Capítulo 11

Neto

Abri os olhos e logo percebi que ela não estava ao meu lado. Eu havia sentido seu corpo quente em meus braços a noite toda, sua respiração leve, as batidas ritmadas de seu coração.. e agora ao acordar, só havia o vazio dos lençóis. 

Ela não estava na casa, deixara um bilhete dizendo que não podia fazer aquilo, seja oque diabos estávamos fazendo, mas precisava ir, havia algo sobre ela que eu não devia saber, e que iria persegui-la aonde quer que estivesse e ela precisava fugir.  suas roupas haviam sumido e tudo indicava que eu não a veria mais, oque me trouxe um sentimento de extrema solidão.Eu sempre fora um homem brusco, raramente sabia como tratar com as pessoas, e me sentir daquela forma me fez sentir fraco. Oque diabos aquela mulher fizera comigo? Eu não sabia, a unica coisa de que tinha certeza era de que precisava dela comigo.

Sarah

Eu não podia ficar, envolver neto e sua família em minha vida não era o certo, não quando as coisas estavam se encaminhando para um rumo que eu não esperava. Neto era um bom homem, gentil e honrado, o sonho de qualquer mulher, mas em minha vida não havia lugar para isso, não depois do pesadelo em que eu estava vivendo. Os anos passados ao lado de Jonah haviam sido suficientes para me traumatizar e eu temia jamais me recuperar.

Desci do táxi em frente a estação rodoviária. Ainda era muito cedo, um bom horário para que ninguém me visse partir, não queria ter de dar explicações, naquele momento a unica coisa que me entristecia era não ter me despedido de Ana. 

Meu ônibus sairia as 7:45 de esplendor com destino a Santana Do livramento, cidade que fazia fronteira com o Uruguai e de onde eu iniciaria minha jornada, eu ja havia conseguido dinheiro suficiente para sobreviver uns dois meses, oque me dava tempo para arrumar um emprego novo, pelo menos era oque eu esperava.

Quando o ônibus chegou, olhei ao redor e respirei fundo. Estava na hora de ir...

-Onde pensa que vai?

a voz masculina soou como trovão em meus ouvidos, uma mão forte agarrou meu braço e me foçando a encara-lo, não sei como mas ver Neto ali na minha frente me encheu de alivio. seus olhos muito azuis me encaravam sérios.

-Eu..- tentei dizer.

-Você é minha, mulher, e não vai a lugar algum!

As palavras dele me fizeram perder o ar e quando seus lábios quentes desceram sobre os meus em um beijo sofrego meu coração parou:

-Nunca mais fuja de mim- ordenou em um sussurro- Não me importo com seu passado, só quero que fique e seja minha..

*******

Ana

Querida mamãe..

Acho que o pai vai se casar, acho que ele gosta da Sarah. e ela pode até fingir, mas sei que gosta dele também..eu vi o jeito que se olharam no outro dia quando Sarah quis ir embora, ainda não sei porque ela quis ir, mas se ele a trouxe de volta é porque realmente gosta dela. 

Obrigada mamãe, sei que foi você que mandou a Sarah pra nossa casa, e sei que vai continuar cuidando de nós ai do céu...Amo você!

-Ana! 

A professora Judith me olhou sorrindo, acho que pensou que eu tava dormindo, mas eu não tava, gosto de falar com minha mãe as vezes, contar as coisas pra ela, mesmo que eu saiba que ela vê tudo lá do céu. 

Lá vem o beto com uma sexta de jabuticaba pra professora.Observei. Sempre na hora do recreio ele vem lá da venda com uma sexta de alguma coisa, acho que ele quer namorar com a profe, ficam conversando um pouco, mas ela só agradece e fica vermelha igual pimentão e ele sorrindo como idiota. Eu gosto do Beto, se fosse grande ia querer namorar ele só pra ganhar jabuticaba.

Um tempo mais tarde, meu pai vem me buscar, ele diz que temos de ir comprar umas coisas. vamos até a venda. fico olhando a coleção de moedas velhas do dono da venda. São bonitas, e daria pra comprar um montão de coisa. Ele e o pai ficam falando da chuva e que ta quase na época da colheita da soja, eu gosto dessa época, tem a festa da soja, eu gosto da festa da soja.

Quando chegamos em casa Sarah ta fazendo o almoço, o cheiro é tão bom que meu estomago ronca. Ela gosta de cantar quando faz comida, as vezes até dança, é até engraçado. Meu pai gosta de olhar, ele fica sorrindo feito bobo, de um jeito que nunca vi ele sorrir antes. 

-Ah vocês estão ai!- ela diz ao nos ver, fica meio vermelha de vergonha porque a vimos dançar- Vão já lavar essas mãos, p almoço esta pronto!

Eu gosto de ter a Sarah em casa...obrigada mamãe!

Sarah

"Eu não me importo com seu passado" Ele dissera, decidi que estava mais do que na hora de enterrar esse maldito passado e seguir adiante. 

A noite caíra sobre o rancho e as estrelas brilhantes pareciam uma cortina de luzes acima de nossas cabeças. Senti os braços dele encercarem minha cintura por trás, tentei me mover mas ele não permitiu. Relaxei me deixando envolver por seu abraço.

-Meu marido...-falei cheia de coragem- É dele que tenho fugido...

Senti os musculos dele enrigecerem sob minha confissão.

- Tenho vivido presa a ele nos ultimos dez anos, presa a uma vida vergonhosa, onde o principe dos contos de fada se transformou em um monstro abusivo e louco...eu...- engasguei, um bolo de angustia formando-se em minha garganta. 

-Eu não...oh meu Deus... eu não suportava mais... eu não...

Neto puxou-me mais para junto de si e nada disse, apenas permitiu que eu chorasse junto ao seu peito. E eu chorei, mais do que pensei que podia. Agora sim eu me sentia livre, livre para fazer minhas escolhas, livre para chorar...

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