Tom me deixou na estradinha de terra e disse que eu devia andar mais uns 5 minutos a frente e então encontraria o Rancho do tal Neto. Eu parecia estar andando a quase meia hora quando enfim avistei no centro do vale a casinha de madeira com uma varanda na frente.
Atravessei a porteira e fui em direção a entrada. De longe vi a menina que brincava entretida com uma boneca de pano, era loira e miúda,devia ter pouco mais de cinco anos. Olhou para mim com seus grandes olhos azuis. Seu rosto redondo estava sujo de terra, na qual ela brincava.
-Oi.- disse.
-Oi.
-Quem é você?- sua voz infantil era doce e falava muito bem para aquela idade.
-Sou Sarah, estou procurando por...Bom ele deve ser seu pai.
-Neto?
Assenti.
-Ele tá lá atras... Com o Perdigueiro e a Lua.
-Tá bom, obrigada.
A menina voltou a brincar com a boneca, dei de ombros, era estranho deixar uma criança assim,tão sozinha. Dei a volta na casa, haviam algumas galinhas por ali, eu tinha pavor de galinhas,podia lidar com ratos,aranhas e até cobras,mas galinhas, não obrigada.
Havia um cercado de madeira nos fundos da casa em formato de circulo e no centro um homem alto e forte de camisa xadrez e jeans surrado. Estava tão entretido, com um belo cavalo de pêlo avermelhado, que não percebeu minha presença.
-Hey menina...calma.-Dizia ele ao animal. A égua relutava em se aproximar dele,certamente estava assustada. Fiquei paralisada observando a cena e quase gritei quando o cachorro preto,um pastor alemão, latiu em minha direção. A égua que até então parecia calma relinchou afastando-se do homem assustada.
Pela primeira vez desde que cheguei ali o homem olhou para mim. Parecia irritado. Seus olhos acinzentados me fuzilando de cima.
-Me desculpe- eu disse assim que ele se aproximou,saindo do cercado.- Eu não queria atrapalhar..
-Mas atrapalhou.
O cachorro preto continuava a latir, mas parecia preguiçoso demais para me atacar.
-Quieto Perdigueiro!- ordenou o homem com sua voz grave e o cão obedeceu.Estremeci.
- Realmente sinto muito senhor, não queria assusta-lo..Ou a seu cavalo..
- E quem diabos é você, mulher?
Ótimo, eu havia conseguido irritar o homem antes mesmo de falar-lhe sobre meu interesse na vaga de trabalho. Isso não era um bom sinal.
-Eu...- ia começar a falar quando a menininha loira surgiu correndo e agarrou-se a perna do pai.
-Essa é a Sarah.- disse ela.
O homem olhou para mim novamente:
-Sim..Me chamo Sarah...E estou aqui pela vaga de emprego.
-Vaga de emprego?
-Sim, Laura me disse que o senhor está precisando de uma ajudante para cuidar dos afazeres da casa.
Ele me lançou um olhar dos pés a cabeça, senti meu rosto esquentar. Tudo bem que eu não parecia mesmo alguém que sabia lidar com as coisas da casa, mas tinha que mostrar a ele que estava enganado.
-Sem chance.-cuspiu, com total seriedade e começou a andar em direção a casa,com a menina e eu em seu encalço.
-Senhor,tenho certeza que se me contratar não vou desaponta-lo, sei limpar, cozinhar e modéstia parte, sou uma boa cozinheira..
-Já disse que não.- ele insistia. Que homem mais teimoso!
-Senhor..- eu precisava fazer com que parasse, que me ouvisse, então agarrei-o pelo braço e ele se voltou de pronto, meu coração deu um salto quando seus olhos encontraram os meus. Eu não podia negar, o homem era muito bonito, tinha um rosto de traços bem marcados e os cabelos louros pareciam fios de ouro iluminados pelo sol.
Ele olhou para minha mão,agarrada em seu braço. Soltei-o de imediato.
- Senhor...me desculpe,mas realmente preciso do emprego, eu realmente preciso..
Seus olhos acinzentados apertaram-se,devia estar se preguntando qual o motivo para alguém como eu estar tão desesperada assim por um emprego em um lugar como aquele. Ele respirou fundo enfiando as mãos nos bolsos do jeans:
-Tudo bem.- disse, arregalei os olhos.
-Oh,Muito obrigada!-exclamei sem conseguir me conter.- Eu prometo que não vai se arrepender..
- Assim espero- ele murmurou entredentes- Ana, mostre a casa a ela e diga o que tem que fazer, preciso voltar ao trabalho.
- Tudo bem ,Neto. Posso fazer isso.- disse a menina agarrando minha mão.
-Ana vai lhe explicar tudo- ele disse- Sobre o dinheiro,falamos mais tarde.
-Ok, obrigada novamente.
A casa era pequena. Tinha três quartos, um no andar de baixo que segundo Ana,eu poderia usar e dois no andar de cima. Na sala havia uma enorme lareira de pedras e os moveis rústicos lhe empregavam um charme particular. A bagunça era algo que saltava aos olhos, pois haviam roupas jogadas por todos os cantos e pratos sujos na pia. Segundo Ana, ela e o pai não davam conta sozinhos, afinal ele trabalhava o dia todo na madeireira e também cuidando das coisas do rancho.E ela, bom, era apenas uma menininha.
-Oque aconteceu com a antiga empregada?
-Antônia? Ela, se casou.
-Entendo.
Eu estava feliz.As coisas pareciam estar começando a se encaminhar. Com o emprego eu teria dinheiro suficiente para seguir minha viagem. Eu havia pensado muito nisso. Queria atravessar a fronteira, ir pra o Uruguai, onde minha avó nascera. Talvez lá as coisas fossem melhores para mim.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Lena Macêdo E Silva
a situação descrita lembra um filme que assisti, só que no initda fulga o cara a soube que ela estava em um ônibus só não conseguiu encontrá-la...foi a encontrar uns anos depois que ela era casada com o outro que a salvou...
2023-01-24
2
Rozana Silva
acho que ela vai ser feliz ali
2022-11-24
3