Capítulo 7

Sarah

Os primeiros raios de sol surgiram por detrás das nuvens, já não chovia mais. Abri os olhos e logo a imagem dos olhos azuis acinzentados dele apareceu em minha mente. Meu coração disparou. Eu estava sonhando? Se Kit não tivesse aparecido, Neto e eu... Não! De jeito nenhum! Eu precisava esquecer aquilo. Tinha um proposito a seguir e não podia me desviar de minhas ambições. Não depois de tudo oque havia passado até aquele momento. Não havia mais lugar para esse tipo de relacionamento em minha vida, não mais..

Sai da cama decidida a esquecer tudo aquilo, tinha um dia de trabalho árduo pela frente e estava feliz em poder ajudar Francis e sua família , não iria permitir que aquelas bobagens me afetassem a mente. Graças a Deus Neto havia saído mais cedo junto de seu irmão, eu não sabia como seria estar na presença dele depois do ocorrido então preferia nem arriscar. Encontrei Laura na varanda com seu sorriso meigo e acolhedor;

- Bom dia!

-Bom dia Laura.

-Soube que você deu duro ontem, que fez um ótimo trabalho.

Sentei-me ao seu lado:

- Foi bom poder ajudar. 

- É bom ter você aqui Sarah, esse lugar parecia abandonado, sem vida desde a morte de Esther.

-Como ela morreu?-pigarreei- Eles não falam muito sobre isso...Sobre como ela era, oque fazia..

-Esther era uma ótima pessoa, ela nasceu e cresceu aqui como todos nós, ela e Neto namoravam desde pequenos, todos sabíamos que um dia iriam se casar. E casaram. Quando o câncer foi diagnosticado, tudo aqui pareceu parar, todos a amavam e sentiram muito quando ela morreu...

-Sinto muito...

Eu mal conseguia imaginar o quão triste aquela situação deveria ter sido para aquela família. Ana era tão pequena para viver sem a mãe, e Neto...Bom, ele parecia ama-la muito.

Ficamos ali conversando por um bom tempo, até que resolvemos ir até o rancho de Francis ver como ia o trabalho. O sol brilhava radiante por detrás das nuvens como se os dias chuvosos nunca tivessem existido. Chegamos por volta das nove da manhã, já havia uma boa parte das pessoas ali, ajudando incansavelmente na reconstrução do celeiro. Logo que me viu o jovem Fred sorriu e acenou de cima de uma escada:

-Bom dia moças!- saudou-nos Francis com seu sorriso bondoso.

-Bom dia Frank, como estão indo as coisas?

- Graças a Deus, melhor agora Laurinha, é sempre bom ter amigos com quem contar, estão fazendo um grande favor a esse velho aqui- disse ele agradecido. 

-Sabe que sempre podem contar conosco Frank, somos uma família..

-Papai!!- interrompeu Ana, soltando minha mão e correndo em direção contraria. Acompanhei-a com o olhar e logo encontrei Neto em meio aos trabalhadores. Usava uma camisa xadrez azul e Deus, era impressão minha ou o homem estava ainda mais bonito naquele dia? Quando nos viu, fez um breve aceno de cabeça e  afastou-se com a filha em seu encalço. 

-...Vamos Sarah?- perguntou-me Laura

-...Desculpe..oque? -ela sorriu como se soubesse de algo e eu me senti desconcertada.

-Vamos para a cozinha, ajudar com os preparativos do almoço?

-Ah. claro!

                                                      **************

Neto

Lá estava ela com aquele sorriso radiante para todos os lados. Volta e meia saia da casa com uma bandeja de suco ou algo assim e vinha distribuindo para os trabalhadores. As vezes se detinha alguns minutos conversando alegremente, como fizera com Beto Salles , um dos trabalhadores da madeireira, um jovem forte que adorava exibir seus músculos como um premio.

-Fui campeão duas vezes na queda de braço...- dizia ele, eu nem conseguia imaginar em como tinham ido parar naquele assunto. Ela sorria e mexia no cabelo as vezes, como se estivesse envaidecida pela presença dele.

- Se é tão forte assim porque não demonstra trabalhando?- falei de repente, os olhares se voltaram para mim. Desci da escada irritado e peguei mais uma tabua na pilha. - Temos muito pra fazer ainda...-emendei. 

Sarah me olhava como se não acreditasse em minha reação e nem mesmo eu conseguia acreditar que havia dito aquelas coisas. 

-Ate mais tarde moça, obrigado pela limonada. - ouvi o garoto dizer afastando-se.

-Porque fez aquilo com o garoto?- a mulher veio ao meu encalço e parecia irritada, claro, certamente porque eu havia acabado com seu momento a dois.

-Estamos aqui pra trabalhar dona, se vocês estão afim de jogar conversa fora vieram ao lugar errado.- respondi afastado-me.

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Sarah

"Estamos aqui pra trabalhar dona.."

-Homem insuportável!- exclamei irritada largando a bandeja sobre a mesa da cozinha, um copo de suco virando sobre minha roupa. 

-Algum problema Sarah?-indagou a professora Jude se aproximando.

-Não, nenhum.. Só estava pensando alto...e droga..

Ela sorriu. Deus!porque todos naquela cidade pareciam ter sempre a mesma expressão de que desconfiavam de algo?

-Tudo bem, é só limonada, não vai ficar mancha, venha comigo...

-Huh?

-Venha comigo,vou arrumar algo pra você vestir ou vai ficar encharcada.

Tentei recusar, mas não resolveu muito, então a acompanhei até o segundo andar.  

                                               ************************

Era quase uma da tarde quando enfim o trabalho foi dado como encerrado. Lá estava o celeiro mais uma vez de pé e os vários trabalhadores cansados e cheios de apetite reuniam-se ao redor da grande mesa de madeira no quintal para saborear a variedade de comida que as mulheres haviam preparado. O cheiro da carne assada era de dar água na boca, era um verdadeiro banquete. Troquei de roupa no quarto e desci para me juntar aos demais, me sentia constrangida pois aquela era a primeira vez que eu usava um vestido em anos, tinha até esquecido de como era confortável. Senti os olhares que se voltavam para me encarar e meu rosto aqueceu. 

-Olha papai como a Sarah ta bonita!-exclamou Ana. 

Neto estava recostado no grande salgueiro que sombreava a mesa me olhou de cima a baixo e senti meu coração disparar. 

-Pegue um prato e sirva-se Sarah, a bóia ta uma delicia!- exclamou Kit com a boca cheia. Sorri, na verdade a unica coisa que eu queria agora era fugir do olhar insistente daquele homem irritante e grosseiro que era Neto Valentini.

                                                                   **************

Neto

   "Olha papai como a Sarah ta bonita!

Olhei para ela dos pés a cabeça,e engoli em seco. Sarah usava um vestido de algodão amarelo.Era simples, masdeixava à mostra tudo o que as largas camisetas e o jeans insistiam emesconder: uma cintura fina, seios firmes e pequenos. As longas pernassustentavam aquele corpo de pele achocolatada  e aparentemente macia.Seus cabelos sedosos e vibrantes desaguavam como uma cascata em suas costas e eu tinha que confessar...Sim ela estava bonita...

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