Capítulo 04

No fim da primeira parte do ensaio Amanda me apresentou a algumas garotas, comentando sobre sua insistência em me incluir naquele projeto e todas me incentivaram a aceitar alimentando ainda mais minha vontade de tentar, mesmo sabendo que o medo e a vergonha entrariam em uma disputa acirrada me torturando, mas naquele momento em que conversava com elas não me preocupei muito com nada, apenas me permiti conhecer um pouco mais sobre aquelas pessoas.

Quem mais gostei de conhecer foi o fotógrafo que chamava-se Gabriel, moreno, com um sorriso lindo. Ele foi tão simpático comigo que entendi perfeitamente como as meninas sentiam-se confortáveis diante das lentes de sua câmera.

Quando voltaram a fotografar Amanda me convidou para tomarmos café, então descemos juntas e apenas quando já caminhávamos pela calçada perguntei para onde iamos, ela apontou para uma cafeteria no fim do quarteirão, que eu ainda não tinha visto e seguimos para lá. Já era quase fim de tarde, o clima estava bom e caminhar um pouco foi agradável.

— Você já veio muito para Weston? — perguntei.

— Algumas vezes. — Paramos diante da faixa de pedestres que ficava já na frente da cafeteria, o sinal abriu para nós e quando coloquei o pé no asfalto senti um puxão em minha cintura e voltei para trás de uma vez, chocando meu corpo contra o de Amanda. Assustada, vi um ciclista imprudente passar rapidamente e suspirei em alívio por ver que foi aquele o motivo do susto. Amanda ainda mantinha suas mãos em minha cintura, seu corpo pequeno estava tão junto ao meu que pude sentir seu coração batendo apressado e afastei-me rapidamente.

— Obrigada. — Sorri sem graça e ela veio para o meu lado com a mão sobre o próprio peito.

— Que susto. — Sorriu e logo depois apontou para o sinal então atravessamos a rua, juntas.

Aquele dia estava sendo mais interessante do que pensei que seria, até mesmo um quase atropelamento por uma bicicleta conseguiu me deixar animada. Eu não imaginava que minha vida estava tão parada ao ponto de uma simples mudança de ambiente me fazer sentir viva.

Entramos no café, que era um lugar pequeno e aconchegante, fizemos nossos pedidos — eu um caramelo machiatto e ela um submarino — escolhemos uma mesa e sentamos, só então falamos sobre o acontecido na rua. Ela riu por ter ficado assustada e eu sorri sem jeito por ter sido desatenta.

— Eu pensei que você seria mais resistente quanto a ser fotografada, não imaginei que aceitaria tão rápido — disse ela enquanto recebiamos nossos pedidos.

— Fui fácil? — brinquei, baixando o olhar para a xícara. — Talvez tenha sido por sentir um pouco de inveja daquelas mulheres.

— Uma inveja boa, que pode te fazer muito bem.

— Por que você acha isso? — Voltei a encarar ela enquanto levava a xícara aos meus lábios.

— Porque desde que comecei esse projeto conheci muitas meninas que eram tímidas, outras até mesmo odiavam o próprio corpo, mas que desejavam uma mudança. Nem sempre nossa mudança precisa ser física. Por que recorrer a cirurgias plásticas se você pode se amar exatamente como é? Você pode ser sexy, poderosa, sentir-se bela sem mudar nada em seu exterior.

Ouvindo ela falar e vendo como parecia segura em suas palavras, eu conseguia entender porquê aceitei facilmente.

— Acredito, por isso quero tentar. — Amanda sorriu inclinando sobre a mesa, levando a mão em direção ao meu rosto, passou o polegar por meu lábio superior e fiquei completamente sem graça ao perceber que ela limpava algum resquício de chantilly.

— Você verá que é maior do que imagina... — De alguma forma ela me prendeu em seu olhar naquele momento. — Que não precisa se submeter a nada apenas para alimentar o capricho de ninguém, porque você é dona de si mesma e de seu destino.

— Foi por causa do que ouviu de Kathe que me propôs participar do projeto? — Ela negou com a cabeça.

— Na verdade foi porque chamou minha atenção desde que coloquei os olhos em você. — Arqueei as sobrancelhas e ela sorriu. — Eu vejo quando uma mulher precisa passar por minhas mãos... Digo, em relação ao projeto.

Fiquei estranhamente sem jeito e o silêncio se instalou de repente. Ambas tomamos nossos cafés e eu queria dizer alguma coisa. Percebi que gostava de conversar com ela, eu estava apreciando cada vez mais sua companhia e não era sempre que parava para ter conversas com outras pessoas além de meus amigos e Josh. Minha vida girava em torno deles, eu nem lembrava que era possível ter assunto com outras pessoas.

Quando lembrei de algo que ficou em minha mente durante aquela manhã, fiquei em dúvida se devia perguntar. Não era de minha conta, mas se ela perguntou aquilo a mim, por que não fazer o mesmo? Talvez porque era estranho de perguntar e eu não tinha porquê saber a resposta. E se por acaso for um sim? Se ela vai para cama com mulheres, é de minha conta? Claramente não.

— Sobre o que estávamos falando ontem... — comecei a falar enquanto fazia círculos na borda da xícara. — O benefício da dúvida... — Só então levantei o olhar e vi ela rir, parei de falar sentindo meu rosto esquentar de vergonha.

