Capítulo 16

Sabrina

O nome que tanto girou em minha mente no dia anterior, pareceu ter ganho rosto e um belo sorriso enquanto ela esticava a mão para me cumprimentar. Precisei de alguns segundos para absorver todas aquelas informações, desde o fato dela ser a mulher que pediu meu número no barzinho, ter o mesmo nome que a ex de Amanda e sobre a repentina separação de meus pais.

— Acredito que já nos conhecemos. — A voz dela me fez despertar de meu breve momento de transe. Observei que usava um robe azul escuro, frouxo o suficiente para deixar o decote ousado ao ponto de quase mostrar os seios que mesmo sem sutiã estavam bem firmes. Talvez eu tenha olhado demais, o suficiente para concluir que ela tinha silicone.

— Isso é ótimo, Sabrina passará uns dias aqui em casa. — Encarei mamãe que tinha um aspecto de cansada enquanto voltava a focar no café da manhã.

— Espero não atrapalhar. — Sabrina voltou a sentar, mas permaneci de pé.

— De forma alguma. — Passei os olho pela mesa enquanto me decidia entre sentar ou sair logo dali para pensar um pouco.  — Eu... Preciso ir agora.

— Filha, não seja mal educada.

— Tudo bem, Laura — disse a advogada com um sorriso, tocando a mão de minha mãe sobre a mesa.  — Tenho alguns assuntos para resolver pela manhã — Ela voltou a me olhar. — Importa-se de me dar uma carona?

— E-eu fico no centro...

— Exatamente meu destino. — Sabrina levantou rapidamente. — Me dá um minutinho.

Ela se foi e suspirei me apoiando na cadeira. Minha idéia de fugir daquela situação foi por água abaixo. Impaciente, abri a bolsa onde procurei o celular, mas não o encontrei. Saí da cozinha e subi rapidamente para meu quarto onde encontrei o aparelho sobre a escrivaninha, estava desligado desde sexta a noite e uma enxurrada de mensagens chegou de uma só vez fazendo-o vibrar loucamente. Vi que haviam algumas mensagens de Milena, mas a maioria eram de Josh, então apenas joguei o aparelho dentro da bolsa e passando pelo corredor meus olhos foram para a porta do quarto de minha mãe que estava entreaberta, lá estava Sabrina se trocando de costas para mim. Parei no mesmo momento, não entendendo a razão dela estar alí e menos ainda o fato de ser tão ousada ao se trocar sem se importar que alguém a visse. Desci, voltando para a sala de jantar no intuito de questionar mamãe sobre o motivo da hóspede estar em seu quarto, mas quando meus olhos caíram sobre ela espetando pedaços de morango com um garfo enquanto mantinha os olhos fixos na mesa, acabei desistindo.

— Fez o certo, case-se somente com alguém que ame. — Ela não desviou os olhos da mesa ou parou de espetar as frutas.

— O que aconteceu exatamente? — Puxei a cadeira e sentei. — Não é a primeira vez que fala sobre divórcio, mas sempre uma viagem resolveu as coisas.

— Vá trabalhar, depois conversamos sobre isso. — Ela finalmente me olhou forçando um sorriso.

— Podemos ir! — Sabrina surgiu na porta da sala usando uma saia escura um pouco acima dos joelhos, bem justa em suas curvas e blusa de alças na cor preta. Os cabelos cacheados presos em um coque bem feito, com fios caindo pelo rosto e nos pés um salto que deixava ela tão alta quanto já era.

Saímos enquanto tentava me manter focada apenas no percurso, desejando que minha acompanhante não iniciasse nenhum tipo de conversa. Minha cabeça já estava cheia de coisas para pensar e as mensagens de Josh ocupavam grande parte de minha mente. Meu maior medo era que ele me procurasse, pois não estava preparada para encará-lo e ter mais uma conversa.

Sabrina pareceu ouvir meus pensamentos e durante grande parte do percurso realmente não disse uma palavra e isso estranhamente passou a me incomodar. Comecei a ficar mais consciente da presença da mulher ao meu lado que não parava de digitar algo no celular, até que em determinado momento notei ela olhar através da janela, em seguida para mim.

— Tem um salão de beleza naquela rua, não é mesmo? — Diminui a velocidade enquanto observava na direção pontada e confirmei. — Deixe-me naquele sinal.

Apenas confirmei novamente e então parei no acostamento. Ela jogou o aparelho celular na bolsa, em seguida voltou-se para mim, sua pele era tão lisa — mesmo sem maquiagem — que chegava a ser um insulto.

Ela tinha um certo ar de superioridade, mas não de forma ruim. Parecia uma mulher muito inteligente com um olhar intimidador.

Os lábios naturalmente carnudo se curvaram em um sorriso sem mostrar os dentes, em seguida abriu a porta logo saindo, mas quando fechou a mesma deu duas batidas no vidro então o baixei.

— Tem planos para hoje a noite? — Pisquei algumas vezes desviando o olhar para através do retrovisor me perguntando se ela estaria dando encima de mim novamente.

— Não — respondi voltando a fita-la.

