Capítulo 08

A semana começou agitada na escola, devido ao aniversário de uma das crianças que a mãe fez questão de comemorar lá, junto aos colegas. E o que devia ter tomado apenas o tempo do intervalo, se prolongou por todo o resto da manhã, mas não foi tão ruim assim. Meus alunos quando não estão em sala fazendo atividades, são uns amores e acaba sendo divertido entrar em suas brincadeiras. Minhas colegas de profissão costumam dizer que serei uma boa mãe, não sei se apenas devido ao fato delas serem um bando de mal humoradas que não conseguem cativar as crianças, ou eu realmente levo jeito de uma forma mais materna.

O fato é que, nunca me imaginei sendo mãe.

Durante a tarde tive que ouvir sobre o encontro de Milena no domingo, novamente com Richard no mesmo bar e por incrível que pareça Amanda também estava lá, mas dessa vez não com Jason e sim com a tal garota de cabelos curtos.

— Você tinha que ver, a garota tocava a mão da Amanda, colocava o cabelo dela atrás da orelha e eu já estava esperando ver um beijo lésbico alí, diante de meus olhos — dizia Milena.

Tomei um gole de meu café enquanto tentava não demonstrar o quanto estava incomodada ouvindo tudo aquilo. 

Amanda tem sentimentos pela ex? Por que isso me incomoda tanto? Eu não queria me importar, mas minha mente insistia em imaginar a cena, imagina-la recebendo os carinhos da outra, sorrindo e permitindo ser beijada. Céus, como isso me incomoda. Chega a ser torturante.

— Definitivamente elas tem alguma coisa — continuou minha amiga.

Eu sabia que ela estava falando sobre aquilo com uma certa animação por ter começado a acreditar que não havia nada entre Amanda e Jason.

— E quanto ao Richard? — Tentei mudar de assunto antes que aquele sentimento ruim chegasse a me consumir por completa ao ponto de me enlouquecer.

— Dei um fora nele e... — Vi um sorriso tímido em seus lábios. — Jason me enviou uma mensagem as três da madrugada. Ele com certeza estava bêbado e você sabe o quanto eu amo ser lembrada por um homem bêbado. — Me segurei para não revirar os olhos.

— Vai com calma amiga, deixa esses pés bem fixos no chão, ok? — Vi ela confirmar sem tirar o sorriso do rosto.

— Vamos nos encontrar amanhã. E pode deixar que eu já confirmei com ele...

Tentei permanecer alí, mas meus pensamentos foram para o meu encontro com Amanda que também seria no dia seguinte. O que ela queria? Confirmar que eu ainda faria as fotos? Eu já nem tinha mais certeza se conseguiria encontrá-la.

Meu interior estava uma completa confusão. As perguntas que martelavam em minha mente eram: quem eu sou, afinal? Por que Amanda não sai de meus pensamentos e a vontade de fazer tudo diferente teima em me deixar confusa? 

Parte de mim queria seguir minha vida por aquele caminho confortável e aparentemente certo, mas a outra parte queria sair dos trilhos e não ser a Louise "certinha" que todos diziam ao menos uma vez, para saber se aquela confusão saia de mim. Eu queria e precisava me descobrir.

— ... Você já escolheu sua roupa? — Minha mente voltou ao presente e Milena tinha o cenho franzido enquanto esperava uma resposta para algo que eu não fazia a menor idéia do que era. — Aí está você, no mundo da lua! — Meus olhos passearam por seu rosto, olhos, nariz, bochechas, queixo e lábios pintados de vermelho, carnudos e atraentes como eu jamais havia notando antes.

— R-roupa para quê? — Vi ela revirar os olhos e levantar da cadeira, indo em direção a cafeteira que ficava no aparador em um canto de sua sala.

Milena tem um corpo bonito e invejável. Ela usava uma blusa de seda branca por dentro da saia de cintura alta colada nos quadris avantajados.

Eu nunca reparei, nunca parei para pensar sobre aquilo, mas ao fazê-lo percebi que me atraía o corpo, os detalhes e a delicadeza feminina. Percebi que sim, teria coragem de beijar uma mulher estando sóbria. Eu conseguia imaginar o deslizar de minhas mãos por cada parte daquele corpo e em minha cabeça era tão natural como se fosse com alguém do sexo oposto, mas no minuto seguinte me perguntava o quê estava acontecendo comigo e achava aquilo uma loucura.

— Para o aniversário de casamento dos seus sogros, daqui a algumas semanas. — Observei ela encher a caneca com café e em seguida apoiou a mão no móvel enquanto me olhava. — Quando você vai me dizer o que está acontecendo que tem te deixado assim? É o seu noivado? O Josh?

Baixei a cabeça procurando uma forma de dizer algo, mas sem dizer tudo.

— Não sei mais se... O amo.

— Amiga, isso deve ser uma crise devido ao fato de estarem oficialmente noivos. Deve ser passageiro — disse ela voltando para a mesa onde sentou na ponta, me encarando. — Ou você está pensando em terminar?

— Estou dividida, muito confusa e com medo de fazer algo errado. Estou com medo de machucá-lo, me machucar...

— Seja sincera comigo, você está interessada em alguém, não é? Algo me diz que sim, não adianta dizer que não, eu sou sua amiga e vi que tem algo diferente em você faz alguns dias.

— C-claro que não. — Levantei rapidamente. — Você está vendo coisas. Agora preciso ir. — Ignorei seu olhar desconfiado e saí da sala.

Eu jamais imaginei que um dia começaria a questionar minha sexualidade e que isso mudaria completamente minha forma de ver o mundo ao meu redor. Parecia que eu estava grande parte do tempo observando as mulheres à minha volta, analisando o que me atraía nelas e me questionando se um dia chegaria a saber como seria me envolver com uma. Mas o pior era que minha mente sempre alertava que tinha uma delas que eu mais desejava.

