Capítulo 16

Há muito que os pesadelos não me atormentavam mas naquela noite,como um mal presságio,não consegui dormir. Levantei-me e fui até a cozinha. A casa estava silenciosa, e a noite fria. Já haviam se passado três semanas desde que receberá alguma notícia de São Paulo. Minha última carta ainda não havia sido respondida e isso me inquietava. Talvez fosse apenas o atraso nos correios e eu nao devesse me preocupar,mas havia algo diferente dentro de mim. Um sentimento que não me permitia descansar.

- Tá tudo bem Sarah?

A voz de Neto me fez despertar de meus devaneios. Sorri,com alguma dificuldade.

- Está sim- menti- Está tudo bem.

Aninhei-me em seu peito e senti sua pele quente contra meu rosto. O coração dele batia calmamente ao contrário do meu que estava inquieto.

Eu não queria preocupa-lo com meus pressentimentos, certamente não era nada sério e eu estava ficando paranóica.

- Tá frio...- sorri, ele me apertou mais contra seu peito, seus braços fortes me faziam sentir segura.

-Vamos voltar pra cama.

Me ergueu em seus braços e eu ri com sua atitude repentina.

-Oque foi?

- Quem diria...Neto Montanher um homem tão rude consegue ser tão doce ao mesmo tempo..- ironizei.

- Tá zombando de mim?

- Estou apenas constatando.

***

Jude chegou cedo naquela manhã para buscar Ana. Notei que seu sorriso não era o mesmo parecia abatida.

-Aconteceu alguma coisa?- indaguei sem rodeios.

-Oh, não... É apenas um mal estar...

-Voce tá doente profe?- quis saber Ana preocupada.- Desde que o Beto não foi mais na escola você ficou assim...Ele também tá doente?

-Ana! Ralhei quase rindo da curiosidade e inocência da menina.

Pelo visto Beto resolvera seguir meu conselho. Esperava que desse tudo certo enfim.

- Desculpe Jude, Ana não queria ser indelicada.

-Tudo bem.

-Mas ela tem razão,não tenho visto Beto com muita frequência quando vou a cidade.- joguei verde.

-Pois é,parece que ele anda ocupado demais com sua nova namorada...

-Nova namorada?

Segundo Jude, Beto havia chamado Anita, a moça que trabalhava na floricultura para sair. Eu a conhecia de vista,era bonita, um tanto irritante com um risinho fácil e um short tão curto quanto um fio dental. Devia ter uns 19 anos.

-Nao sabia que os dois tinham uma ligação romântica. - pensei em voz alta.

-Nem eu...Mas deixe pra lá... Você tem visto a Laura? Está quase na hora do bebê nascer precisamos organizar o chá.

-Cha?

- Chá de fraldas,não fazem isso em São Paulo?

-Claro,achei que não faziam por aqui-eu ri.

Era verdade,Laura estava quase dando a luz, um menino,se chamaria Afonso. Dá última vez que eu a vira a uns três dias parecia exausta e dissera não ver a hora do bebê nascer.

-Bom,podemos planejar durante a semana eu adoraria ajudar.

-Nos vemos depois então,Ana e eu vamos indo pois temos muitos colegas pra buscar.

-Tenham um bom dia! E você Ana, comporte-se.

Depois que Ana e Jude se foram comecei a dar início aos afazeres do dia. Queria deixar a casa limpa e arejada afinal nunca se sabia quando iria chover novamente. Estava na cozinha entretida com a louça quando alguém bateu na porta.Sequei as mãos no avental amarelo e fui ver quem era. Neto tinha chegado mais cedo da madeireira e fora dar uma olhada nos cavalos no campo. Provavelmente devia ser o carteiro ou....Abri a porta e dei de cara com uma mulher desconhecida, tinha cabelos louros,era alta e bonita. Olhou para mim e abriu um sorriso amarelado senti seus olhos me avaliando.

-Posso ajudar? Perguntei.

-Estou procurando por Neto Montanher ele ainda mora aqui?

Ela lançou um olhar por sobre meu ombro curiosa.

-Sim, ele...

Antes que eu pudesse terminar a frase Neto surgiu de trás da casa,a camisa no ombro,o peito nu reluzindo a suor. O sorriso da mulher se alargou e seus olhos brilharam antes dela descer as escadas da varanda e ir até ele apressada:

-Neto!- meus olhos se arregalaram instantâneamente ao vê-la jogar-se nos braços dele enlaçando-o pelo pescoço.

Afinal de contas quem era aquela mulher?

-Marcela? -ele disse sem jeito.

-Marcela? Quer dizer que é assim que sou tratada depois de tanto tempo longe?-a mulher cruzou os braços diante do decote avantajado.- ainda pode me chamar de Celinha.

Celinha??? 🤔

- Eu não sabia que estava na cidade.- dei um passo a frente tentando ouvir melhor a conversa.

-Ah,foi uma surpresa até pra mim voltar a Esplendor. Mas estou abrindo um consultório na cidade,cansei da capital vou ficar por aqui de agora em diante.

Neto a encarava meio sem jeito é a mulher não parava de sorrir um instante.

-Entao,não vai me convidar para entrar Neto? Achei que ainda éramos velhos amigos- disse ela com falsa decepção.

-Ah,claro.

-Otimo! Temos muito para conversar, e eu estou morrendo de saudade da minha afilhada favorita!

A tal Celinha agarrou Neto pelo braço e conduziu-o na direção da casa,ao passar por mim me lançou um olhar superior com aquele maldito sorriso.

- Se você puder me trazer um copo de água querida,estou morrendo de sede.

Olhei para Neto e engoli em seco. A mulher nem se dera o trabalho de me cumprimentar ou ao menos perguntar quem eu era, logo de cara havia constatado que eu não passava de uma empregada.

-Ah se puder adicionar duas rodelas de limão ficaria perfeito.

Cerrei os punhos enchendo o peito de ar.

***

Neto

Eu havia me esquecido do quanto Marcela gostava de falar. Havíamos crescido juntos naquela cidade e ela sempre demonstrará o desejo de ir embora. Tanto que ao completar maioridade deixará Esplendor e fora estudar veterinária na capital. Ainda a víamos durante os verões, era uma das amigas de Esther e madrinha de Ana. Eu nunca pensará que a veria retornar a cidade para ficar.

-Meu marido era um idiota, estamos divorciados a oito meses e eu creio que tenha sido a melhor decisão que já tomei... Você me conhece Neto,sabe que não sou de perder meu tempo com quem não vale a pena.

Ela estendeu sua mão e pousou sobre a minha.

-Sinto que está na hora de recomeçar e não haveria lugar melhor do que esse onde estão todas as pessoas que me são importantes...

-Sua água.- anunciou Sarah ao entrar na sala com semblante irritado.

-Obrigada querida.

-Essa é a Sarah- eu disse me levantando-Minha mulher.

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