— Você quer saber se já transei com mulheres? — Se possível minhas bochechas esquentaram ainda mais. — Antes me deixa te perguntar uma coisa. — Confirmei. — Você não é mais nenhuma adolescente e pelo que ouvi, seu relacionamento com Josh tem três anos, no entanto ele foi seu primeiro e único. Por quê?

— Eu não sei dizer, apenas... Aconteceu assim. Nunca conheci ninguém que despertasse meu interesse até chegar naquele ponto e quando comecei a namorar Josh percebi que ele era um pouco insistente, mas como nos dávamos tão bem acabei cedendo. — Amanda ficou em silêncio, apenas me olhando e franzi o cenho.

— Você já se ouviu falando isso? — Fiquei ainda mais confusa. — Transou com seu namorado não por amor, mas devido a insistência dele.

— Na época sim, mas depois os sentimentos vieram e nunca me arrependi. — Dei de ombros. — Agora é sua vez.

— Sim, eu já transei e transo com mulheres — disse ela de forma despreocupada, pegando o celular no bolso do short. — Tenho que voltar. Você vem comigo, ou nos vemos amanhã?

Sequer percebi que já era noite, lá fora as luzes estavam acesas e eu ainda sob efeito das palavras dela. Não deveria estar surpresa, afinal era a Amanda e não precisava conhecê-la a meses ou anos, bastava olhar para ela, que era tudo o que eu, ou qualquer outra mulher que conheço jamais seria. E jamais quis ser como alguém feito ela, tão fora dos padrões que cresci acreditando serem os certos.

Naquele momento me recriminei por ter desejado entrar cada vez mais em seu mundo, logo eu que passei toda a vida em uma bolha e mesmo durante a faculdade, quando me deparei com diversos tipos de pessoas, não sai de minha zona de conforto.

— Te envio mensagem — falei levantando da cadeira. — Obrigada pelo café. — Sai tão rápido que apenas quando cheguei na calçada percebi que parecia uma fugitiva.

Peguei um táxi e segui para casa pensativa. Por que eu estava fugindo? Amanda não cometeu nenhum erro ou crime. Desde o início eu sabia que eramos completamente diferentes, não era como se fôssemos nos tornar amigas e todos saberiam sobre aquilo. Sim, podemos continuar nos encontrando por causa do projeto. Isso não tem nada a ver com a sexualidade dela, não é?

Quando cheguei em casa Milena estava a minha espera e fomos para meu quarto enquanto ela me contava sobre ter visto Logan com outra. Ela não estava decepcionada, não era algo que tivesse muita importância desde que os dois apenas saiam de vez em quando, mas minha amiga precisava desabafar.

— Terra chamando Louise! — Bateu em minha perna e eu que estava encostada na cabeceira da cama, pisquei algumas vezes tentando voltar o foco para ela, mas minha cabeça estava longe. — Aconteceu alguma coisa? Você brigou com o Josh? Está meio distante.

— Não aconteceu nada. — Tentei disfarçar e ela estreitou os olhos. — Estou falando sério.

Milena não era do tipo que me pressionava, pois sabia que mais cedo ou mais tarde sempre contava tudo para ela, mas daquela vez eu teria que guardar para mim. Eu conhecia seus limites de aceitação e se por acaso contasse sobre Amanda e sobre ter aceitado fazer aquelas tais fotos, minha amiga iria surtar e me aconselharia a manter distância.

Jantamos juntas em minha casa mesmo, meus pais deixaram um bilhete com a empregada comunicando que fizeram uma viagem juntos. Era incrível como eles conseguiam brigar em um dia e resolver tudo com uma viajem no fim de semana.

Fui para a cama assim que Milena foi embora e quando deitei peguei o celular onde vi ter uma mensagem de Amanda perguntando se eu estava dormindo e respondi que não.

Você saiu rápido demais hoje cedo e a princípio não entendi muito bem, mas agora pensando melhor... Tem algum problema eu ser lésbica? 10:33

Senti um certo desconforto ao ler aquilo. A princípio eu ainda queria acreditar que ela era bissexual, mas ler com todas as letras que de fato Amanda se relacionava apenas com mulheres, me fez sentir um pouco estranha. Por mais que não quisesse, o preconceito estava alí, me fazendo hesitar em responder e continuar a encontrá-la. Tudo o que eu conseguia pensar era no que as pessoas diriam se soubessem. Falei para mim mesma que não era como se estivessemos nos relacionando de forma errada, até porque eu jamais faria tal coisa.

É algo que eu não esperava. Desculpa ter saído daquela forma. 10:51

Eu entendo. Desde que conheci Jason sei um pouco sobre o mundo de onde ele veio, ao qual você pertence, mas não desista do projeto, faça por você. Quem eu sou e com quem me relaciono não tem nada a ver. 10:52

Não vou desistir. 10:52

Então nos vemos amanhã no mesmo lugar, as 8pm. Boa noite! 10:53

Amanda? Acho melhor não nos vermos hoje. 00:30

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Comments

sua crush? ~ ♀️🔞

sua crush? ~ ♀️🔞

É O AMORRRRRR QUE MEXE COM MINHA CABEÇA E ME DEIXA ASSIM~ MUIE c já tá coisada pela a mulher kkkk nossa

2023-01-09

1

sua crush? ~ ♀️🔞

sua crush? ~ ♀️🔞

nossa, lindas palavras ♥️ isso incentiva muitas outras garotas que estão lendo, incentiva a se sentir melhor com o seu próprio corpo sabe... n sei se me entendeu bem rs

2023-01-09

1

Ju Sato

Ju Sato

Uhum sei, passa pelas mãos!

2022-10-24

1

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