Capítulo 17

— Ela é minha mulher. — A mão de Josh em meu antebraço deslizou até chegar em minha mão onde segurou rapidamente, impedindo que eu puxasse antes. — E quem é você para se intrometer dessa forma?

— Não acho que isso seja verdade. — Sabrina enquanto falava abriu a bolsa e de lá retirou a carteira.  — No momento sou a pessoa que veio jantar com a Louise, mas caso necessário serei também a advogada dela com o maior prazer. — Ela entregou um de seus cartões de visita a ele que sorriu de maneira cínica.

— Josh me larga, já falei tudo o que tinha para falar naquela noite, não complique as coisas. — Usei meu tom mais calmo possível enquanto puxava minha mão e dava um passo atrás.

— Louise, nós precisamos conversar...

— Não banque o babaca insistente. — Sabrina segurou minha mão repentinamente e levou-me em direção a entrada. — Não olhe para trás. É de atenção que esse tipinho gosta.

Eu estava tão envergonhada que desejava entrar em meu carro e ir embora o mais rápido possível, mas seria apenas mais uma cena ridícula então apenas segui com ela entrando no restaurante, um ambiente que à primeira vista parecia bem sofisticado, mas sem deixar de ser aconchegante. Sabrina confirmou a reserva e enquanto éramos levadas até uma mesa percebi que ainda segurava minha mão. Pensei em puxar delicadamente, mas ela foi mais rápida e soltou dando um breve sorriso.

Nos acomodamos e fizemos nossos pedidos, pois segundo ela estava faminta, então foi a primeira coisa que fez ao sentar-se. Logo em seguida sua atenção foi toda direcionada a mim que internamente pedia que não perguntasse sobre minha relação com Josh, a última coisa que eu queria era falar sobre ele.

— Tive um dia cansativo, tudo o que preciso agora é comer e me aconchegar nos confortáveis edredons de sua casa. — Ela sorriu desviando o olhar para o garçom que depositava nossas taças com água e logo em seguida outro nos servia o vinho. — Obrigada — agradeceu pegando a taça e tomou um gole de água enquanto eu ia direto para o vinho. — Como foi seu dia?

— Um pouco estressante. — Sorri fraco depositando a taça de volta à mesa. Desejava perguntar o quê realmente queria falar comigo, mas não iria bancar a apressada já que ela estava tão ansiosa por comida e descanso. Provavelmente seria uma conversa breve.

— Quando nos conhecemos eu estava um pouco alterada pela bebida, mas lembro-me muito bem de ter pedido seu número. — Sorriu. Sabrina tem um jeito de olhar nos olhos enquanto fala que torna muito difícil de acompanhar tanto a fala quanto o olhar.  — Hoje estou hospedada em sua casa. O destino não é mesmo louco? — Sorri confirmando. — Pessoas entram e saem de nossas vidas de maneiras surpreendentes.

Ela falou um pouco mais sobre aquela noite no bar e quando nossos pedidos chegaram ambas pudemos saborear os pratos daquele lugar que eu conhecia apenas por nome, nunca havia de fato frequentado e mesmo não estando com muita fome, consegui apreciar o sabor da comida.

— Prove isso. — Sabrina cortou um pedaço da bisteca e colocou em meu prato antes que eu pudesse recusar.  — É divina. Sempre que venho para Weston passo por aqui.

— Obrigada. — Cortei um pedaço menor ainda e levei a boca, seus olhos estavam atentos em mim e sorri confirmando, então ela fez o mesmo. — De onde você é?

— Moro em Los Angeles. — Não pude evitar pensar em Amanda quando ouvi aquela frase. — Minha família vive no Texas. Conhece? Tem comidas deliciosas. Na última vez que estive lá fomos ao Big Texas e meu pai participou do desafio de comer um enorme filé de 2 quilos em 1 hora. — Ela deu uma risada tão espontânea que eu acabei fazendo o mesmo. — Caso ele conseguisse não precisaria pagar os US$72 cobrados pelo prato, mas o final não foi tão feliz.

— Você tem cara de quem conseguiria. — Sabrina arqueou as sobrancelhas enquanto pegava a taça com água e me senti um tanto tímida.

— Sim, com certeza eu conseguiria. — Ela sorriu e voltamos ao nosso jantar.

