação a Neto. Eu me perguntava se esses mesmos sentimentos já deviam existir antes de ele se casar com Esther...

- Marcela é uma amiga de infância.- ele declarou convicto.

- Percebi.- respondi sem olha-lo. A presença daquela mulher havia me encomodado, logo eu que jamais sentira ciúme devia admitir que estava irritada.

- Vou até a cidade ajudar com os preparativos para o chá de Laura.- informei, por mais que tentasse falar normalmente podia sentir a dureza em minha voz.

- Eu te levo.- Neto ofereceu.

- Não precisa, obrigada, eu sei o caminho!

Deus! Eu estava me comportando como uma adolescente furiosa. Porque raios não conseguia me controlar?

Peguei minha bolsa e comecei a andar em direção a porta quando braços fortes me arrebataram do chão fazendo meu coração disparar.

-Oque está fazendo?!- protestei tentando me recuperar do susto, mas já era tarde demais. Neto tomou meus lábios com paixão e meu corpo estremeceu.

- Marcela é apenas uma amiga de infância Sarah Xavier, mas você...Você é minha mulher!

*****

O dia do chá de bebê de Laura chegou. Organizamos tudo com antecedência, os comes e bebes, decoração e brincadeiras. Eu nunca,desde que chegará a cidade, tinha visto uma Laura tão ansiosa.

- Vai dar tudo certo Laura, tente se acalmar!

Eu dissera,mas na verdade também precisava de alguém para me dar o mesmo conselho. Estar no mesmo ambiente que a tal Marcela não era Oque eu tinha imaginado,mas lá estava ela. Esbanjando sorrisos. Aquela que todos conheciam e adoravam, a madrinha favorita de Ana. Eu tinha que confessar,estava me sentindo meio deslocada.

"Você se lembra daquela vez..."

A maioria das frases dela se iniciavam assim, sempre uma lembrança para recordar,algo que me fazia ver o quão diferente daquelas pessoas eu era. Minha vida nunca tinha sido pacata, eu batalhara desde a infância, não tinha sábados infindáveis a sombra de árvores ou pescando e a vida adulta tão pouco poderia ser chamada de produtiva.

- De onde você veio mesmo,Sarah? -os olhares na sala se dirigiram para mim, engoli o refresco como se estivesse queimando na garganta.

-São Paulo.

-Oque fazia lá,antes de vir parar em nossa pequena cidade, estou curiosa por saber porquê alguém trocaria uma cidade como São Paulo pela nada conhecida Esplendor.

O sorriso no final de cada frase era extremamente irritante. Pigarreei.

-Na verdade, eu não vim a Esplendor para ficar. Estava a caminho do Uruguai.

- Mmm... Uma aventureira! ?

- Não necessariamente.

- Então está fugindo de algo? - engasguei.

O silêncio que se instalou na sala pareceu durar uma eternidade,apertei o copo entre os dedos. Eu não sabia aonde aquela mulher queria chegar,mas se sua vontade era me irritar estava conseguindo.

Fiz menção de responder quando Ana adentrou a sala correndo.

-Sarah! Você tem que vir comigo,eu fiz um novo amigo...Ele quer te conhecer.

Aproveitei a deixa.

-Acho melhor continuarem com o chá,eu volto logo. - deixei a sala rapidamente,precisava respirar.

Uma Ana agitada saltitava a minha frente.

-Ele está bem ali...-ela apontou para o espaço vazio no jardim. - Acho que ele foi embora!

-Tudo bem,querida,eu posso conhecer o seu amigo outro dia.

-Mas eu queria que você conhecesse ele hoje, ele também veio do São Paulo.

-Ah é? E como se chama seu amigo?

-Ele disse que posso chamar ele de "amigo".

-Esta bem, então eu falo com o "amigo"outro dia. Vamos voltar pra dentro.

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