Quando parava pra pensar sobre Amanda ser lésbica me parecia uma vantagem, mas logo em seguida lembrava de sua aparente falta de interesse e logo tinha certeza de que morreria na dúvida com aquele desejo trancafiado dentro de mim.

Devo terminar com o Josh? Desistir de tudo o que vivemos e de nossos planos futuros por aquele desejo, uma coisa tão incerta? Amanda teria me beijado caso não fosse noiva? E quanto a ex dela? E quanto a mim, era desejo? Fetiche? Curiosidade? Coisa passageira? Eu ia enlouquecer!

Quando a terça a noite chegou parecia que tinha uma pedra de gelo em meu estômago, minhas mãos e o corpo todo estavam trêmulos apenas por saber que ia encontrá-la.

Pensei em desistir umas trinta vezes, mas lá estava eu sentada no pub que ela mandou o endereço por mensagem. Olhei no relógio do celular em minhas mãos algumas várias vezes até que ela finalmente surgisse em meu campo de visão, usando uma calça jeans de lavagem clara, nos pés sapatos de salto e uma blusa que deixava os ombros divinamente tatuados a mostra. Desviei o olhar enquanto ela se aproximava até sentar á minha frente, colocando uma pequena sacola na cadeira ao lado.

— Desculpa a demora. — Sorriu e acenou para a moça que atendia as mesas. Parecia ofegante, como se tivesse subido até alí, no segundo andar, correndo.

— Tudo bem, cheguei faz pouco tempo. — Exatos dez minutos, que pareceram uma eternidade.

Pela primeira vez dei um gole na bebida que tinha pedido e estava quente, mas não me importei, precisava me distrair, pois a presença dela estava me deixando cada vez mais nervosa.

A garçonete aproximou-se com uma caneca de chope. E como imaginei, as duas já se conheciam, ela já sabia exatamente o que Amanda ia pedir, mas não trocaram muitas palavras.

— Você conhece muita gente aqui — comentei sem olhar diretamente para ela.

— Vivi aqui durante dois anos. — Meu olhar encontrou o dela e eu queria perguntar se foi durante esse tempo que namorou aquela garota. — Mas prefiro Los Angeles. — Sorriu levando o copo aos lábios.

— E as garotas de lá? — Baixei a cabeça observando o copo entre minhas mãos, mordendo meu lábio inferior tentando reprimir a vontade que estava de fixar o olhar em sua boca e demonstrar o quanto queria beijá-la.

— Nunca fiz uma comparação... Mas as daqui são lindas, olhe só você. — Sorri observando-a pegar a sacola na cadeira. — Hoje fiz um trabalho com uma amiga e isso me lembrou você.

Franzi o cenho pegando a sacola que abri um pouco e vi que era uma lingerie. Não contive o sorriso tímido olhando ao redor, me certificando de que não tinha muita gente nas mesas alí perto, logo depois retirei as peças para olhar melhor, vendo que era um conjunto com cinta liga que me deixou tão vermelha quanto sua cor.

— Quero que use na próxima vez. — Arregalei os olhos.

— Mas você disse que na próxima chamaria outras garotas. — Eu sentia um frio na barriga apenas por me imaginar vestindo aquilo diante de outras pessoas.

— O que tem de mal? Você vai ficar incrível.

— Não vou conseguir... — Eu não queria outras pessoas por perto, queria apenas ela. — Posso vestir apenas para você?

— Sim, mas... Você precisa perder a vergonha aos poucos, vamos chamar ao menos duas meninas. — Pensei um pouco enquanto tentava me imaginar usando aquilo, mas o que veio em mente foi Amanda e o quanto ela ficaria sexy.

— Tudo bem — falei sem muita segurança, guardando tudo de volta na sacola.

— Ótimo! Que tal nesse fim de semana?

Enquanto o olhar, o sorriso e até mesmo o som da voz de Amanda me atraía, eu não via nem sombra de interesse da parte dela. Queria saber o quê se passava por sua cabeça, como ela me via e se eu não era nenhum pouco interessante aos seus olhos.

É por causa de sua ex? O Josh? Eu não faço seu tipo? Não tenho nenhuma chance? 

Ah, o Josh! Lembrar dele me fazia limpar a mente e agradecer por Amanda não demonstrar interesse. Talvez seja melhor assim.

Ouvi sobre o trabalho dela com a amiga que lançou aquela linha de lingerie. E também contei um pouco sobre como foi o início de minha semana na escola. Bebemos pouco, ela logo demonstrou cansaço então pedimos a conta.

Saimos juntas para a noite que estava um tanto fria. E como nossos destinos eram próximos chamamos um único Uber. Enquanto esperávamos eu desejava que demorasse um pouco mais, pois não queria sair da presença de Amanda, não queria entrar em minha casa, deitar, dormir e acordar novamente pensando nela, pensando no fato de não ter nenhuma desculpa para vê-la antes do fim de semana.

— Sobre o sábado...

— Não temos que falar sobre isso, Louise. — Ela me cortou e não escondi o quão incomodada fiquei. — Eu entendi, você estava bêbada. Vamos apenas esquecer.

— Mas não foi apenas porque eu estava bêbada. — Ela nada disse.

Ficamos nos olhando em silêncio e eu estava tão nervosa que sentia minhas pernas um pouco bambas. Era a incerteza, o medo, a ansiedade, tudo misturado, me fazendo sentir fraca diante daquela mulher.

— Vamos fingir que foi. — Ela indicou que o carro tinha chegado e já ia sair, mas segurei em seu braço a impedindo.

— Eu não posso Amanda, não posso mais fingir.

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