Quando terminamos fiquei na expectativa de que começasse a falar o que realmente queria, mas quando trouxeram a conta cheguei a conclusão de que iríamos embora e não saberia do quê se tratava. Estava começando a achar que ela não queria dizer nada em especial, mas quando ficamos de pé Sabrina apontou o outro ambiente para onde seguimos e lá havia um bar com música ao vivo. Sentamos em um dos bancos e eu fiquei ainda mais confusa já que no início da noite parecia apressada para descansar. Observei ela pedir uma água com gás, em seguida voltou-se para mim.

— Não chamei você aqui para falar sobre comida, você sabe bem — iniciou. — Conheci sua mãe no sábado, por incrível que pareça foi aqui nesse restaurante, especificamente no banheiro. Acho que estamos destinadas a nos conhecer em banheiros, não é mesmo? — Sabrina sorriu, mas logo voltou a ficar séria. — Ela estava devastada, prestes a cometer uma bobagem e...

— Perdão. O que você quer dizer com prestes a cometer uma bobagem?

— Com ela estar jogando uma absurda quantidade de comprimidos na boca. Laura havia acabado de descobrir que seu pai tem outra família...

— Deus... — Palavras fugiram de minha boca.

Eu sabia que as vezes mamãe ficava triste e chateada, mas nunca imaginei que chegasse ao ponto de desejar morrer por causa de meu pai. Não imaginava que ele seria capaz de fazer algo que a machucasse ainda mais. Eu realmente esperava que o divórcio um dia chegasse para eles, afinal depois de tantos anos acompanhando a situação dos dois era visível que não havia mais como seguir daquela forma, não havia como manter um relacionamento sem confiança, mas daí a ele ter outra família chegava a ser inacreditável.

— Não estava em meus planos me envolver nos problemas de sua família, mas não conseguiria dormir naquela noite sabendo que ela foi para casa com seu pai e sabe-se lá o quê aconteceria. Eu a levei para o hotel e conversamos o suficiente para que eu tentasse convencê-la sobre o divórcio. Olha, sinceramente não sei da metade do que sua família está passando, mas acredito que ela precisa recomeçar, precisa de apoio e incentivo. Me desculpe dizer, mas nem é preciso saber muito para perceber que seu pai é o tipo de homem que considero um câncer ambulante na vida de uma mulher. E se eu fosse você daria um basta naquele sujeito de hoje cedo, enquanto está apenas apertando seu braço. Se não o quer mais em sua vida corte o mal pela raiz.

Ouvir tudo aquilo me fazia notar o quanto fui negligente em relação a minha mãe e até mesmo com minha própria vida. Sabrina e Amanda pareciam ter caído de paraquedas ao mesmo tempo para me fazer abrir olhos. Por quê? Eu não fazia a menor idéia. Não entendia como pude ser tão cega ao longo dos anos e como simples conversas faziam toda a diferença.

Pensei em todas as pessoa mais próximas a mim, no que elas também poderia estar passando enquanto eu com aquela venda que parecia me manter longe da realidade não pude ver, compreender o real sentido de cada palavra, de cada sinal.

Talvez se tivesse conversado com minha mãe, se tivéssemos juntas enxergado e exposto o tipo de relacionamento em que estávamos e o que realmente queríamos para nós, talvez não tivéssemos chegado naquele ponto.

— Ei, não se preocupe muito, as coisas sempre se ajeitam. — Sabrina tocou minha mão sobre o balcão, mas foi o vibrar de meu celular na bolsa que me assustou.

Peguei o aparelho e meu coração bobo pulou no peito ao ver que era uma mensagem de Amanda. Meus olhos não deixaram de ir para Sabrina e voltar para o visor enquanto o desbloqueava.

"Quero te ver. Estou no estúdio, pode vir aqui?"

— Seus planos mudaram? — Sabrina chamou minha atenção. — Não se preocupe comigo, posso pegar um Uber.

— Será que além de tudo você também ler mentes? — Conclui que chegava a ser irritante o fato dela ser tão perfeita. Vi seus lábios se curvando em um sorriso e revirei os olhos pegando a taça de sua mão, então tomei o resto da água. — Obrigada. Não... Encontro as palavras certas para usar agora, mas espero poder recompensa-la um dia.

— Pare com isso, Louise. — Ela pegou a taça de volta. — Sem essa de recompensa. Somos mulheres, devemos nos ajudar. Agora vai, já te prendi demais aqui.

— Obrigada — falei novamente, ganhando seu olhar de reprovação.

— Nos vemos em casa. — Sabrina piscou e sem graça saí.

Aquele dia parecia mais longo que qualquer outro. Foram tantos acontecimentos que a sensação era de que tudo o que fiz durante a parte da manhã havia sido o dia anterior.