— Conhece o  Mallardi's? — Pensei por um momento e ao lembrar que tratava-se de um restaurante confirmei.  — Encontre-me lá ás sete. Preciso conversar com você sobre algo. — Ela afastou-se e me deu as costas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Não que fosse dizer algo, estava surpresa demais para formular alguma frase.

Pensei que teria uma manhã de trabalho normal, mas foi completamente o oposto disso. Além de Sabrina e seu convite, que mais pareceu uma intimação, rondando minha mente, também teve as ligações de Josh que não poderia ser mais inconveniente em meu horário de trabalho. Mais alguns problemas com a direção e aquela mãe metida a besta que havia me tirado do sério na semana anterior. Fiquei tão estressada que acabei me alterando mais que o normal e praticamente gritei com a mulher de nariz empinado.

— Louise, você não pode falar com os pais das crianças daquela forma — reclamou ao fim da reunião Jessica, a coordenadora. — Não estou te reconhecendo.

— O que eu não posso é ficar aguentando desaforos de alguém que está claramente errada. — Juntei meu material usando uma força desnecessária.

— Você não pode...

— Ensine o filho dela em meu lugar durante um semestre e depois conversamos. — Coloquei a bolsa sobre o ombro e saí da sala.

Meu primeiro destino foi o shopping, onde comprei um celular novo já que o meu estava detonado. Mudei de número e então pude respirar aliviada indo ao encontro de Milena  que foi a primeira pessoa que entrei em contato. Fomos almoçar em um restaurante perto da escola como de costume, assim pudemos colocar os assuntos em dia.

Eu nem sabia por onde começar, foram tantos acontecimentos desde minha conversa com Josh, a ida para Miami e a separação de meus pais, que o assunto Sabrina acabou sendo intocado. Eu ainda estava com a pulga atrás da orelha, não sabia se realmente era a mesma Sabrina e não queria Milena me pilhando ainda mais.

— Você vai chamar a polícia se esse crápula encostar um dedo sequer em seu corpinho, entendeu? — Milena tomou um gole do suco e bufou. — Ele é claramente um desequilibrado. — Suspirei mexendo a comida em meu prato parecendo minha mãe naquela manhã. — E quanto a Amanda?

— Ela tem os próprios problemas. — Dei de ombros tentando demonstrar indiferença, mas ao imaginar que o problema de Amanda poderia estar sob o mesmo teto que eu, sentia até um arrepio.

— Pensei que estivesse certa sobre o que tinham.

— Estou certa do que sinto... — Milena bateu o guardanapo sobre a mesa me assustando e encarei ela que me recriminou com o olhar.

— Como assim? Essa garota não pretende te assumir? — Arregalei os olhos e ela me fuzilou com o próprio olhar.

— Não seja radical. Desde quando em seu mundo as pessoas se envolvem no intuito de namorar? Você é prova viva de que é possível viver apenas pegando caras por aí, então por que não posso fazer o mesmo com garotas? — Nem eu mesma acreditava em minhas próprias palavras.

— Porque você é você. — Ri tomando meu vinho. — A quem você está querendo enganar?

— Está tudo muito recente, não é o momento de focarmos no assunto relacionamento, ok? — Tentei mudar o rumo da conversa. — E quanto ao Jason?

...***...

Quando cheguei mamãe estava sentada no sofá da sala arrumada como se fosse a uma festa, tomando champanhe e ouvindo música erudita. Ela pausou a música apenas para pedir que eu não contasse sobre o divórcio para minha tia e prima que haviam passado alguns dias fora, mas que voltariam naquela noite para continuar os preparativos do casamento que eu nem lembrava acontecer naquele fim de semana. Não era como se eu conversasse muito com elas.

Me tranquei no quarto tentando abafar o som que vinha da sala e enviei uma mensagem para Amanda dando meu novo número. Esperei ansiosamente que ela respondesse, mas demorou horas.

Passei a tarde mergulhada em trabalho e estudos, mas depois de ler a mensagem onde não continha nada que demonstrasse algum sinal de que ela sentiu minha falta, apenas a afirmação que tinha voltado para Weston, não consegui mais me concentrar em nada. Pensei em marcar algo, porém lembrei do convite de Sabrina e decidi me conter.

Saí de casa sentindo um frio no estômago. Eu não havia visto Sabrina, provavelmente passou o dia fora. Quando cheguei ao restaurante verifiquei as horas e confirmei que ainda não era sete. Saí do veículo decidida a esperar lá dentro, isso se ela não tivesse se antecipado também, mas no momento em que fechei a porta senti um forte puxão em meu braço. Assustada, encarei Josh que tinha a raiva explícita no olhar e tentei me desvencilhar de sua mão, mas foi inútil.

— Finalmente te encontrei — disse me puxando para perto.

— Você me seguiu? — Olhei ao redor e o estacionamento estava vazio.

— Não teria feito isso caso você retornasse minhas mensagens. Está brincando de gato e rato comigo, Louise?

— Josh, acabou e... — Gemi ao senti-lo apertar um pouco mais.

— Solte ela. Agora. — A voz autoritária de Sabrina chamou nossa atenção e Josh virou me dando visão da imponente mulher que o encarava como se estivesse prestes a lhe dar um soco.

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