No caminho liguei para casa, não conseguiria ficar em paz comigo mesma sem saber como estava minha mãe e quem atendeu o telefone foi minha prima que informou sobre estarem jogando cartas. Segui um pouco mais tranquila e evitando pensar em outros problemas, tentando focar no fato de que veria Amanda em poucos minutos.

Quando ela abriu a porta com seu sorriso lindo foi como se minhas energias tivessem sido reabastecidas.

— Eu te conheço a tão pouco tempo — murmurei enquanto abraçava seu corpo pequeno. — Por que parece que você é capaz de me dar as forças que preciso? — Senti Amanda me apertando um pouco mais forte.

— Fico feliz em ser capaz de te transmitir tal sensação, mas saiba que suas forças estão em você mesma, independente de ter ou não a mim. — Afastei-me e segurei o rosto dela que me fitou com aquele par de olhos verdes.

— Eu quero você aqui, minha fonte de energia positiva, juntinho a mim. E não me venha com frases motivacionais onde incluem esse papo de não tê-la.  — Ela sorriu e não resisti a vontade e necessidade que tinha de beijá-la.

Quando nossas bocas desgrudaram Amanda me puxou para o interior do local e seguimos até o sofá onde sentei e ela veio para cima de mim, ficando com uma perna de cada lado me surpreendendo ao segurar meu rosto e depositar um beijo em meus lábios. Seus dedos se embrenharam em meus cabelos e logo sua língua quente buscava pela minha de forma urgente. Apertei seu corpo junto ao meu sentindo uma necessidade assustadora de tê-la cada vez mais alí em meus braços. E quando eu já queria tirar toda a roupa da loira que quase me causou um orgasmo apenas beijando, ela afastou-se indo sentar ao meu lado.

— Quero te mostrar uma coisa. — Seu sorriso notando o quanto me deixou desnorteada era tão atrevido que eu queria ainda mais ir para cima dela para satisfazer o desejo de meu corpo.

Amanda puxou o notebook para o colo e começou a me mostrar todas as minhas fotos. Era estranho me ver ali, parecia eu, mas ao mesmo tempo era bonita demais. Fiquei tentando me enxergar em mim mesma.

— Isso é tudo você, sua boba! — Bateu o cotovelo em meu braço quando comentei sobre meu pensamento. — Não me venha dizer que é graças a edição, pois consigo enxergar essa mulher maravilhosa bem aqui diante de meus olhos. — Ela segurou meu rosto com uma mão e beijou meus lábios rapidamente. — Um dia irá permitir que eu coloque no site, não é?

— Amanda...

— Não me venha com essa vozinha,  Louise. Por enquanto não vou insistir, ainda quero tirar muitas outras fotos suas. — Ela largou o notebook e voltou para meu colo, sua expressão mudando de repente. — Hoje fui pegar minhas coisas na casa dos Rosenfeld e... — Fez uma pausa que me deixou um tanto curiosa, seu olhar não fixou-se ao meu em nenhum momento enquanto começava a falar sobre aquilo. — Não quero que encontre o Josh novamente.

— O que ele fez? — questionei um tanto preocupada.

— Estava bebendo com o Vicente que não parava de encher a cabeça dele com bobagens. — Ela não parecia estar dizendo tudo. — Tome cuidado, ok?

— O quê mais aconteceu? O quê está me escondendo? — Segurei em seu queixo fazendo com que olhasse em meus olhos. — Seja sincera.

— Antes de sair encontrei Vicente no corredor e ele tentou me beijar a força, Josh chegou no exato momento e foi um completo babaca incitando o amigo. — Senti meu sangue esquentar tamanho ódio percorreu cada canto de meu corpo.

— Você está bem? Ele te machucou? — Olhei ela de cima a baixo.

— Estou bem sim, não foi nada demais, mas as palavras deles, a forma de pensar é tudo tão... nojento. — Amanda ajeitou-se sentando de lado em meu colo e escondeu o rosto em meu pescoço onde depositou um suave beijo me causando um arrepio. — Tenho medo que ele cause problemas a você. — Ela mordiscou minha pele e fechei os olhos apreciando aquela sensação gostosa. Eu queria dizer que também tinha medo, contar o que aconteceu, mas não queria deixá-la mais preocupada. — Quero que venha comigo para Los Angeles.

Fui pega completamente de surpresa por aquelas palavras.

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Comments

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

tô gostando da história a adivogada
sera a ex ?!

2022-09-06

2

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